O Vaticano ameaçou adotar sanções canônicas contra o bispo paraguaio Fenando Lugo se ele não abandonar seus planos de concorrer à Presidência do país.
O núncio apostólico em Assunção distribuiu nesta terça-feira cópias de uma carta entregue a Lugo na semana passada exigindo que ele desista do plano.
O bispo anunciou na segunda-feira que estava deixando a batina para liderar uma aliança de oposição ao atual presidente, Nicanor Duarte, nas eleições de 2008, e as mais recentes pesquisas de opinião lhe dão ampla vantagem na disputa.
A carta divulgada nesta terça-feira diz que a Santa Sé “tomou conhecimento com surpresa” dos planos de Lugo de concorrer nas eleições presidenciais de maio de 2008.
“O senhor sabe bem que o cânone 285 3 do C.I.C (Catecismo da Igreja Católica) proíbe os clérigos de assumir ofícios públicos que impliquem uma participação no exercício do poder civil, seja exercendo na função legislativa, ejecutiva ou judicial.”
Lugo já disse que o papa Bento 16 pode aceitar a sua decisão ou puni-lo, mas deixou claro que não renunciará às suas ambições políticas.
“Temos que pôr um ponto final e definitivo a esta longa história de exclusão. É necessário devolver ao povo toda a soberania e todo o poder”, disse o ex-bispo que tentará derrotar o Partido Colorado que governa o Paraguai desde 1947.
Polêmica nacional
Políticos governistas foram rápidos em endossar a condenação do Vaticano.
“Lugo vai ter muitas decepções porque exercendo um cargo clerical ele era um líder integrador e agora vai ser um líder sectário que vai gerar várias divisões na República”, disse o senador Silvio Ovelar.
A pré-candidatura do ex-bispo também provocou reações negativas no mundo empresarial.
O representante da União Industrial, Gustavo Volpe, insinuou que Lugo poderia receber ajuda financeira do presidente venezuelano, Hugo Chávez, e advertiu que “a nacionalização é a moda na América Latina e é muito provável que ocorra (num eventual governo de Lugo)”.
Políticos de diferentes partidos de oposição, no entanto, estão se unindo em torno do ex-bispo.
Para o presidente do Congresso e do partido UNACE, senador Enrique González Quintana, a entrada de Lugo na política é “necessária e oportuna”.
BBC Brasil