O deputado federal Roberto de Lucena discursou, no último dia XX, na Câmara dos Deputados e falou sobre a trajetória da igreja evangélica no país, fazendo menção de fatos históricos protagonizados não só por líderes evangélicos, mas também por fiéis que seguem esse segmento do cristianismo.
O discurso foi motivado pelas declarações recentes de Gilberto Carvalho, ministro do governo Dilma Rousseff e considerado no meio político um homem influente dentro do Partido dos Trabalhadores. Na ocasião do Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, Carvalho afirmou que era importante para o plano de governo do PT que houvessem meios de disputar com os líderes evangélicos a influência que as igrejas exercem sobre as classes C e D.
Em um tom diferente do usado pelos demais membros da bancada evangélica, o deputado Roberto de Lucena listou vários fatos de perseguição à igreja evangélica no Brasil, aos missionários presbiterianos, batistas e luteranos, pioneiros na pregação do evangelho, além do tratamento recebido pelos fiéis, que por anos, em todo o país, sofreram preconceito, com crianças evangélicas submetidas a bullyng nas escolas, depredação de templos evangélicos e prisão de pastores pela pregação do evangelho.
Após citar a história de superação das igrejas evangélicas no Brasil, o deputado falou mais sobre as atuais discussões nacionais em torno de políticas ligadas ao aborto, legalização de drogas e instituição do casamento civil entre homossexuais: “eu não sou considerado retrógado por defender – e defendo – o filhote do mico-leão-dourado, o filhote do macaco-prego, o da arara-azul, da tartaruga marinha, mas sou considerado retrógado e fundamentalista quando defendo a vida humana desde a sua concepção. No Brasil é crime matar um filhote de uma espécie silvestre em extinção, e eu defendo mesmo rigorosa punição nestes casos, mas se pretende, se busca legalizar o assassinato de bebês humanos. Há quem queira tornar a exceção prevista na Constituição em regra. Há quem queira, Senhor Presidente, passar à sociedade que nosso posicionamento é fruto de fundamentalismo religioso. Um homem ou uma instituição precisa ter posicionamentos claros, definidos. Eu os tenho. A Igreja Evangélica os tem”, pontuou o deputado e pastor Roberto de Lucena.
Falando diretamente sobre as palavras do ministro Gilberto Carvalho, mencionou a tristeza e estranhamento que suas ideias causaram entre os líderes, e em um tom conciliador, elogiou o ministro, afirmando que sua nota explicativa havia dissipado as dúvidas: “o Ministro Gilberto Carvalho é um dos homens mais bem preparados e um dos cérebros mais privilegiados do Brasil. É dono de uma rica biografia política, de uma extensa folha de bons serviços prestados ao país. É um homem de bem! Ele é conciliador por excelência, um nobre, um diplomata… Na verdade as referidas declarações do Ministro, no Fórum Social Mundial, não ofenderam-me, muito pelo contrário, e nada disse que, ao pé da letra, possa ofender ao povo evangélico, mas, de fato preocuparam-me”.
O deputado afirmou ainda que é possível que o governo enxergue nas igrejas evangélicas um parceiro, pois há anos essas igrejas vem desenvolvendo trabalhos sociais sem ajuda do Estado, contando apenas com os dízimos e ofertas dos fiéis: “Nem o Governo, nem o Partido dos Trabalhadores, precisam ou devem ver na influência evangélica uma força a ser neutralizada. Pelo contrário, considerando que nenhuma outra instituição restaurou mais famílias, recuperou mais dependentes químicos, levou à regeneração mais degenerados, incluiu mais excluídos nesse país, seria inteligente e apropriado que esse seguimento fosse prestigiado e apoiado. O grande trabalho social que as igrejas evangélicas fazem no Brasil é extraordinário e inegável e o fazem sem recursos públicos – contando tão somente com as generosas doações de seus fiéis”, lembrou Lucena.
Tentando colocar ponto final na discussão, o deputado afirmou que, com as explicações do ministro, que afirmou ter sido mal interpretado, considera o episódio encerrado: “Considero-me, no entanto, atendido pela Nota de Esclarecimento do Ministro Gilberto Carvalho, divulgada na tarde de ontem. Agora, faço um apelo: vamos virar essa página e evitar um clima que potencialize as tensões e as distensões. E quanto a Igreja Evangélica, Senhor Presidente – quem passou pelo que ela passou ao longo de sua história, de sua trajetória, quando enfrentou todas as modalidades de discriminação, de preconceito, não pode, não tem o direito de ser intolerante”.
Confira abaixo, a íntegra do discurso do deputado federal e pastor Roberto de Lucena, publicada no blog da Frente Parlamentar Evangélica:
Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados.
