A polêmica em torno de vídeos publicados no YouTube que mostram pastores orando por pessoas que em tese estão possuídas por espíritos malignos despertou um debate sobre liberdade religiosa.
Há alguns meses, quando um juiz negou um pedido do Ministério Público para retirar do YouTube alguns vídeos que traziam cenas de exorcismo realizados em igrejas pentecostais e neopentecostais, houve grande debate sobre o tema.
Agora a mídia se debruça sobre o assunto e descobre que, na verdade, os casos gravados em vídeo e publicados não são raros, e o que tais vídeos mostram faz parte da rotina de muitas igrejas evangélicas Brasil afora, que dão ênfase a essas questões.
O jornal O Globo produziu uma reportagem sobre o assunto e descreveu o conteúdo encontrado em alguns vídeos: em um deles, o pastor afirma que uma mulher está possuída por um espírito maligno e tem praticado sexo com o diabo; Outro mostra um pastor orando pela libertação de um jovem “que vive no homossexualismo”; entre outros.
Há quem enxergue a questão como ofensa religiosa aos cultos de matriz africana, como umbanda, candomblé e outros. “A internet tem sido usada de forma deliberada. As pessoas acham que a rede é terra de ninguém, então, atualmente, esse é um dos principais meios de disseminação das ofensas”, opina o delegado Henrique Pessoa, designado pela Polícia Civil para acompanhar os casos de intolerância religiosa no Rio de Janeiro.
“Esse tipo de ação tem dificultado muito o trabalho de conter a discriminação. Há sites com insultos [religiosos] hospedados no exterior. E, mesmo quando os vídeos são retirados, pouco tempo depois, outros são colocados no ar”, afirma.
Uma busca no YouTube com os termos candomblé” e “demônio” resulta em aproximadamente 8 mil vídeos, enquanto que os testemunhos dos “Ex-pai de santo” somam mais de 13 mil vídeos no serviço de streaming do Google.
O que é visto como ofensa por alguns representantes das religiões afro é descrito pelo pastor assembleiano Carlos de Oliveira como um exercício da crença de que o Evangelho liberta.
“Vivemos em um país democrático, e o lindo do país democrático é liberdade de religião. Há pessoas que adoram satã. Elas sabem que o diabo sai pra fazer coisas ruins, mas resolvem adorá-lo. Mas nós consideramos que alguns personagens da religião africana não fazem o bem. Se a pessoa quer continuar com aquele ser, tudo bem. Mas, se procura ajuda, a igreja evangélica oferece a porta de libertação. O que não significa que o candomblé não tenha legitimidade de existir”, argumenta Oliveira, que é diretor da Associação dos Pastores e Ministros Evangélicos do Brasil.
Já o Google, que é proprietário do YouTube e parte importante na polêmica, diz que não exerce censura prévia ao conteúdo publicado pelos usuários, e pontua que o papel de aplicar o cumprimento da lei cabe ao Estado: “Não cabe aos responsáveis por plataformas digitais o papel de balancear direitos fundamentais, como liberdade de expressão e liberdade religiosa, para determinar quais conteúdos devem ou não ser removidos. Tal papel é exclusivo do Poder Judiciário. Se houver uma ordem judicial determinando a retirada do conteúdo, o Google irá cumpri-la”, diz uma nota da empresa.