Sônia e Estevam Hernandes, o casal fundador da Igreja Renascer, confessaram nesta sexta-feira, dia 8, serem culpados por contrabando de divisas para os Estados unidos, em audiência realizada em Miami.
O casal Hernandes foi preso no dia 9 de janeiro, quando chegavam aos Estados Unidos, tentando entrar com US$ 56 mil não declarados, sendo US$ 9 mil dentro de uma Bíblia.
Estevam Hernandes e Sonia, por sua vez, queriam distância dos holofotes e de qualquer jornalista. “A imprensa está dizendo um monte de absurdos sobre a gente, disseram que nós íamos sair daqui algemados”, reclamou Sonia. “Disseram em horário nobre que éramos os maiores criminosos da América, veja só”, disse Hernandes, convicto. “Não sei o que aconteceu com a “Globo” que passou a ser injusta com a gente, tínhamos vários amigos lá, inclusive o César Tralli.”
O casal admitiu culpa por dois crimes: conspiração para contrabando de divisas, uma vez que ambos sabiam da irregularidade, e contrabando de divisas propriamente dito.
Pelos delitos, os bispos da Renascer podem pegar uma pena de até 10 anos de prisão, seguidos de deportação para o Brasil. Mas, por terem admitido sua culpa e demonstrado arrependimento, circunstâncias atenuantes, a pena deve ser bastante reduzida pelo juiz.
A legislação norte-americana aceita diversos tipos de acordos, como a promessa de não delinqüir e o serviço comunitário, semelhante ao que foi firmado entre o rabino Henry Sobel, da CIP (Congregação Israelita Paulista), e a Promotoria do condado de West Palm Beach (Flórida). O acordo foi firmado no fim de maio e o rabino prestará de seis meses de serviços comunitários no Brasil.
Sobel foi acusado de furto de gravatas de grife. Ele foi detido em 23 de março após um circuito de vídeo flagrar o furto.
No Tribunal
Durante a audiência com o juiz, Sonia se emocionou e chorou várias vezes. Respondeu com voz trêmula às perguntas de Moreno, um juiz venezuelano que aproveitou para criticar o presidente Hugo Chávez e a falta de liberdade na Venezuela antes do início da sessão. Juro dizer a verdade, garantiu Sonia, levantando a mão direita.
“Qual o seu grau de estudos?”, perguntou o juiz. “Universitário. Sou nutricionista, mas pastora como missão.” A bispa chegou até a falar sobre sua menopausa. “A senhora usou alguma droga, álcool ou remédio que podem interferir em suas respostas ou entendimento?”, outra questão. “Não, uso apenas remédios para vertigem, pressão e um suporte hormonal para a fase de vida que estou passando.”
Seu marido, Hernandes, passou pelo mesmo ritual – “estudei contabilidade, sou pastor e escritor, só faço tratamento para o coração”. Ao final, Sonia abraçou sua advogada, Susan Van Dusen. Hernandes, Sonia, seu filho Felipe (bispo Tide) e a mulher dele saíram apressadamente. Entraram em um PT Cruiser de vidros fumês dirigido por um bispo da Renascer, rumo ao condomínio de Boca Ratón.
Sonia e Estevam vão esperar pela sentença do juiz, que será divulgada no dia 17 de agosto, em liberdade supervisionada. Eles vão continuar em sua mansão, num condomínio fechado em Boca Raton, mas não podem deixar o condado de Miami Beach.
Marcha
“Sim, culpado”, foi o que os dois disseram em português em audiência na Justiça americana. Em troca da confissão, ficam dispensados de ir a julgamento no qual, pela legislação americana, poderiam ser condenados a até dez anos de prisão. O casal se recusou a fazer comentários.
Sonia e Estevam também são acusados pela Justiça brasileira de roubar as doações dos fiéis para uso próprio. Eles são processados por lavagem de dinheiro, fraude e evasão de divisas.
A Igreja Renascer foi fundada em 1986, possui mais de 11.200 templos no Brasil e também tem sedes em Orlando, Deerfield Beach e Boston. O império do casal ainda conta com jornais e rede de televisão e de rádios.
Em prisão domiciliar em Miami, Sônia e Estevam interagiram com o público da Marcha para Jesus, realizada na quinta-feira, 7, em São Paulo. Eles apareceram em telões instalados pela organização da Marcha e, através de uma transmissão via satélite, pediram animação aos participantes.
Os pastores disseram ter ficado emocionados com a participação por videoconferência na Marcha para Jesus, na quinta-feira, na capital paulista. Tinha 3 milhões de pessoas lá certo? “Não, havia 4 milhões de fiéis, é o maior evento religioso da Terra”, corrigiu Hernandes. Fizeram um desagravo para vocês….”Não era para nós, era uma marcha para Deus”, corrigiu, de novo.
Participantes do evento passavam uma lista com um abaixo-assinado pedindo que o casal fosse solto e retornasse ao País. O documento não tem valor jurídico.
Fonte: Estadão / Diário de Cuiabá
Via: O Verbo