Kaká construiu uma carreira que é indissociável de sua figura humana: cristão, fiel a Deus e convicto de suas escolhas. Agora, aposentado das quatro linhas, o ex-jogador disse que faria tudo de novo, mas em alguns casos optaria por mais discrição em relação à mídia.
Seu começo de carreira foi marcado por sua habilidade e demonstração de potencial, mas também por ter afirmado que, sendo evangélico, só perderia a virgindade no casamento. Aos 23 anos, quando já era campeão do mundo com a Seleção Brasileira, se casou com Carol Celico.
Mesmo com uma carreira bem-sucedida, era criticado por parte da torcida e imprensa, que ecoavam rótulos como “virgem”, “amarelão”, “crente”, entre outros. “Essas piadas nunca me incomodaram porque realmente era minha convicção. Em nenhum momento isso foi um peso. Falei numa boa. E foi até os 23 anos, até quando eu casei. Não teve nenhum problema”, disse em entrevista ao Uol.
“Agora, se você perguntar: faria de novo? Acho que eu não falaria sobre o assunto. Teria feito do mesmo jeito, não precisaria dessa exposição. Com a experiência que tenho hoje, não teria aberto essa área tão privada da minha vida. Teria me preservado um pouquinho mais”, acrescentou Kaká.
Ciente de que exerceu um papel de influência sobre uma geração inteira – que mais tarde veria o surgimento de movimentos como Eu Escolhi Esperar, que prega a virgindade até o casamento -, Kaká agora prefere que as pessoas olhem para quem ele segue.
“Eu acho que é muito legal ser exemplo e referência, mas é muito importante, também, que cada um tenha sua convicção pessoal. Sinceramente, não acho que o cara vai chegar com a namorada e lembrar de mim na hora. Prefiro pregar a minha convicção em relação a Jesus do que falar para ele fazer ou não fazer”, enfatizou.
Questionado sobre suas comemorações de gols, apontando para os céus, Kaká observou que era um simples gesto de gratidão. A certa altura de sua carreira, suas afirmações públicas sobre sua fé em Jesus foram alvo de críticas do jornalista ateu e militante de esquerda Juca Kfouri. “Nunca falei que Deus fez gol para mim. Sempre levantei a mão e agradeci pelo momento que estava vivendo. É um agradecimento”, resumiu, minimizando o episódio.
“Eu não podia ser na frente das câmeras o Kaká jogador de futebol e, longe dela, o Ricardo cristão. Os valores eram os mesmos”, pontuou, garantindo que não mudaria seu jeito de ser por conta de influências externas.
Renascer
Em 2007, Kaká foi eleito o melhor jogador do mundo, sendo o último brasileiro a alcançar o feito. Desde então, Cristiano Ronaldo e Lionel Messi vem se alternando nas premiações, estabelecendo uma polarização inédita.
Nos anos seguintes à conquista do prêmio, as críticas a Kaká se intensificaram por ser fiel de uma denominação neopentecostal que era cercada de polêmicas, como o desabamento do templo sede, em São Paulo, e a prisão dos fundadores nos Estados Unidos.
Em 2010, no entanto, Kaká e sua então esposa, Carol Celico – que ocupava posição de liderança na igreja à época – decidiram deixar a denominação. “Expliquei meus motivos ao apóstolo e à bispa. Eles entenderam e a relação continua ótima. Tinha chegado meu limite com a instituição. Deixou de ser a ‘igreja do Kaká’ e voltou a ser o que deveria: a Igreja Renascer em Cristo’”.
Casamento
A separação de Carol Celico foi um dos momentos mais complicados da vida pessoal do jogador, cercado de boatos e especulações. “Foi um dos momentos mais difíceis da minha vida. Estava passando por um momento difícil, saída do Real Madrid para o Milan, e entrada no processo de divórcio”.
“O único ponto ruim em relação ao divórcio é quando entra [a especulação sobre] traição, que mexe com valores e caráter. Sempre será desmentido, porque em nenhum momento houve traição. De nenhuma das duas partes. Foi uma escolha pessoal, de um momento. Aí se respeita aquele momento”, explicou.
O trabalho para proteger os filhos dos rumores veiculados pela mídia é uma tarefa que ele e Carol dividem até hoje: “O problema é que hoje cria histórico. Se for atrás, pesquisar, vai sair um monte de notícia. Conforme eles [filhos] foram tendo entendimento maior, a gente foi falando para eles: ‘tudo que ler ou tiver dúvidas, perguntem para o papai ou para a mamãe, que a gente vai explicar para vocês’. Com relação ao divórcio, vai chegar a hora em que eles vão entrar em questionamentos mais profundos. Aí será a hora de, realmente, falar o que aconteceu”.
Agora, Kaká tem olhado para o futuro, e sem estipular prazos, pensa na união com sua atual namorada, Carol Dias, também evangélica: “Tenho minha base de valores e acredito no casamento, por mais que vá contra a correnteza da sociedade. É uma das coisas mais legais que tem na vida. Eu sou completamente a favor do casamento. Estamos namorando, mas vamos ver para quando vai. Não tem data, não estou noivo. Gosto muito de criança, vou deixar essa aí. Gosto muito de criança e vamos ver”, finalizou.