O Senado americano deverá votar nesta semana a favor das pesquisas com células-tronco embrionárias – o que repreenta um novo desafio à ameaça de veto presidencial, num momento em que a relação entre a Casa Branca e a maioria parlamentar democrata só faz piorar.
Os senadores devem votar um projeto de lei já aprovado em janeiro pela Câmara de Representantes, que busca suspender as restrições impostas desde o início do governo Bush, em 2001, ao financiamento das pesquisas federais com células-tronco embrionárias. A pesquisa é uma das grandes esperanças para enfrentar doenças degenerativas, mas a oposição de grupos religiosos e conservadores é grande, porque é preciso destruir embriões humanos para obter as células.
No ano passado, o Congresso – que então estava dominado pelo partido republicano do presidente Bush – já havia aprovado um texto deste tipo, que foi vetado pelo chefe de Estado em nome da defesa da vida desde a concepção.
Agora, todos esperam que a história se repita nas próximas semanas ou meses, mas com uma variante: a maioria favorável à pesquisa com células-tronco, um tema que marcou o debate político em alguns lugares durante a campanha das eleições legislativas do ano passado, aumentou, o que reforça a pressão em torno de Bush.
Essa queda-de-braço é uma nova demonstração das tensas relações entre o Congresso e o presidente, já confrontados em torno do tema da guerra no Iraque.
Espera-se atualmente que Bush vete o texto que tenta sujeitar o financiamento das operações militares no Iraque e no Afeganistão a um calendário de retirada das tropas do Iraque que fixe a partida dos soldados americanos no ano que vem.
Menos passional, o debate sobre as células-tronco põe Bush em uma situação incômoda perante vários dirigentes de seu próprio partido, mas em sintonia com a faixa mais conservadora de seu eleitorado cristão.
Um porta-voz presidencial, Tony Fratto, reafirmou em janeiro a posição da Casa Branca, hostil a qualquer projeto de lei que “obrigue a todos os contribuintes americanos a financiarem uma pesquisa baseada na destruição voluntária de embriões humanos para extrair células-tronco”.
Desde agosto de 2001, os pesquisadores que recebem subsídios federais estão proibidos de produzir novas linhagens de células-tronco provenientes de embriões humanos e devem se limitar à exploração de algumas dezenas de linhagens celulares.
Em uma audiência no Senado, há três semanas, o diretor dos prestigiados Institutos Nacionais de Saúde (NIH), Elias Zerhouni, defendeu fortemente a flexibilização dessa política. “Não vejo como podemos manter nosso impulso na pesquisa com células-tronco com as linhagens atualmente disponível nos NIH”, disse Zerhouni.
“Está claro que a ciência americana e o país se beneficiariam mais se deixássemos que nossos cientistas tivessem acesso a mais linhagens, para que possam fazer estudos com os novos métodos existentes desde 2001”, afirmou.
Mas nada garante que o voto aguardado do Senado leve a uma modificação da política federal: a Câmara de Representantes não pôde reunir o apoio de dois terços dos legisladores, necessário para desabilitar o veto presidencial.
Com G1