A adoção é uma oportunidade de vida para milhões de crianças ao redor do mundo. Contudo, algumas práticas são alvos de questionamento. É o que enfrenta a agência cristã para adoção de embriões Snowflakes, uma divisão do grupo Nightlight Christian Adoptions.
Desde que a agência foi fundada, em 1997, pelo menos 100 bebês já nasceram mediante a adoção de embriões doados por voluntários. Neste caso, casais que por algum motivo não conseguem engravidar, recorrem ao Snowflakes para “adotar” o material genético in vitro.
“Nós acreditamos como verdadeiros cristãos, com uma visão de mundo cristã, que a vida começa na concepção”, declarou Kimberly Tyson, vice-presidente do programa de adoção da agência de embriões, ao rebater críticas de natureza bioética.
“E nosso programa está criando uma solução para embriões que estão em armazenamento congelado, que são vidas humanas apenas esperando o ambiente certo para nascer”, argumenta Tyson, segundo o Christian Post.
“Desumanização”
Críticos da agência de adoção de embriões, contudo, acreditam que a organização contraria os princípios bíblicos sobre constituição familiar e favorece a “desumanização” da figura humana, gerada através do relacionamento entre o homem e a mulher.
“A fertilização in vitro trata os seres humanos como se fossem objetos a serem fabricados”, diz Stephanie Gray Connors, ativista pró-vida, autora do livro Conceived by Science: Thinking Carefully and Compassionately about Infertility (“Concebido pela Ciência: Pensando com Cuidado e Compaixão sobre Infertilidade”, em tradução livre do inglês).
Segundo Connors, por mais que a agência cristã trabalhe com o modelo de adoção, a prática estaria contribuindo para a mercantilização da vida humana. Ela fez um comparativo bíblico para defender seu argumento.
“Como Jesus declarou certa vez: ‘Pare de fazer da casa de meu pai um mercado’ (João 2:16), somos todos templos do Espírito Santo e a indústria de fertilização in vitro transformou o corpo humano e a pessoa humana em um mercado”, escreveu.
“Isso leva à desumanização e exploração. Mesmo com a adoção de embriões, embora as intenções possam ser boas, há dilemas morais a serem considerados (…). Justificar a fertilização in vitro com base em poder ‘doar’ crianças… é tratar humanos feitos à imagem de Deus como roupas ou itens de arte que doamos quando não precisamos mais deles”, continuou ela.
“Pelos desígnios de Deus, os seres humanos só deveriam vir a existir através do sexo no casamento, o que significa que o único embrião que deveria entrar no corpo de uma mulher é o seu próprio, criado com ela e as sementes de seu marido, surgindo como fruto de relações sexuais”, argumenta Connors.
Além das questões bioéticas atreladas à adoção de embriões, algumas críticas também dizem respeito ao fato do modelo não priorizar a adoção de crianças já nascidas, que igualmente precisam de acolhimento e proteção, mas que muitas vezes não são adotadas.
Para Tyson, contudo, a agência cristã Snowflakes tem feito um trabalho justo e moralmente correto. “Estamos administrando os dois lados da equação. Estamos atraindo pessoas que querem doar seus embriões para uma família adotiva, e estamos atraindo famílias adotivas que gostariam de dar à luz esses embriões”, conclui.