O crescimento dos evangélicos na região Norte do Brasil tem incomodado a Igreja Católica, que realiza ao longo de outubro o chamado Sínodo da Amazônia. A ideia, não esconde a liderança da denominação romana, é conter o avanço evangélico na área.
Uma das maiores causas identificadas pela Igreja Católica é a falta de padres nos estados que compõem a Amazônia brasileira. De acordo com o instituto Datafolha, o Norte do Brasil é a primeira região onde há empate no número de evangélicos e católicos.
“São 46% do primeiro grupo contra 45% do segundo, um empate técnico entre os dois polos, aponta pesquisa nacional do Datafolha feita no fim de agosto, com margem de erro de seis pontos percentuais, para mais ou para menos. No quadro nacional, aqueles alinhados ao Vaticano minguam a cada ano, mas ainda são 51%, e evangélicos, 32%”, informou a jornalista Anna Virginia Balloussier.
O Sínodo da Amazônia, iniciado no último domingo, 06 de outubro, por si só é uma reação da Igreja Católica à perda de terreno na região Norte do Brasil. Desde 2017, a proposta original do encontro – que terminou se transformando também em palanque político – é encontrar formas de tornar a denominação governada a partir do Vaticano adaptada à realidade dos habitantes dos estados nortistas.
A jornalista da Folha de S. Paulo pontua que há, na Igreja Católica, a compreensão de que “fica difícil marcar presença numa região de áreas remotas que chegam a passar um ano inteiro sem a visita de um padre, sem permitir presbíteros casados ou mulheres diaconisas (função que pode fazer batizados e casamentos, mas não conduzir missas, confissões e unções a enfermos)”.
Em contraponto, a presença evangélica na região – principalmente pentecostal – é marcada pela capacidade de agir rapidamente, adaptada às demandas e realidade locais. Em 1997, o pastor José Wellington Bezerra da Costa, do Ministério do Belém, resumiu essa capacidade à revista Veja com a seguinte frase: “Onde tem Coca-Cola, Correios e Bradesco tem uma Assembleia de Deus”.
“O fato de igrejas evangélicas não terem um comando verticalizado, como o papa na hierarquia católica, fez com que elas fossem camaleoas aptas a se adaptar a vários cenários”, comentou o pastor Samuel Câmara, um dos maiores líderes evangélicos na região Norte.
A Assembleia de Deus tem uma “linguagem muito aclimatada a qualquer ambiente”, observou o pastor, irmão do presidente da bancada evangélica na Câmara dos Deputados, Silas Câmara. “Não há um QG, é eficiente exatamente por não ser centralizada. Sob o selo da Assembleia, há movimentos autóctones, nativos quase”, acrescentou, concluindo a avaliação dos motivos que permitem à denominação pentecostal avançar em um terreno onde a Igreja Católica se movimenta lentamente.
A antropóloga francesa Véronique Boyer, com 30 anos de pesquisa de campo no Norte do Brasil, publicou o livro Expansão Evangélica e Migrações na Amazônia Brasileira, discordou em termos da avaliação feita por Samuel Câmara. Para ela, o cenário que preocupa a Igreja Católica “se deve mais à ação de pequenos missionários autoproclamados —que, inicialmente, têm por objetivo fundar a sua igreja— do que a uma ação planejada de igrejas mandando missionários”.
Sobre a igreja do papa, Véronique Boyer diz que o Vaticano “não levou a sério o crescimento evangélico”, e uma prova disso é que os primeiros missionários, estrangeiros, já atuavam onde padres não iam: “E os evangelistas da segunda parte do século 20 não pareciam adversários poderosos: pobres, sem apoio, sem estudos”.
“Não sei se a gente pode falar em uma certa arrogância da Igreja [Católica], mas se parece um pouco com isto. É claro que padres e bispos estão agora muito preocupados”, finalizou.