Chapéu de cangaceiro, blusa quadriculada, triângulo e uma boa sanfona são apenas alguns dos elementos que agitam a música evangélica do norte-nordeste. Nas igrejas dessa região, músico cabra-macho mesmo é aquele que serve a Deus de verdade e não perde a batida do bom e costumeiro forró. Bandas como Cabras de Cristo e Sal da Terra são referências do som que a cada dia cresce e atinge a capital das grandes metrópoles.
Quem conta a história dos Cabras de Cristo é o pastor e vocalista da banda Kleber Queirós que, durante um retiro de carnaval em Natal (RN), juntou os músicos que ali estavam para um momento de adoração em ritmo nordestino. Assim, o som agradou e aos poucos os convites foram surgindo os convites, solidificando o trabalho do grupo. “Primeiramente a banda nasceu no coração de Deus porque a idéia não veio pronta. As pessoas gostaram e a confirmação veio no centenário da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil, no Ibirapuera (SP), onde 15 mil pessoas compareceram”, conta Kleber.
O grupo grupo já vai para o tercerio ano com o lançamento do segundo CD Ô’Xente Sou Crente, após o sucesso do primeiro trabalho Deus Também é Nordestino. As músicas, segundo o pastor Kleber, resgatam a temática da vida do nordestino, suas dificuldades e a importância da fé em Cristo Jesus.
Com um pouco mais de experiência – oito anos de carreira ministerial – a banda Sal da Terra movimenta os arredores de Garanhuns, em Pernambuco. Apesar de seis CDs lançados, a paixão da banda continua direcionada às pequenas localidades do sertão, onde menos de 1% da população é evangélica. “Queremos fortalecer igrejas, evangelizar o homem sertanejo”, explica Marcos Fernandes, um dos fundadores.
Sem medo de repreensões, Fernandes admite que muitas músicas do Sal da Terra foram elaboradas tendo como referência as obras de Luiz Gonzaga, conhecido como o Rei do Baião. Até Carolina – personagem de uma das músicas de Gonzaga – se converteu pelo trabalho dos forrozeiros evangélicos. “Meu camarada, tu não sabes da novidade: a Carolina, tão perdida, se converteu!”, diz um trecho da música A Conversão de Carolina.
Em Deus Também é Nordestino, dos Cabras de Cristo, a letra exalta a cultura do sertão e ressalta que também se adora com o som do sertanejo. “No retinir do triângulo Ele vê adoração, por isso Deus não rejeita, xote, xaxado, baião”. Mesmo na certeza de que é possível ter momentos genuínos de louvor com os ritmos brasileiros, algumas igrejas rejeitam a cultura nacional, o que, para Kleber Querós, é fruto de uma questão histórica.
“Eu vejo uma questão histórica da implantação do protestantismo do Brasil porque a gente sabe que eles não trouxeram só o Evangelho, mas muita cultura. [O comportamento da igreja] também é reflexo do que acontece com o secular. A gente sabe que a produção americana é assimilada pelo Brasil sem reflexão, sem filtro. Na igreja também é assim”, conclui.
Cabras de Cristo
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