Ao ocupar essa tribuna no dia de hoje, no reinício dos nossos trabalhos legislativos, quero manifestar-lhes a minha saudação calorosa e desejar-lhes mais uma vez um bom ano
É o que desejo também a todos os demais servidores dessa Casa, juntamente com suas respectivas famílias e a todos os demais profissionais que convivem nesse espaço democrático, que é a Casa de todos os brasileiros, a exemplo dos profissionais da imprensa e da mídia em geral.
A todas as senhoras e a todos os senhores, um ano de bênçãos e de paz
Nobres Pares, há uma grande expectativa da sociedade brasileira em relação a Temas da maior importância, que devem ser tratados por esse Parlamento no ano de 2012.
Temas dos quais não podemos nos eximir – discussões que não podem ser proteladas. Dentre eles o combate à corrupção, que deve ser eleita por nós como inimiga “número um” do país e consequentemente de cada um dos membros do Congresso Nacional; a eliminação do fator previdenciário para os aposentados; a PEC-300 que estabelece um piso salarial nacional para os policiais; a reforma política; a divisão dos royalties do petróleo; o debate sobre a violência contra a mulher que será feito nessa Sessão Legislativa por meio de uma CPMI e ainda a Reforma do Código Penal e do Código de Processo Civil.
Mas há especificamente um tema sobre o qual quero falar hoje – a intolerância e o preconceito como componentes da geração e da construção da cultura da violência no Brasil. E creio que a luta contra todas as formas de preconceito e a discriminação deve ser um dos nossos compromissos inalienáveis.
Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, eu estou deputado, mas sou um pastor evangélico, filho de pastor, o PR. Antonio Vieira de Lucena, cuja vida simples enriqueceu em muito esse mundo enquanto aqui esteve, que me faz muita falta e de quem tenho muitas saudades – e neto de diáconos – portanto a terceira geração de líderes evangélicos da minha família.
Como cristão evangélico, bem sei o que significa ser vítima de preconceito e de discriminação.
Os evangélicos do Brasil bem entendem dessa matéria. Há pouco mais de 150 anos, quando os primeiros missionários presbiterianos chegaram ao Brasil e se dirigiram à Cidade Maravilhosa, Rio de Janeiro, lá foram recebidos com pedras. Eles pagaram um alto preço pelo seu pioneirismo.
Não foi diferente com os primeiros missionários batistas e luteranos.
De igual modo ocorreu com os pioneiros da Igreja Assembleia de Deus, a mãe de todas as igrejas pentecostais do país, fundada no Brasil pelos suecos Daniel Berg e Gunnar Vingren.
Senhoras e Senhores, no Brasil muitos cristãos evangélicos foram mortos por praticarem e expressarem sua fé.
Nossas crianças sofriam bullying nas escolas. Muitas delas apanharam. Apanharam porque eram diferentes!
Em muitas cidades brasileiras não nos permitiam sequer sepultar nossos entes queridos nos cemitérios públicos, o que impôs a algumas igrejas a necessidade de usarem parte do terreno onde construíam seus templos ou capelas como um cemitério para atender os seus fiéis.
Muitos de nossos prédios sofreram depredação, muitas das tendas de lona que usávamos para evangelização, como templos improvisados, foram queimadas e destruídas, mesmo sendo os nossos movimentos de natureza pacífica e de ordem religiosa, comprometidos com uma mensagem que pregava o amor, a paz, a fé, a justiça, que valorizava a vida e a família. Essa era, Senhoras e Senhores Deputados, a mensagem pregada naqueles espaços públicos, naqueles pavilhões de lonas, que se tornavam alvos de impressionante vandalismo.
E aqui quero fazer menção especial às igrejas do Evangelho Quadrangular e O Brasil para Cristo, que estão entre as que enfrentaram todo tipo de perseguição, de Norte a Sul, de Leste a Oeste do nosso país.
Senhor Presidente, é justo que se registre nos anais dessa Casa que muitos de nossos pastores foram presos no Brasil, apenas por causa de sua fé e por suas pregações, a exemplo do Missionário Manoel de Mello, fundador da igreja O Brasil para Cristo – uma das maiores e mais estratégicas denominações evangélicas da Nação, que foi preso 27 vezes pelo terrível crime de ser um evangelizador, e a exemplo também do Apóstolo Doriel de Oliveira, fundador da Igreja Casa da Benção, outra grande e importante denominação evangélica, de expressão nacional.
Hoje mais de quarenta milhões de pessoas se declaram evangélicas em todo o Brasil – um número maior do que o de habitantes de muitos países, a exemplo do Uruguai que possui 3 milhões e meio de habitantes e da Argentina que beira os 40 milhões.
Além dos milhares de templos, temos universidades, creches, orfanatos, escolas, salas de alfabetização, hospitais, centros de recuperação de dependentes químicos. Somos um povo que cultiva a arte, a cultura e a música. Somos um povo que aprende e ensina o amor à Pátria e ações de cidadania responsável.
