Conforme o noticiado pelo GospelMais esta semana, o pastor americano Douglas Wilson teve a sua vinda ao Brasil cancelada pelos organizadores da Consciência Cristã 2024, evento realizado entre os dias 8 e 13 de fevereiro em Campina Grande, na Paraíba. O teólogo, contudo, publicou uma carta endereçada ao Brasil, com o objetivo de explicar as circunstâncias dessa decisão.
O cancelamento da participação do pastor Wilson na Consciência Cristã 2024, ocorreu após o teólogo ser acusado por um tabloide esquerdista de defender a escravidão. A acusação, por sinal, partiu de uma figura já conhecida no meio teológico devido ao seu viés progressista.
“Mencionei há pouco a honra de me tornar um pária, mas isso é mais do que uma escusa descontraída. É realmente uma bênção ser aviltado. É realmente uma honra ser desonrado”, escreve Wilson em sua carta. “Mas isso só é uma honra se as acusações forem falsas, o que, nesse caso, certamente são.”
Apontamentos
Na sequência da sua carta, o pastor Wilson diz que é vítima de um pesadelo “infernal e intolerante” por informações falsas, frutos da falta de verificação de dados já publicados por ele a respeito do tema racismo [do qual também foi acusado] e escravidão. O teólogo indica, por exemplo, fontes do seu próprio site:
“Primeiro, na página inicial do meu blog (dougwils.com), publicada em lugar de destaque — onde até o mais preguiçoso dos jornalistas poderia encontrá-la — tenho uma seção chamada ‘Critical Questions’ [Questões críticas]. A primeira delas é sobre pecados raciais. Se você tirar um momento para ler o que escrevi lá, e isso está lá há anos, verá como as acusações são ridículas”, escreve ele.
E continua: “O segundo ponto é um pouco mais detalhado. Se você acessar meu blog uma segunda vez e olhar a barra de menu superior, encontrará a guia ‘About’ (Sobre). Se você clicar ali, verá algo chamado ‘Controversy Library’ (Biblioteca de controvérsias) no menu suspenso. O segundo item dessa biblioteca é intitulado ‘Eu nego que a escravidão tenha sido um bem positivo’. Nessa seção, há vários links (de anos atrás) que demonstram como essas acusações são falsas.”
O ‘X’ da questão
A fim de resumir para o leitor, os escritos apontados pelo pastor Douglas Wilson, basicamente, sugerem que o teólogo contextualiza a maneira como a Bíblia trata o tema da escravidão à luz do período romano.
Citando passagens como 1 Cor. 7:21-24, Efésios 6:5-6a, Col. 3:22 e Col. 4:1, o pastor explica que o objetivo de Cristo e seus discípulos, como o apóstolo Paulo, não foi produzir uma “revolução” no sistema escravocrata, no sentido de combatê-lo institucionalmente, mas sim de subvertê-lo a partir da maneira como as pessoas se relacionavam.
Fazendo, então, um paralelo com a escravidão mais recente, ele comenta: “Isso significa que era possível para um homem na Carolina do Sul tratar seu escravo exatamente da mesma maneira que Paulo exigia que Filemom tratasse Onésimo. E o cara que estava disposto a fazer isso é o único cara que eu estou disposto a defender e ficar com ele.”
“Os apóstolos foram confrontados com uma circunstância em que escravos e proprietários de escravos eram membros de suas igrejas. Quando confrontados com isso, o que eles disseram a todos para fazer? Como eles lidaram com isso? Este era um problema bastante comum que foi explicitamente abordado em pelo menos sete livros do Novo Testamento”, continua o pastor.
Douglas Wilson sugere que a solução para esse conflito foi subverter o modo como escravos e senhores enxergavam uns aos outros, a fim de produzir neles uma consciência gradual de igualdade, o que eliminaria o sistema escravocrata naturalmente, sem a necessidade de confrontos violentos.
“Essa estratégia apostólica era na verdade um ataque subversivo à instituição da escravidão, um ataque por meio do gradualismo evangélico”, explica Wilson. “É precisamente assim que tenho procurado aplicar essas passagens ao longo de toda essa controvérsia. Creio que faz justiça ao sentido claro das palavras, ao mesmo tempo em que demonstra confiança real no poder e na trajetória do evangelho para transformar cada instituição humana”.
Alerta
Com base nos apontamentos acima, o pastor Douglas Wilson sustenta que jamais defendeu a escravidão e que os seus críticos, na verdade, não sabem definir nem mesmo questões básicas, como o que é “menino” ou “menina”.
“Não dê crédito a declarações difamatórias só porque elas são dirigidas a outra pessoa. Elas nem sempre serão dirigidas a outros. A cultura do cancelamento é uma estratégia que o inimigo desenvolveu e a utiliza com alto grau de eficácia. Mas ela só funciona porque os fiéis reagem com medo, em vez de coragem”, diz ele na carta ao Brasil.
“Minha posição não é a de um defensor da escravidão. Um de meus grandes heróis evangélicos é William Wilberforce, o homem que foi fundamental para acabar com o comércio de escravos no Império Britânico. E ele não fez isso com canhões. Meu argumento nunca foi que a escravidão era necessária, mas sim que a carnificina não era necessária”, conclui. Para ler a íntegra da carta, clique aqui.