O silêncio das igrejas a respeito do sexo tem prejudicado os jovens, que sem diálogo franco nas comunidades, acabam buscando informações e experiências em outras fontes. Essa é a opinião do pastor John Mark Comer, autor do livro Loveology (“Amorologia”, em tradução livre).
John é líder de uma megaigreja com 6 mil membros em Portland, no estado norte-americano do Oregon, casado e pai de três filhos. Sua preocupação com o tema nasceu de uma característica de sua congregação e fatores culturais.
“Eu lidero uma igreja na qual de 60 a 70% da congregação é formada por solteiros, de vinte e poucos anos ou trinta e poucos anos e, por isso, obviamente, esta é uma das questões com as quais eles estão tendo dúvidas – sua sexualidade. O abismo entre o que lêem nas Escrituras e a propaganda de cultura em geral. Isso é obviamente um enorme estímulo”, disse o pastor ao Christian Today.
Para John Mark Comer, a omissão da igreja sobre o assunto abre espaço para que os fiéis assimilem valores, princípios e “verdades” da cultura secular: “Descobri que há uma tal divisão entre o que a cultura/sociedade em geral pensa sobre casamento, sexualidade e tudo relacionado a isto, e o que as Escrituras e Jesus têm a dizer sobre o casamento e a sexualidade”, observa o pastor, que acrescenta: “Infelizmente, a cultura em geral faz um trabalho fantástico de pregar seu ponto de vista, mas a Igreja tem abordado muito pouco estes assuntos. E então eu acho que é algo sobre o que temos que nos posicionar”.
O pastor ressalta que o trabalho feito pela igreja não é ruim, apesar de ser insuficiente e precisar de adaptações para a nova realidade do século XXI: “O que a Igreja tem feito é um ótimo trabalho em se falando de como ter um ótimo casamento, mas este livro não fala sobre isso. Não se trata de casamento, mas sim de algo que deve acontecer só no casamento. É um livro de teologia, por isso é como você pensa sobre o casamento e a sexualidade e todas as outras coisas em torno dessas duas questões. Não é um livro de relacionamento, e é escrito principalmente para pessoas solteiras – embora haja coisas boas eu espero que as pessoas casadas o leiam também. Eu quero ajudar a moldar a visão de mundo da minha geração sobre o casamento e a sexualidade em torno das Escrituras e os ensinamentos de Jesus, dando uma visão subversiva dessas duas coisas em contraste com a propaganda da cultura no momento”.
O fato de a igreja criar tabus em torno do sexo, segundo o pastor John, vai contra o que a Bíblia diz sobre o tema, e gera preconceitos em quem ouve tais doutrinas.
“Acho que duas coisas acontecem: a igreja não fala sobre sexo nada que vá além do ‘não pratique antes do casamento’, o que cria um clima negativo em torno da sexualidade, em particular. A mensagem subliminar é a ideia de que o sexo é sujo, o que é muito prejudicial. As Escrituras têm uma visão tão elevada da sexualidade… Em Gênesis, o sexo é criado por Deus e é chamado de ‘muito bom’. Uma das primeiras coisas que lemos sobre Adão e sua esposa é que eles estavam nus e não havia nenhuma vergonha. Temos o livro Cantares de Salomão , que há séculos foi ‘alegorizado’ e hiper-espiritualizado e explicado, mas eu acredito muito que [seu conteúdo] era um antigo poema de amor judaico sobre a sexualidade entre marido e mulher. O próprio Deus tem uma visão tão elevada sobre o sexo que ele criou, e por isso, quando a Igreja não se junta a Deus para dizer o mesmo que ele está dizendo, a mensagem subliminar é que fica: uma coisa má, suja. Obviamente, não podemos permitir isso. Precisamos ter uma bela imagem da sexualidade”, propõe o pastor.
Em sua conclusão, John Mark Comer ressalta que, enquanto a igreja silencia, as pessoas são bombardeadas pela mídia em geral com mensagens que, em graus diferentes, insinuam e sugerem sexo e sensualidade, o tempo todo.
“A segunda caricatura da igreja é que apesar de ela não falar sobre sexo, a cultura o faz. E então as nossas mentes acabam cheias da grande visão da sobre a sexualidade, que é um tanto diferente – muito narcisista, indulgente, com base em desejos e anseios – e é isso que é importado em nossa visão de mundo, em vez das Escrituras e os ensinamentos de Jesus. Eu acho que é algo sobre o qual a igreja tem de falar ou vamos acabar com a visão de mundo, distorcida, ou uma visão negativa (pecado) sobre algo que Deus tem uma visão positiva”, alertou.
Por Tiago Chagas, para o Gospel+