Conhecido no meio evangélico, através das mídias sociais, por fazer críticas agressivas contra a tradição pentecostal, o pastor Marcos Granconato, de 58 anos, líder da Igreja Batista Redenção, em São Paulo, virou alvo de indignação e críticas ao fazer uma afirmação polêmica sobre mendigos.
Em sua página no Facebook, o pastor disse que “a maioria dos mendigos tem o dever bíblico de passar fome, pois Paulo diz aos Tessalonicenses: ‘Se alguém não trabalha, que também não coma'”.
Após a publicação, vários internautas criticaram a declaração, fazendo com que ela virasse matéria em grandes jornais do país, como nos portais G1, Metrópoles e O Globo, todos destacando o texto e o perfil do pastor Granconato de forma polemizada.
A base teológica usada pelo pastor foi a passagem de 2 Tessalonicenses 3:10-12, onde está escrito o seguinte:
“Porque, quando ainda estávamos convosco, vos mandamos isto, que, se alguém não quiser trabalhar, não coma também. Porquanto ouvimos que alguns entre vós andam desordenadamente, não trabalhando, antes fazendo coisas vãs. A esses tais, porém, mandamos, e exortamos por nosso Senhor Jesus Cristo, que, trabalhando com sossego, comam o seu próprio pão.”
“Estou sendo linchado”
Com a repercussão negativa, o pastor Granconato afirmou que passou a ser vítima de um linchamento moral. “As pessoas estão me difamando, estou sendo linchado. Estou até um pouco assustado, com medo. As pessoas fazem até certas ameaças, isso me preocupa”, disse ele ao Metrópoles.
O líder religioso buscou explicar a sua colocação sobre os mendigos, esclarecendo o contexto bíblico da sua postagem. Segundo Granconato, a sua publicação não foi em relação aos necessitados em geral, e sim sobre os que escolhem viver da mendicância, mesmo tendo condições de trabalhar e obter o próprio sustento.
O pastor batista publicou, minutos atrás, uma nota de esclarecimento em sua rede social, contextualizando a sua declaração a partir da perspectiva bíblica. Leia a íntegra, abaixo:
ESCLARECIMENTO
Em face da polêmica que meu post sobre os mendigos causou nas redes sociais, tenho o seguinte a esclarecer:
Diferente do que foi publicado em “O Globo”, não sou um pastor liberal. Muito pelo contrário. Sou conservador e, como conservador, minha consciência é regida pelas Sagradas Escrituras, às quais me apego, inclusive, como regra de vida.
Nessas Santas Escrituras somos ensinados a socorrer todos os pobres e necessitados e eu defendo, estimulo e promovo isso, estando, inclusive, diretamente envolvido nesse tipo de socorro.
Ocorre, porém, que a Bíblia tem um conceito de pobre que abrange, a rigor, quatro grupos de pessoas, a saber:
1. Os que trabalham, mas seus proventos não são suficientes para o seu sustento e da sua família.
2. Os mendigos que estão nessa condição por motivo de doença. A Bíblia fala de mendigos aleijados, cegos, leprosos, etc., todos dignos de socorro.
3. As vítimas de tragédias naturais, como a fome que sobreveio a todo o mundo nos dias do Imperador Cláudio. À época, as igrejas se mobilizaram para socorrer os mais afetados por essa calamidade.
4. Os perseguidos e encarcerados por causa da fé. Essas pessoas são mencionadas em Mateus 24 e 25 e Jesus as chama de “pequeninos irmãos”, dizendo ainda que quem as socorre, na verdade, é como se socorresse a ele próprio.
Todas essas pessoas precisam de ajuda e não podemos poupar esforços para prover-lhes o alimento e outras formas de socorro.
Por outro lado, ao escrever aos Tessalonicenses, Paulo se depara com outro grupo: um grupo de pessoas que, por pensar que a volta de Cristo estava próxima, tinham parado de trabalhar, passando a viver às custas dos outros. Paulo as classifica como “os que vivem desordenadamente”.
Eram pessoas saudáveis, jovens e capazes que, simplesmente, decidiram viver no ócio aproveitando-se de uma desculpa aparentemente justa (Cristo está voltando). A essas pessoas, o Apóstolo aplica um princípio perene: “Você não quer trabalhar, então também não deve comer”.
Isso seria assumir as consequências do estilo de vida que a pessoa mesma escolheu para si e não existe maldade nenhuma em recusar ajuda a indivíduos assim. Pelo contrário, dar comida a essas pessoas seria premiar, incentivar e promover o ócio, o que é pecado.
Quando caminho pelas ruas das grandes cidades e quando atendo pedintes na porta da minha casa ou da igreja, vejo que a maioria deles não se encaixa em nenhum dos quatro grupos elencados acima.
Geralmente são pessoas jovens, fortes, inteligentes, saudáveis e capazes que, ao que parece, simplesmente optaram pela mendicância por considerar esse modo de vida, livre de trabalhos e responsabilidades, mais adequado aos seus interesses.
Não são os pobres que a Bíblia defende. Em vez disso, são “os que andam desordenadamente” que Paulo tanto censura. A essas pessoas não devemos ajuda alguma.
Quero destacar, assim, que reconheço o dever santo e cristão de ajudar os pobres (e muitos moradores de rua se encaixam no conceito bíblico de “pobre”). Porém, tenho também o dever santo, cristão e bíblico de não incentivar o ócio.
Espero ter esclarecido, pelo menos, a questão principal.
Abraço fraterno,
Pr. Marcos Granconato