Um influente líder evangélico dos Estados Unidos afirmou que se a eleição fosse hoje, não apoiaria Joe Biden (Partido Democrata) para a presidência. Em resposta, outros evangélicos que apoiaram Donald Trump estão criticando a postura arrogante dos irmãos na fé.
O renomado estudioso Richard Mouw, que é presidente emérito do Seminário Fuller e integrante do movimento Evangélicos Pró-Vida Apoiam Biden (em tradução livre do inglês), assinou uma carta expressando decepção com a administração do democrata, mesmo que o governo tenha se iniciado há menos de dois meses.
Mouw afirmou claramente que se a eleição fosse hoje, não teria pedido votos em Biden pois seu governo retirou um dispositivo que impedia o uso de dinheiro dos pagadores de impostos para financiar abortos. O grupo do qual o estudioso faz parte declarou que se sentia “usado e traído”.
Em entrevista ao portal The Christian Post, o líder evangélico relatou que ele e outros integrantes do grupo pró-vida tiveram uma reunião com assessores de Biden um mês antes da eleição e saíram com a impressão de que o então candidato “estava mudando” sua posição sobre o uso de verba pública para o aborto, e que essa sinalização foi encorajadora para que eles definissem seu apoio ao democrata.
“Deixamos claro que ofereceríamos apoio com o entendimento de que eles exortariam a Casa Branca a ter conversas sérias com católicos e evangélicos que são pessoas em defesa do direito à vida. O problema é que não tivemos essas conversas, e deixar a Emenda Hyde fora deste pacote específico, este último pacote COVID, é um sinal de que… realmente… não há espaço para esse tipo de conversa”, admitiu.
O problema
Biden está trabalhando por um pacote econômico para combater os efeitos da crise gerada pela pandemia, e no texto foi inserido uma mudança contra as proteções que existiam para que o uso do dinheiro de impostos não fosse direcionado para financiar clínicas de aborto e outras ações relacionadas.
Mouw e Ronald Sider, outro membro dos Pró-Vida Evangélicos por Biden, serão recebidos por dois assessores do escritório religioso da Casa Branca para tratar de suas preocupações. Diante desse novo fato, ele declarou que se soubesse que Biden faria essa mudança, facilitando o aborto ainda mais, Richard Mouw respondeu que “votaria da mesma forma”, mas admitiu que faria isso em silêncio: “Eu não daria meu apoio público”.
A explicação é que, embora discorde da posição de Biden sobre o aborto, há outras áreas em que ele encontrou pautas em comum com o novo governo, especificamente nas questões de aquecimento global e imigração.
A decisão de não mais pedir votos em Biden se deu depois que o líder evangélico passou a receber “muitas mensagens raivosas de pessoas em defesa do direito à vida”, algumas das quais o chamaram de “ingênuo” devido ao seu apoio a Biden e subsequentes sentimentos de traição.
No entanto, Mouw afirmou que sua preocupação era influenciar jovens que se opõem ao conservadorismo: “Achamos que era importante defender a posição de direito à vida e, ao mesmo tempo, dizer que está tudo bem se preocupar com uma gama mais ampla de questões, como aquecimento global e crianças na fronteira separadas de seus pais e esse tipo de pergunta”, declarou, omitindo o fato de que a lei que separava pais e filhos que cruzavam a fronteira dos Estados Unidos ilegalmente foi aprovada na administração de Barack Obama, outro democrata.
O ‘risco’ Biden
Ele admitiu que estava “menos otimista” sobre a possibilidade de Biden e o Partido Democrata abrissem espaço para o movimento pró-vida no governo, e demonstrou preocupação com o apoio do presidente a outra grande ameaça legislativa: a Lei da Igualdade.
De acordo com Mouw, a legislação coloca “os direitos das instituições cristãs de preservar os compromissos com o ensino bíblico tradicional sobre sexualidade sem serem penalizadas em termos de subsídios federais, empréstimos federais para estudantes” sob risco.
“Muitas faculdades e universidades cristãs dependem bem mais de 50% da renda de suas mensalidades de alunos que recebem empréstimos federais”, acrescentou o presidente emérito do Seminário Fuller.
O estudioso advertiu que tornar “a questão da sexualidade” um requisito primário para “receber alunos com empréstimos federais” seria um “grande golpe” para as escolas religiosas.
Entretanto, a preocupação tardia de Richard Mouw com essas ameaças à liberdade religiosa vem carregada de uma dose de cinismo, já que durante a campanha, Biden prometeu atuar pela aprovação da Lei da Igualdade em seus primeiros 100 dias no cargo, e indicou que trabalhará para regulamentar a decisão judicial de 1973, conhecida como Roe vs Wade, no formato de lei.
Jenna Ellis, que atuou como advogada de Trump, comentou o suposto arrependimento de Mouw dizendo que “os ‘evangélicos’ de Biden estão recebendo exatamente o que votaram [para ter]”.