O sociólogo Jessé Souza afirmou que o crescimento dos evangélicos no Brasil transformará o país em um território extremista similar ao Irã. Em resposta, o pastor Victor Fontana avaliou a declaração como uma demonstração de ódio da elite intelectual de esquerda contra os evangélicos.
Jessé Souza publicou o livro O Pobre de Direita: A Vingança dos Bastardos, em que analisa o fenômeno sociopolítico de mudança de perfil ideológico entre os brasileiros de classes C, D e E.
Como trabalho de pesquisa, o sociólogo entrevistou pessoas dessas classes e fez uma correlação entre seu posicionamento político com a adesão à fé evangélica, em especial pentecostais e neopentecostais, as vertentes com maior presença na periferia.
Entrevistado sobre as mudanças na sociedade brasileira e a crescente rejeição a políticos e propostas de esquerda, Jessé Souza demonstrou preconceito contra evangélicos: “Sentia um desespero quando saía das entrevistas. Isso aqui vai virar um Irã, uma Turquia. Vai ter 20% de pessoas ocidentalizadas, a classe média, e 80% de pessoas na Idade Média. Estamos cortando toda forma de inteligência e reflexão”.
Reiterando sua aversão e preconceito, o sociólogo disse ter “muito medo de um ‘Evangelistão’”, fazendo referência a países extremistas como Paquistão e Afeganistão, de maioria muçulmana e governados por radicais, e também ao cenário de maioria evangélica que se aproxima no Brasil.
“Não é pessimismo, é o que vi, das entrevistas e dos estudos que fiz”, sublinhou o sociólogo, apontando fatos que são ignorados por parte de pensadores ideológicos de esquerda.
Souza ainda critica seus pares dizendo que “a esquerda é inexistente enquanto afirmação de um projeto alternativo de país” e que essa incapacidade contribui para o aumento da influência da ética evangélica junto às classes sociais mais baixas: “Junte-se a isso a influência neopentecostal e vamos ter pessoas que sacrificam o intelecto em nome de uma fantasia que as faz continuar vivendo. Temos uma pregação religiosa que exclui qualquer reflexão sobre a realidade social”, declarou o sociólogo ao Uol.
‘Discurso de ódio’
O pastor presbiteriano Victor Fontana, jornalista e teólogo, comentou as declarações de Jessé Souza afirmando que não há como esconder o preconceito expresso pelo sociólogo contra os evangélicos:
“Ele foi entrevistar gente pobre e tentar entender porque os pobres são de direita. Se depara com o fenômeno evangélico e com o que ele classifica ‘fundamentalistas pentecostais e neopentecostais’, e ele ‘sentia um desespero’ quando ele saía das entrevistas. […] Intelectuais com medo dos evangélicos, e medo em um ‘discurso de ódio’. Não tem outra maneira [de descrever]”, avaliou o pastor em um vídeo publicado no YouTube.
Fontana também apontou a incoerência demonstrada na entrevista: “No vocabulário da esquerda o nome disso aqui é ‘discurso de ódio’. Curiosamente, o Jessé é o cara que está dizendo que a esquerda desistiu de ouvir as ‘classes trabalhadoras’ ou os pobres, e quando ele vai ouvir, não gosta do que ouve e então desiste de escutar. É basicamente isso”, concluiu.