O vice-presidente da República, general Hamilton Mourão (PRTB) está na mira das lideranças evangélicas, incluindo os parlamentares que compõem a bancada no Congresso, parte significativa da base de apoio do presidente Jair Bolsonaro (PSL). As queixas se dão no âmbito de temas como o aborto e a mudança da embaixada brasileira em Israel para Jerusalém.
O ponto de ebulição entre os líderes evangélicos se deu após a fatídica entrevista de Mourão ao jornal O Globo, quando ele se colocou em posição oposta a Bolsonaro em relação ao aborto. O vice declarou que a decisão sobre a interrupção da gravidez é uma escolha exclusiva da mulher, permitindo a interpretação de que apoia mudanças na legislação atual, descriminalizando a prática.
“Vamos cobrar [do presidente] o cumprimento daquilo que foi tratado. Se o Mourão está a serviço de algum grupo de interesse contrário a que isso aconteça, tenho convicção que ele perdeu essa queda de braço. Mourão é um poeta calado. Sempre que abre a boca cria um problema para o governo”, disse o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ), principal porta-voz da bancada evangélica, ao comentar as declarações do vice sobre a embaixada em Jerusalém e a questão do aborto.
Mourão ocupou a presidência da República interinamente enquanto Bolsonaro era submetido à cirurgia de retirada da bolsa de colostomia. Nesse ínterim, o vice-presidente recebeu o embaixador da Palestina no Brasil, Ibrahim Alzeben, e defendeu a manutenção da embaixada em Tel Aviv, contrariando manifestações anteriores do próprio Bolsonaro que foram feitas em tom de promessa de campanha.
De acordo com informações do Estadão Conteúdo, Sóstenes Cavalcante enfatizou que a bancada evangélica irá pressionar o Planalto se houver sinalização de mudança de discurso da parte de Bolsonaro sobre a embaixada. “Esse foi um compromisso de campanha do presidente da República com nosso seguimento. Nós não pedimos muitas coisas a ele, mas essa foi uma delas”, afirmou o parlamentar.
Quanto ao aborto, o padrinho político de Sóstenes, pastor Silas Malafaia afirmou que o vice-presidente está se precipitando: “Por que o Mourão, sabendo das bandeiras do Bolsonaro, não se manifestou antes da eleição? É uma coisa feia esconder suas convicções. Faltou protocolo e ética no exercício da função dele. Mourão está fazendo campanha para 2022, mas a ala conservadora não vota nele nunca”, avisou.
A pressão contra Mourão, no entanto, não deve se restringir aos nomes mais conhecidos da bancada evangélica, segundo sinalizou o deputado federal Filipe Barros (PSL-PR): “Quando o Bolsonaro se recuperar, nós vamos marcar uma audiência com ele. A ideia é levar uma carta deixando claro nossa insatisfação. Hoje, o Mourão é uma instituição e deveria guardar as opiniões para ela”.
A princípio, a pressão feita sobre o vice parece estar dando resultado, já que segundo o Estadão, Mourão procurou aconselhamento sobre como se proteger das críticas, e foi aconselhado a adotar “posicionamentos sutis que denotem fidelidade” ao presidente.