A pesquisa “Moral e Ética: Quais os Valores que Norteiam os Brasileiros” mostrou que a população do país é mais tolerante à corrupção do que aos atos de blasfêmia.
O levantamento, inédito, mostra que a postura do brasileiro em relação à corrupção é de tolerância, mesmo em tempos de esclarecimento sobre os escândalos envolvendo empresas estatais, políticos com mandato e funcionários públicos.
Já em relação à reverência a Deus, o país de população predominantemente cristã tem uma postura diferente.
Com 400 entrevistados pela empresa Flyfrog, o levantamento mostrou que a maioria das pessoas considera 10 vezes mais grave blasfemar contra Deus do que comprar uma mercadoria roubada.
A mesma medida de comparação foi usada para um caso de aborto, que na visão dos brasileiros, é amplamente mais grave do que pagar suborno ou votar em um corrupto para um mandato. Estes ainda disseram que um divórcio é muito pior que furar a fila.
Essa forma de raciocinar, relativizando delitos conforme a gravidade de suas consequências, talvez seja resultado de uma cultura cultivada a partir de uma doutrinação que prega um Deus punitivo contra aqueles que se rebelem contra Ele, mas compassivo com os “erros menores”.
O sociólogo que idealizou e liderou a pesquisa, Rodrigo Toni, afirmou ao jornal O Estado de S. Paulo que o trabalho tinha como objetivo jogar luz sobre o comportamento atual do brasileiro sobre os escândalos de corrupção: “Queria tentar entender se as atitudes dos brasileiros no dia a dia condizem com essa briga generalizada que se vê contra a corrupção e crimes de colarinho branco. Em outras palavras, se as pessoas de fato praticam aquilo que cobram das autoridades”, disse.
O resultado parece ter explicitado a hipocrisia do brasileiro, já que, em alguns casos, a corrupção não figura nem entre as 10 principais atitudes reprováveis na visão popular. Na Região Norte, por exemplo, dentre 34 situações condenáveis, a corrupção só alcançou o 18º lugar. Na região vizinha, Nordeste, ela aparece na 14º posição. Já na região mais rica do país, Sudeste, as vantagens ilegais e indevidas ocupam a oitava posição, e no Sul, a sétima.
Quando os dados da pesquisa são analisados por nível de escolaridade, os brasileiros com Ensino Superior se mostram menos tolerantes em relação à corrupção. A percepção de gravidade é 57% maior do que os que não possuem diploma de graduação.