O jornalista e doutor em ciência política Bruno Sakamoto questionou em artigo escrito em seu blog no portal Uol o discurso realizado pelo Papa durante um evento feito para diplomatas de 180 países, quando defendeu as famílias baseadas “no casamento entre um homem e uma mulher”, afirmando que “políticas que minam a família ameaçam a dignidade humana, bem como seu futuro”.
Para Sakamoto, “líderes religiosos têm o direito de expressarem as posições de sua crença para os seus fiéis. Mesmo que ele tivesse feito algo totalmente nonsense – como condenar uma pessoa de seu rebanho por dar fim à própria vida devido a um estágio terminal e insuportavelmente doloroso de uma doença (coisa que um humanista nunca faria…) – ele teria o direito a isso. Pois foi eleito para guiar espiritualmente um grupo, independentemente do que esse grupo acredite”.
Porém, o jornalista crítica a postura do Papa ao interferir em assuntos que dizem respeito a pessoas que não o reconhecem como líder: “O problema é quando um líder atua para que outras pessoas, que não o elegeram nem para síndico de prédio, deixem de viver, morrer ou amar como bem quiserem” afirma Bruno Sakamoto.
Em sua comparação entre o pastor Silas Malafaia e o Papa Bento XVI, Sakamoto chega à conclusão de que ambos são iguais: “Qual a diferença entre Bento 16 e Silas Malafaia? Com todo o respeito e sem medo de ser linchado, eu diria que, nesses casos, nenhuma. O polêmico líder da Igreja Vitória em Cristo é conhecido por declarações contundentes na defesa de uma visão conservadora e seus discursos, não raras vezes, confundem liberdade religiosa e de expressão com uma guerra contra a diversidade. Somos mais coniventes com o ex-cardeal Ratzinger por conta do tamanho da Igreja Católica e sua influência na formação da nossa sociedade ocidental, mas o conteúdo contra direitos dos homossexuais está presente nas falas de ambos”.
Sakamoto volta a tecer críticas às influências que líderes espirituais tem sobre os fiéis, afirmando que esses “seguidores de uma pretensa verdade divina taxam o comportamento alheio de pecado e condenam os diferentes a uma vida de inferno aqui na Terra”. O texto ainda faz menção a uma suposta responsabilidade desses líderes sobre os atos extremos de fiéis. “Líderes religiosos dizem que não incitam a violência. Mas não são suas mãos que seguram a faca, o revólver ou a lâmpada fluorescente, mas é a sobreposição (sic) de seus argumentos ao longo do tempo que distorce a visão de mundo dos fiéis e torna o ato de esfaquear, atirar e atacar banais. Ou, melhor dizendo, “necessários”, quase um pedido do céu. São ações como a de Bento 16 e de Silas Malafaia que alimentam lentamente a intolerância, que depois será consumida pelos malucos que fazem o serviço sujo”, conclui.
Fonte: Gospel+