O Encontro com Fátima Bernardes abordou a questão do preconceito com as religiões na última quarta-feira, 25 de abril, e deu ênfase a duas tradições que seriam, na ótica da TV Globo, alvo de um preconceito generalizado na sociedade brasileira: candomblé e islamismo.
Ao longo do programa, nada foi falado sobre o preconceito que existe, na prática, contra a postura conservadora dos evangélicos, que em geral se abstém de festas populares, como o carnaval, selecionam as vestimentas e também se opõem ao excesso de forma em geral.
Em um dos blocos, a apresentadora deu voz à atriz Luellem de Castro, que interpreta a personagem Talícia em Malhação, e falou sob a perspectiva da presença dos negros na sociedade brasileira.
Segundo Luellem, é preciso ter mais negros em todas as áreas da sociedade e, dessa forma, expor as religiões afro-brasileiras e seus valores de forma mais intensa, como vem sendo feito pela novela juvenil.
“Ela [Talícia] é uma menina muito forte, um reflexo. Recebi tanta mensagem legal, de um monte de adolescente e pré-adolescente […] O candomblé é de comunidade. A gente precisa resgatar um pouco disso: quem toma conta do seu filho não é você, é todo mundo. A educação que você dá para seu filho é modificada o tempo todo pelo que ele vê na televisão, na internet”, afirmou, contextualizando os princípios da religião e da presença na sociedade.
No bloco seguinte, outros representantes das religiões de matriz africana falaram sobre situações que passaram, incluindo constrangimento público por conta das vestimentas que usam ou por causa de adereços.
Com esse gancho, a muçulmana Carima, brasileira de origem libanesa, tirou dúvidas sobre o preconceito que sofre por sua religião: “Sou pedagoga. Quando eu fui fazer uma entrevista [de trabalho], todos os requisitos que precisava, eu tinha. No final, ela falou assim ‘Tudo bem, mas você não vai poder usar o véu durante a estadia na escola. Tem problema?’ Eu falei ‘tem problema sim'”.
“No final das contas, a diretora veio e pediu desculpas pelo que a coordenadora tinha me falado, e tudo certo para mim. Eu acho que várias pessoas sofrem o que eu sofri, e pessoas que de fato precisam do trabalho e não conseguem por conta do véu”, acrescentou Carima.
A ênfase na questão muçulmana levou o programa a exibir uma matéria sobre “a importância de falar sobre intolerância religiosa”, com foco exclusivo na religião islâmica. Uma repórter levou Carima a uma escola para tirar dúvidas dos alunos sobre a religião.
Em meio a diversas perguntas feitas pelas crianças, Carima explicou as regras do islamismo: “Pra ser muçulmano, a gente precisa seguir algumas regrinhas. Precisa acreditar em um deus único, fazer cinco orações por dia”, disse.
Uma das alunas questionou porque as mulheres precisam do véu: “O Alcorão, o livro que a gente segue, é como se fosse uma Bíblia. Esse livro nunca foi modificado, então quem seguia minha religião anos atrás, e quem segue atualmente, segue as mesmas regras. No passado era muito comum as mulheres se vestirem assim, com o véu na cabeça e com o corpo tampado”, afirmou. “Já sofri preconceito por usar o véu”, acrescentou Carima.
“Na rua, homens e mulheres não podem ter contato físico. Então é só ‘oi’, ‘tchau'”, explicou, gesticulando, antes de acrescentar que também não pode comer carne de porco e tomar bebida alcoolica.
O Encontro levou também uma evangélica para a interação, mas sua participação foi bastante reduzida: “Eu sou muito extrovertida. Eu brinco, danço, e as pessoas me criticam, rotulam ‘ela é crente, não pode fazer isso’. É errado, porque Deus é amor, nós damos o que temos. Então, tenho amor, vamos dar amor ao próximo. Como vou pregar não sendo simpatica, não sendo alegre? Somos todos iguais, Deus é amor”, afirmou Marta, com a aprovação de Fátima Bernardes, que fez um discurso em defesa do “sincretismo religioso”.
Na conclusão do bloco, o músico Supla, filho da senadora Marta Suplicy (MDB) e do ex-senador Eduardo Suplicy (PT), falou sobre sua ausência de fé: “Acredito na educação”, afirmou.