Os planos de Jair Bolsonaro (PSL) de mudar a embaixada do Brasil em Israel para Jerusalém vêm sendo alvo de inúmeras tentativas de intimidação, e a mais nova é o resgate de uma resolução que torna nulos os efeitos da Lei Básica de Jerusalém, votada pelo Parlamento Israelense em 1980.
A resolução em questão é ligada ao Conselho de Segurança das Nações Unidas e tem o número 478, votada também em 1980. O Brasil foi signatário da medida à época, e na prática, o texto declara a negação ao reconhecimento de Jerusalém como capital israelense.
Na mesma resolução, a ONU pede que os países membros da organização retirem suas representações da cidade. De fato, até a mudança definida e colocada em prática pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, quase todas as embaixadas das nações que mantém relação diplomática com Israel ficavam todas em Tel-Aviv.
Posteriormente à mudança da embaixada dos EUA para Jerusalém, a Guatemala seguiu o exemplo e também mudou sua representação para a cidade, de acordo com a Folha de S. Paulo.
Intimidações
Antes de a resolução da ONU ser “lembrada” pela grande mídia, houve uma pressão dos países da Liga Árabe no começo deste mês, numa carta enviada ao presidente eleito. A missiva dizia que a transferência da embaixada do Brasil em Israel para Jerusalém poderia prejudicar as relações com os países árabes.
Logo em seguida, um vídeo começou a circular nas redes sociais com um muçulmano brasileiro que se apresentava como representante do presidente do PSL (partido de Bolsonaro) com uma mensagem que seria tranquilizadora à comunidade islâmica no Brasil, com compromisso de tornar os anos do presidente eleito à frente do Planalto os melhores para esse grupo.
“A mensagem que eu tenho pra passar pra vocês é que as relações do Oriente Médio com o Brasil só têm a melhorar […] A nossa bandeira é a bandeira da Arábia Saudita e enquanto nós acreditarmos que essa é a nossa bandeira Deus estará sempre nos guiando para o melhor caminho que tiver… nós estamos muito muito bem com a presidência que vem, as relações só tendem a crescer…”, diz o homem, em português.
A ONG Ecoando a Voz dos Mártires repercutiu o vídeo lembrando que o suposto representante do presidente do PSL não reconhece a soberania do país sobre a comunidade muçulmana que aqui vive, e que é preciso cobrar os parlamentares brasileiros, assim como o governo em geral, para os riscos inerentes.
“Num país em que a maioria esmagadora dos parlamentares desconhece preceitos básicos do Islã fundamentalista, é bom informar que o representante muçulmano que afirma já haver um alinhamento do governo com o Oriente Médio salienta a mensagem principal: a bandeira desses brasileiros muçulmanos não é a brasileira e sim, a bandeira da Arábia Saudita, um país teocrático sanguinário que exporta a doutrina que fundamenta o terror para o mundo inteiro. Como bem afirmou tacitamente esse senhor, os muçulmanos fundamentalistas não se curvam a governo algum… submissão eles só devem ao Islã”, diz a ONG em sua página no Facebook.
Jerusalém indivisível
Recentemente, outros dois países reconheceram a porção ocidental de Jerusalém como capital israelense. No entanto, a medida representa uma iniciativa que visa minar os esforços de Israel em impor sua soberania no assunto junto à comunidade internacional.
Rússia e Austrália divulgaram posicionamentos sobre a cidade, dizendo que reconheciam Jerusalém ocidental como capital de Israel e que esperam, no futuro, que a parte oriental da cidade seja a capital do Estado palestino, se um dia a ONU estabelecê-lo.
A reação do governo israelense à adesão da Austrália ao posicionamento da Rússia sobre Jerusalém foi comentada pelo ministro da Cooperação Regional de Israel, Tzachi Hanegbi: “A Austrália é um amigo profundo e próximo de muitos anos de Israel. Ficamos felizes em saber que ela [a Austrália] tem interesse em clarificar seu reconhecimento de Jerusalém como a capital de Israel. Mas, para nossa tristeza, junto com essa notícia positiva eles cometeram um erro”, disse.
“Não há nenhuma divisão entre o leste e o oeste da cidade. Jerusalém é um todo, unida. O controle de Israel sobre ela [a cidade] é eterno”, continuou. “Austrália encontre uma maneira de corrigir o erro que cometeu”, acrescentou Hanegbi, de acordo com informações do portal Sputnik.