Especialista em ciência política, o jornalista André Ítalo Rocha, autor do livro “A Bancada da Bíblia”, falou sobre como os evangélicos têm sido uma força cada vez maior no cenário político nacional, sendo o primeiro grupo religioso a ter uma frente parlamentar no Congresso.
Com cerca de 90 deputados apenas na Câmara (sem contar o Senado), o autor explica que esse número impõe a qualquer governo a necessidade de diálogo com o segmento para que propostas tenham andamento.
“É um número recorde”, diz o autor. “É uma bancada que vem crescendo. Em uma ou outra eleição às vezes cai um pouquinho, mas, de maneira continuada, ela vem crescendo. Como coloquei no livro, houve uma época que os evangélicos não podiam sequer se candidatar, que foi no período colonial”.
Rocha explica que independentemente de quem esteja governando o país, seja direita ou esquerda, “não tem como governar sem ouvir os evangélicos, sem conversar com os evangélicos, sem negociar com os evangélicos. Se quer, eventualmente, aprovar algum projeto, vai ter que conversar com os evangélicos”.
Acenos de interesse
É por essa razão que, segundo Ítalo Rocha, o atual governo Lula vem fazendo acenos para este segmento, como a recente aprovação do Dia Nacional da Música Gospel. Isso, porque, a esquerda sabe que precisa do apoio das igrejas para conseguir implementar seus projetos, especialmente no futuro.
A agenda de costumes, porém, tem sido um grande empecilho para a aproximação da esquerda com os evangélicos, algo que Rocha faz questão de também destacar. Nesse quesito, os católicos também se unem aos protestantes, tendo em vista os pontos comuns entre os dois segmentos.
“Os evangélicos e os católicos, ambos são grupos cristãos, têm a mesma fé em Jesus Cristo, a mesma crença em Deus, o que separa às vezes são as questões específicas de doutrina. Há uma série de diferenças que separa, mas você tem uma série de bandeiras que os une”, disse ele ao Diário do Nordeste.
O autor, por fim, explica que apesar da resistência dos evangélicos e católicos conservadores às pautas da esquerda, os acenos políticos são importantes, mesmo que sejam puramente artificiais, uma vez que visam apenas conquistar apoio para a aprovação de projetos.
“É lógico que [esses acenos ] não vai fazer com que o evangélico se sinta mais atendido pelo governo, mas é claro que esse aceno é importante, de repente, para uma primeira aproximação”, conclui.