O presidente Jair Bolsonaro (PSL) tem intensificado sua relação com as igrejas evangélicas, frequentando cultos com frequência, enquanto sua relação com a Igreja Católica, da qual é fiel, tem sido marcada por tensões.
A Igreja Católica no Brasil, apesar das visões conservadoras quanto a costumes, tem longo histórico de atuação progressista, muito em decorrência dos problemas enfrentados por bispos durante o Regime Militar.
Nos anos 1970 e 1980, muitos sacerdotes católicos atuaram na difusão da teologia da libertação, uma interpretação politizada da Bíblia Sagrada que serviu a militantes de esquerda como ferramenta de discurso junto à população. Assim, de maneira direta ou indireta, a Igreja Católica no Brasil esteve ligada ao surgimento de alguns dos partidos de esquerda, como o PT.
Desde que venceu as eleições, Bolsonaro tem estreitado os laços com os evangélicos, muito por influência da primeira-dama, Michelle, que é membro da Igreja Batista Atitude, no Rio de Janeiro. A proximidade com pastores como Marco Feliciano (PODE-SP) e Silas Malafaia é outro ponto relevante.
Ao longo de julho, o presidente Bolsonaro compareceu a diversos cultos em Brasília, e no último domingo, 28 de julho, voltou à Comunidade das Nações para o encerramento da Conferência Global 2019, com apresentação da cantora Aline Barros.
Bolsonaro foi ao evento acompanhado da esposa e da ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, pastora Damares Alves.
Tensões
Em fevereiro deste ano, o presidente viu as tensões com a Igreja Católica aumentarem por conta da obtenção de informações relacionadas a um sínodo de bispos em que os sacerdotes brasileiros fariam críticas ao governo.
De acordo com informações da Rádio Gaúcha, o alerta veio da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) e dos comandos militares. Os informes relatam recentes encontros de cardeais brasileiros com o papa Francisco, no Vaticano, para discutir a realização do Sínodo sobre Amazônia, evento que reunirá em Roma, em outubro, bispos de todos os continentes.
Essas informações incomodaram o presidente, que compreende a postura dos sacerdotes como favorável a uma “agenda de esquerda”. “Estamos preocupados e queremos neutralizar isso aí”, disse o ministro chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), Augusto Heleno, que comanda a resposta do governo ao evento.
“Achamos que isso é interferência em assunto interno do Brasil”, acrescentou Heleno. Seus subordinados no GSI avaliaram que os setores da Igreja aliados a movimentos sociais e partidos de esquerda, integrantes do chamado “clero progressista”, pretendem aproveitar o evento em Roma para criticar o governo Bolsonaro e obter impacto internacional.
“Há muito tempo existe influência da Igreja e ONGs na floresta. [O governo] não vai trazer problema. Vai apenas fortalecer a soberania brasileira e impedir que interesses estranhos acabem prevalecendo na Amazônia. A questão vai ser objeto de estudo cuidadoso pelo GSI. Vamos entrar a fundo nisso”, concluiu.
Essa tensão, acompanhada das frequentes visitas a cultos evangélicos feitas pelo presidente Bolsonaro, tem suscitado questionamentos sobre seu distanciamento da Igreja Católica e aproximação com o segmento evangélico.
Na terça-feira da semana passada, 23, quando Bolsonaro esteve em um dos cultos de abertura da Conferência Global 2019, ele declarou que “não há honra maior do que cantar o Hino Nacional juntamente àqueles que têm Deus no coração”, numa referência aos evangélicos, a quem reputou como responsáveis por fornecer “forças para cumprir essa missão que sabemos de quem é”.