Um estudo realizado por uma empresa especializada em monitoramento das redes sociais mostrou que entre os cristãos que apoiam o presidente Jair Bolsonaro (PSL), as publicações em geral associam seu mandato a uma empreitada confiada a ele por Deus.
O monitoramento da empresa AP/Exata foi feito em dois momentos: entre os dias 01 de maio e 03 de outubro de 2018, e posteriormente entre 01 de janeiro e 09 de abril de 2019. No período, uma parte das publicações no Twitter citando Bolsonaro faziam referência a Deus, Jesus ou Cristo.
De acordo com informações do jornal O Estado de S. Paulo, um dos exemplos colhidos pela empresa de monitoramento foi a publicação do dia 06 de setembro de 2018, quando uma internauta identificada apenas como Aline usou sua conta no Twitter para expressar sua indignação com a facada sofrida por Bolsonaro em Juiz de Fora (MG): “Você que tá comemorando a facada no Bolsonaro, só digo uma coisa, que Deus perdoe sua alma”, escreveu.
O levantamento da AP/Exata se baseou em 2,287 milhões de publicações no Twitter, todas elas geolocalizados em 145 cidades espalhadas por todos os estados do país. Os dados colhidos mostram que em publicações com o termo Bolsonaro, palavras ligadas à religião sempre estiveram à frente de temas centrais em qualquer campanha eleitoral ou programa de governo, como por exemplo educação, saúde, emprego, previdência ou transporte.
++ Bolsonaro é resposta de oração da Igreja, diz pastor
Os responsáveis pelo estudo acrescentam ainda que, quando se refere ao presidente Bolsonaro, o único assunto que se emparelha com temas religiosos são as menções à preocupação com a segurança, uma das plataformas centrais da candidatura e, agora, do governo.
Além das citações a Deus e Jesus, há também uma grande referência a satanás nos tweets, como mostra uma publicação de 13 de março do usuário Beto Silva: “Satanás e seus asseclas amam a mentira. O problema é que a mentira nunca prevalece sobre a verdade. Resumindo: eles continuarão fracassando e Bolsonaro continuará cavalgando no lombo deles”.
O diretor da empresa responsável pelo estudo, Sergio Denicoli, acredita que os dados mostram uma característica peculiar do governo Bolsonaro: “É um governo fervorosamente cristão e que tem dado à religião um peso grande para desenvolver suas políticas. O governo Bolsonaro é reativo em relação ao que acontece nas redes sociais, é plenamente sensível ao que se passa nelas”, avaliou o especialista.
Após as eleições, o estudo notou que termos religiosos que antes não eram tão usados nas citações a Bolsonaro, como Abraão, crucificação, divino, Gênesis, Jacó, Salmos e satanás, passaram a fazer parte das frases publicadas no Twitter.
“De maneira geral, o aparecimento de ‘satanás’ na lista remete a uma radicalização do discurso, no que diz respeito ao fato de que há uma relação entre o termo ‘Bolsonaro’ e a ideia de que ele é um presidente que luta contra ‘satanás’”, diz Denicoli. O especialista acrescenta ainda que as menções a termos do Antigo Testamento, como “Abraão”, “Gênesis” e “Jacó” são reflexos da aproximação do presidente com Israel e sua viagem ao País. “É no livro de Gênesis que esta a base bíblica que sustenta o apoio dos evangélicos a Israel”, concluiu o diretor da empresa.