A entrevista concedida pelo bispo Edir Macedo ao jornalista Roberto Cabrini, do SBT, não teve entre seus temas a compra da TV Record pelo líder da Igreja Universal do Reino de Deus, em 1989.
A entrevista de Macedo à emissora concorrente foi um pedido especial de Silvio Santos, proprietário do SBT, que afirmou que gostaria de homenagear o empresário e líder religioso. Cabrini, escolhido para a tarefa, teria sido supervisionado pelo patrão na seleção das perguntas.
A Record, que na época da compra por Edir Macedo pertencia a Silvio Santos e à família Machado de Carvalho – dona da rádio Jovem Pan – foi comprada pelo líder da Igreja Universal ao custo de US$ 45 milhões.
Para o jornalista Lauro Jardim, da revista Veja, o caso continua nebuloso, pois décadas depois, nem as autoridades, nem a imprensa questiona Macedo de forma incisiva sobre o negócio.
“Justiça seja feita, nem Cabrini nem qualquer autoridade do Ministério das Comunicações e da Anatel, responsável pela regulação do setor no Brasil, questionaram até hoje Macedo sobre o tema depois da publicação de Nada a Perder, seu livro de memórias. Na obra escrita por Douglas Tavolaro, vice-presidente de Jornalismo da Record, Macedo conta que o pastor (e posteriormente deputado federal) Laprovita Vieira é quem o representava na elaboração da proposta para Silvio Santos e a família Machado de Carvalho, detentores da emissora na ocasião”, escreveu o jornalista.
Jardim considera que a estratégia de Macedo em usar um representante para a compra da Record foi ilegal, pois o líder da Universal só se apresentou aos proprietários quando já estava pagando a segunda parcela da entrada combinada.
No depoimento a Tavolaro durante as entrevistas para a narrativa do livro “Nada a Perder”, Macedo revelou que não se envolveu no início das conversas para a compra da emissora: “Eu sabia que, se aparecesse logo de imediato, a negociação seria superfaturada ou desfeita possivelmente por preconceito. […] Por isso, seu Vieira comparecia em todas as reuniões com um maço de cigarro à mostra no bolso da camisa. Ninguém desconfiou que era eu quem estava por trás de uma compra tão importante”, disse o bispo, corroborando as declarações feitas há três anos pelo ex-bispo da Universal, Carlos Magno de Miranda, sobre a negociação de compra da Record.
O jornalista Lauro Jardim acredita que há questões a serem esclarecidas: “Sem qualquer preocupação, Macedo admitiu em ‘Nada a Perder’ que usou um testa-de-ferro para negociar a compra da Record – ou seja, um ato completamente irregular na área das concessões públicas”, pontuou.