RIO – Ex-vocalista do Raimundos e Rodox, Rodolfo conta que a religião o salvou do vício e de uma doença grave. Segundo ele, no segundo culto da Bola de Neve Church de que participou em sua casa, ele já abolira o cigarro de maconha em respeito às religiosas:
– Uma delas ficou orando com a mão na minha cabeça e depois a colocou na minha barriga. Olhou direto nos meus olhos e disse: “O Senhor Jesus manda te dizer que nessa tarde está te curando de um câncer no estômago”. Ela não sabia nada da minha vida: nem que eu tinha dor no estômago nem que estava emagrecendo e cheio de caroços. Não conhecia o meu histórico familiar de várias pessoas que já tinham morrido de câncer do estômago. Naquela tarde, quando as irmãs se despediram para ir embora, não sentia mais a dor de estômago. Em dois dias, não tinha mais caroço nenhum no corpo. Depois de duas semanas, engordei 19 quilos. Não precisava de exame nenhum para saber o que eu tinha e que eu tinha sido curado.
À aparente cura milagrosa seguiram-se o abandono total da droga e a saída conturbada dos Raimundos. Três anos depois, em 2004, o episódio se repetiria com o término da banda Rodox, que ele criara com a intenção de divulgar o evangelho. Hoje, Rodolfo é acompanhado apenas do baterista Anderson Kuhne, que é de sua igreja, e do baixista Guilherme Horn, seu cunhado. Ainda assim, foi o próprio vocalista quem gravou todos os instrumentos no seu primeiro CD solo, fato que deve se repetir no novo disco que começa a preparar em junho, com previsão de lançamento para setembro.
– Fica mais fácil reproduzir o que vem na minha cabeça quando não há banda. As duas saídas foram meio parecidas. O Rodox foi uma banda que montei para evangelizar. As músicas tentavam passar uma mensagem cristã em meios em que o gospel não entrava, como a MTV e shows de hardcore. A gente era muito diferente e isso começou a ficar cada vez mais nítido. Certas atitudes não condiziam com o que estávamos cantando em cima do palco. Eu queria evangelizar, mas eles não. Naturalmente a gente se separou. Eram objetivos diferentes – limita-se a dizer.
Daquela época, Rodolfo guarda poucas amizades. Uma delas é a do baixista Canisso, que fazia parte da formação original dos Raimundos e viria a integrar o Rodox em 2003. Morando em Brasília, entretanto, os dois dificilmente se encontram. O mesmo não se pode dizer de Pablo, filho de Rodolfo com uma ex-namorada, hoje com 15 anos. De acordo com o músico convertido, eles se vêem freqüentemente:
– Encontro direto com ele. É um grande amigo que tenho. Ele já foi várias vezes para a igreja comigo e tenho a certeza de que ele tem um pai melhor hoje.
Os fãs também ficaram para trás:
– Milhões de fãs que me amavam passaram a me odiar da noite para o dia. Sempre achei uma droga essa coisa de ser ídolo. Não gosto nem de dar autógrafos.
E se, quando saiu dos Raimundos, ele repetia à exaustão a importância da música “Vinte poucos anos”, sucesso de Fábio Júnior regravado pela banda, hoje, aos 30 e poucos anos, Rodolfo se mostra um homem de fases e diz nem se lembrar da canção:
– Nem lembro dessa música, sequer do que ela quer dizer. Essa foi uma fase que passou. Talvez, naquela época, quisesse dizer alguma coisa. Hoje não quer dizer nada.
Fonte: O Globo