A execução de três cristãos indonésios desencadeou distúrbios violentos na ilha indonésia de Sulawesi (Celebes), onde edifícios governamentais foram incendiados e cerca de duas centenas de presos libertados. A condenação dos cristãos ficou a dever-se ao seu envolvimento num massacre que vitimou 200 muçulmanos em 2001.
Fabianus Tibo, Marianus Riwu e Dominggus Silva foram executados em Palu, capital da província de Sulawesi Central, onde o apertado aparato de segurança evitou incidentes graves. Mas em Atambua e na área de Poso milhares de cristãos semearam o caos, envolvendo-se em confrontos com a Polícia e destruindo viaturas e edifícios. Em Atambua foi queimada a casa do procurador e uma prisão foi invadida, permitindo a fuga a pelo menos 200 presos. Em Poso – palco de confrontos frequentes entre cristãos e muçulmanos – os manifestantes barraram ruas com pneus incendiados e apedrejaram as forças de segurança, ferindo pelo menos um polícia.
“Estamos preocupados com isto, mas as pessoas não entenderam bem a situação. Não se trata de uma questão religiosa ou étnica, mas simplesmente de um caso legal”, explicou o vice-presidente da Indonésia, Jusuf Kalla.
A observação aludia ao massacre de 2001, no qual participaram os três condenados, que o Tribunal considerou estarem entre os líderes da multidão que atacou uma escola islâmica na província de Sulawesi Central.
APELOS IGNORADOS
As execuções estavam programadas para Agosto mas foram adiadas depois de apelos do Papa Bento XVI e de manifestações repetidas de milhares de indonésios. A este coro de protesto uniram-se organizações de defesa dos direitos humanos e organizações internacionais.
Reagindo ao facto consumado, a União Europeia (UE) emitiu ontem um comunicado no qual manifesta “desapontamento” pelo facto de as execuções terem sido levadas a cabo “apesar dos numerosos alertas” enviados às autoridades indonésias. A UE sublinhou ainda que considera a pena de morte “uma punição cruel e desumana”.
GUERRA RELIGIOSA
As ilhas Sulawesi são desde há muito palco de confrontos violentos entre as comunidades cristã e muçulmana. Entre 1998 e 2001, esta guerra religiosa vitimou cerca de 2000 pessoas antes de finalmente ser alcançado um entendimento entre as partes. Apesar da trégua, têm acontecido actos de violência esporádicos, como o assalto à escola islâmica pelo qual foram considerados responsáveis os cristãos agora executados.
Apesar de a Indonésia ser esmagadoramente muçulmana – cerca de 85% dos seus 220 milhões de habitantes são islâmicos – há províncias do Leste do país onde a proporção de muçulmanos e cristãos é quase igual. Em Sulawesi são uma minoria com números significativos, representando cerca de 19% da população total.
VIOLÊNCIA RELIGIOSA
– Antigamente conhecida por Celebes, Sulawesi é a quarta maior ilha da Indonésia.
– 80 por cento dos habitantes da ilha de Sulawesi são muçulmanos, enquanto 17 por cento são cristãos.
– Em Dezembro de 1998, uma disputa religiosa gerou um violento conflito sectário que se arrasta há vários anos e o qual já causou mais de mil mortos.
Fonte: Correio da Manhã