Um livro escrito por um monge beneditino, que mistura a Bíblia, rituais satânicos e um manual de exorcismo, foi, durante muito tempo envolto em uma série de histórias sobre destruição, guerras e epidemias. Conhecido como “Bíblia do diabo”, o livro foi objeto de desejo de líderes religiosos e imperadores, por onde passou, e agora teve seus segredos analisados por um grupo de cientistas.
De acordo com a lenda, que começa no século XIII, na Boêmia, onde hoje é a República Tcheca, em um mosteiro beneditino, um monge cometeu um pecado tão grande que foi condenado a ser emparedado vivo. Desesperado, ele implora por perdão e promete que em apenas uma noite, vai escrever um livro com todo o conhecimento humano.
A lenda prossegue afirmando que à meia-noite o monge percebeu que não conseguiria escrever o livro e invocou o diabo, com quem acabou por fazer um pacto. Em troca de sua alma, o próprio Satanás, então, escreve o livro.
Com o temor ao diabo sendo tão forte quanto à adoração a Deus durante a Idade Média, lendas macabras como essa acabavam se espalhando facilmente. Para desvendar os mistérios por trás desse livro, um grupo de cientistas se reuniu 800 anos depois, para tentar encontrar respostas para algumas perguntas sobre o Codex Gigas: será que o livro foi mesmo escrito por apenas uma pessoa? Em quanto tempo? Que sombras estranhas são essas que só aparecem nas páginas próximas à ilustração do diabo?
Fazem parte da equipe de estudiosos um especialista em bíblia, um estudioso de escritas medievais e um expert em lendas do diabo, além da responsável pela biblioteca nacional da Suécia, onde o livro está guardado há quatro séculos. Através de técnicas normalmente usadas em perícia policial, eles tentam descobrir a verdade por trás de tudo o que ao longo dos séculos foi considerado coisa do diabo.
Alguns fatos serviram para alimentar a lenda sobre a origem macabra do livro. A obra foi vendida a um monastério em Praga, que utilizava ossos humanos como parte da decoração de sua capela, o que acabou criando uma ideia de terror em torno dela. Ao ser retirado desse monastério, uma epidemia de peste bubônica dizimou todos os monges do lugar. A “Bíblia do diabo” passou ainda por outros locais, e sua passagem sempre foi associada a tragédias e morte.
Apesar das lendas, os estudos apresentaram outras explicações para os mistérios que envolvem o livro.
Sobre as sombras que só aparecem nas páginas próximas à figura do diabo e que, durante séculos, serviram como prova do fogo de Satanás nas escrituras, os cientistas explicam que o “Codex Gigas” foi escrito em pele de jumento, e que tal pele escurece em contato com a luz. Como essas são as páginas mais vistas do livro, justamente por causa da ilustração do diabo, tiveram mais contato com a luz e, por isso, escureceram.
Ao analisar os padrões de escrita, o grupo de estudiosos confirma que a obra foi escrita por apenas uma pessoa, mas não em apenas uma noite. De acordo com eles, trabalhando sem parar, seriam necessários cinco anos para escrever o livro. E estudando a rotina da vida monástica, que inclui várias missas e tarefas, eles concluíram que a obra demorou cerca de 20 anos para ser escrita.
O último mito, sobre a sentença de morte do monge, foi atribuído pelos cientistas a um erro de tradução. Segundo o estudo, a palavra latina que foi traduzida como emparedado, na verdade significava entre paredes, na clausura. O que para um monge significa ficar isolado do resto do mundo e se dedicando exclusivamente a escrever a sua obra.
O estudo concluiu, portanto que a obra, atribuída ao diabo, foi na verdade escrita por um monge ao longo de anos de dedicação.
Fonte: Gospel+