A repressão aos cristãos na China tem ocupado manchetes em portais do mundo todo, e a crescente perseguição, com demolição de templos considerados ilegais e prisão de pastores, teve um novo episódio registrado recentemente: uma igreja doméstica, chamada de “subterrânea” e fundada há quarenta anos, foi fechada pelo governo.
O fechamento foi marcado pela truculência, pois mais de 60 oficiais invadiram uma aula de estudo bíblico para crianças na manhã do último sábado, 15 de dezembro, na Igreja Rongguili, na cidade de Guangzhou.
De acordo com o portal South China Morning Post, a congregação era protestante e conhecida como farol da fé no sul do país. Além do fechamento, representantes dos departamentos de Educação e Assuntos Religiosos confiscaram bens da igreja e aproximadamente 4 mil livros.
Documentos de identidade dos membros da igreja, incluindo crianças, foram registrados pela polícia e seus celulares foram apreendidos na mesma operação. A Igreja Rongguili é a terceira a se tornar alvo de uma ação dessas que se tem notícia. Antes, as igrejas Zion, com 1.500 membros, em Pequim; e a Early Child Covenant, com 500 membros, em Chengdu, foram fechadas em setembro e na semana passada, respectivamente.
Até a ação do governo, a Igreja Rongguili atraía até 5 mil fiéis por semana. Fundada em 1978 pelo falecido pastor Samuel Lamb Xiangao, uma das principais figuras do movimento de igrejas domésticas independentes da China nas últimas quatro décadas, a congregação cresceu e se tornou uma referência em sua região, mesmo com a repressão do regime comunista.
Os ataques a igrejas independentes fazem parte de uma repressão mais ampla de igrejas não registradas que Pequim intensificou neste ano, com observadores dizendo que é o pior que já viram nas últimas três décadas.
A campanha foi reforçada por emendas ao Regulamento de Assuntos Religiosos que dá aos funcionários de base mais poder para agir contra as igrejas e impor penalidades mais duras para “reuniões religiosas não autorizadas”.
“Parece que o governo vem alvejando deliberadamente várias igrejas domésticas influentes na China. O que poderia estar por trás de sua ação, neste momento em particular, não sabemos, mas Deus sabe. Que seja feita a vontade de Deus”, comentou um membro da Igreja Zion, em Pequim, em entrevista recente concedida à organização International Christian Concern (ICC).
Gina Goh, gerente regional da ICC, disse que o governo da China tem reprimido as igrejas domésticas e forçado seus membros a fazerem parte de igrejas sancionadas pelo Estado: “Ao fazer isso, os cristãos são submetidos a doutrinação através da ideologia do Partido Comunista da China. Esta é uma clara violação da liberdade religiosa e deve ser condenada pela comunidade internacional”, ponderou.