Conhecida como “monte sagrado” por fiéis de várias religiões, uma área de proteção ambiental em Cidade Tiradentes (zona leste da capital) está isolada por expor frequentadores a um perigoso risco à saúde: mordidas de morcegos. Com isso, mais de 2.000 religiosos que visitam o local estão precisando orar do lado de fora do terreno.
No primeiro trimestre deste ano, pelo menos 35 pessoas já foram mordidas pelos mamíferos noturnos durante cultos religiosos no local, segundo levantamento feito pela Organização Social Santa Marcelina. A entidade gere, em parceria com a prefeitura, a AMA Fazenda do Carmo, unidade próxima à área verde, que é procurada pelas pessoas mordidas pelos morcegos.
O espaço, de propriedade da CDHU (Companhia de Desenvolvimento Habitacional e Urbano do Estado de São Paulo), sempre teve a entrada proibida por ser uma área de preservação ambiental. Os fiéis, entretanto, estouram as grades para fazer os cultos.
Com o registro das mordeduras, a área está com a segurança reforçada, segundo a CDHU. Além da recolocação das grades, seguranças ficam na frente do terreno para impedir que pessoas entrem. A prefeitura colocou faixas nas entradas para alertar sobre o risco de transmissão de raiva pelos morcegos.
A Santa Marcelina informou que nenhuma das 35 pessoas mordidas contraiu raiva. Elas foram medicadas na própria unidade de saúde.
Monte Sinai paulistano
O terreno é considerado especial pelos religiosos por ser um dos poucos montes altos ainda despovoados e com vegetação nativa da cidade. Segundo o frequentador Reginaldo Názaro dos Santos, 33 anos, os montes são locais ideais porque, para orar, Jesus procurava o monte Sinai.
De acordo com Eliete Fernandes, educadora ambiental da Santa Marcelina, há sextas-feiras à noite em que o local chega a receber 4.000 visitantes. “A sexta-feira já é a entrada do final de semana, por isso escolhem esse dia.
O frequentador explicou que os fiéis preferem o horário noturno para orar porque há uma passagem na Bíblia que diz que Deus ama aqueles que o procuram na madrugada.
A maioria dos frequentadores é evangélica, mas seguidores de outras religiões, como umbanda e candomblé, também visitam o monte, segundo relatos de fiéis. Eliete explicou que a área começou a ser degradada entre dez e seis anos atrás. “Além de correrem riscos, os religiosos devastam a área para orar.
Segundo ela, eles vêm de excursões de todo o Estado. “Colocamos as placas hoje a amanhã eles tiram e entram de novo. Estamos organizando reuniões com os pastores da igreja para fazer a conscientização sobre os riscos”, afirmou ela.
De fora
Os frequentadores do “monte” de Cidade Tiradentes estão indignados com a placa colocada pela prefeitura impedindo a entrada no local.
“É uma coisa errada impedir a gente de entrar. Não desmatamos. Subimos no monte para orar”, afirmou a dona de casa Rosângela Santos Lima, 32 anos. Ela afirmou que visita o monte toda sexta-feira há cerca de oito anos e que nunca foi mordida.
Já o cozinheiro Reginaldo Názaro dos Santos afirma que precisa frequentar o “monte” no extremo leste da capital durante 21 dias seguidos para agradecer ao novo emprego que conseguiu.
Ele disse que mora em Itaquera e pega três ônibus para chegar ao local. “Não vou desrespeitar a lei. Vou orar do lado de fora”, afirmou.
Assim como Santos, fiéis evangélicos que chegavam à área na sexta-feira precisaram orar do lado de fora.
Todos afirmam que, apesar de verem os animais, nunca foram mordidos por morcegos. “As pessoas feridas devem ser aquelas que não estão com as obrigações espirituais em dia com Deus”, supõe o ajudante de pedreiro Luciano Santos, 36 anos.
A aposentada Raimunda Agostinho da Silva, 78 anos, que vende doces e refrigerantes em um trailer na saída do monte, disse que já presenciou pessoas mordidas por morcegos. “Uma vez eu vi uma mulher que saiu com a perna sangrando.”
Fonte: Gazeta do Sul e Folha Online / Gospel+
Via: O Verbo