Ainda assim e mesmo tão bem representada nesse Congresso Nacional por uma Bancada de oitenta deputados federais e três senadores, que compõem a Frente Parlamentar Evangélica, da qual sou vice-presidente, a Igreja Evangélica nos dias de hoje continua sendo vítima de discriminação e preconceito.
Infelizmente, tanto essa bancada de parlamentares tão competentes, como o próprio povo evangélico desse país é rotulado de maneira preconceituosa. É estigmatizado. É tido como conservador, retrógrado, radical, e até mesmo fundamentalista. E por quê?
Porque defende a vida em todas as instâncias. Por ser contra a legalização do aborto e a manipulação de embriões humanos. Por defender a família. Por se manifestar contra a legalização das drogas, a partir da descriminalização da maconha. Por ter posição bastante definida quanto às relações homoafetivas.
Veja, Senhor Presidente: eu não sou considerado retrógado por defender – e defendo – o filhote do mico-leão-dourado, o filhote do macaco-prego, o da arara-azul, da tartaruga marinha, mas sou considerado retrógado e fundamentalista quando defendo a vida humana desde a sua concepção. No Brasil é crime matar um filhote de uma espécie silvestre em extinção, e eu defendo mesmo rigorosa punição nestes casos, mas se pretende, se busca legalizar o assassinato de bebês humanos. Há quem queira tornar a exceção prevista na Constituição em regra. Há quem queira, Senhor Presidente, passar à sociedade que nosso posicionamento é fruto de fundamentalismo religioso.
Um homem ou uma instituição precisa ter posicionamentos claros, definidos. Eu os tenho. A Igreja Evangélica os tem.
Recentes declarações atribuídas ao Ministro Gilberto Carvalho, no Fórum Social Mundial, em Porto Alegre, no último mês de janeiro, causaram bastante estranheza, desconforto e tristeza nos arraiais evangélicos.
E por quê?
Porque o Ministro Gilberto Carvalho é um dos homens mais bem preparados e um dos cérebros mais privilegiados do Brasil. É dono de uma rica biografia política, de uma extensa folha de bons serviços prestados ao país. É um homem de bem!
Ele é conciliador por excelência, um nobre, um diplomata.
E neste sentido, considero acertadíssima a sua condução, pela Presidenta Dilma, para ser o interlocutor do Governo Federal junto aos sindicatos e movimentos sociais.
Esse respeito que tenho pelo Ministro Gilberto Carvalho motivou-me a procurá-lo para falar sobre suas possíveis declarações referentes ao povo evangélico, quando ele reafirmou em palavras a nota oficial emitida em que esclareceu o ocorrido, dizendo que “de maneira alguma atacou os companheiros evangélicos” Na mesma nota disse que quem conhece a sua trajetória sabe do carinho e do reconhecimento que tem pelas igrejas evangélicas no país. Afirmou ainda que: “Fez lá uma constatação política, reconhecendo que quem de fato tem forte presença na periferia do Brasil e fala, sobretudo, para as classes C, D e E são as igrejas evangélicas e que, portanto, essa presença tem que ser reconhecida como real e efetiva”Naquela nota e também em palavras o Ministro ainda ressaltou que defende uma parceria do Governo com as igrejas evangélicas, e reconhece que elas efetivamente contribuem para a reconstituição de pessoas e famílias, desenvolvendo trabalhos sociais, e lamentou a “má interpretação de suas palavras que causou mal estar a pessoas e comunidades a quem muito respeita e com quem tem laços fraternos de amizade”.
Na verdade as referidas declarações do Ministro, no Fórum Social Mundial, não ofenderam-me, muito pelo contrário, e nada disse que, ao pé da letra, posso ofender ao povo evangélico, mas, de fato preocuparam-me.
Nem o Governo, nem o Partido dos Trabalhadores, precisam ou devem ver na influência evangélica uma força a ser neutralizada.
Pelo contrário, considerando que nenhuma outra instituição restaurou mais famílias, recuperou mais dependentes químicos, levou à regeneração mais degenerados, incluiu mais excluídos nesse país, seria inteligente e apropriado que esse seguimento fosse prestigiado e apoiado.
O grande trabalho social que as igrejas evangélicas fazem no Brasil é extraordinário e inegável e o fazem sem recursos públicos – contando tão somente com as generosas doações de seus fiéis.
Considero-me, no entanto, atendido pela Nota de Esclarecimento do Ministro Gilberto Carvalho, divulgada na tarde de ontem.
Agora, faço um apelo: vamos virar essa página e evitar um clima que potencialize as tensões e as distensões.E quanto a Igreja Evangélica, Senhor Presidente – quem passou pelo que ela passou ao longo de sua história, de sua trajetória, quando enfrentou todas as modalidades de discriminação, de preconceito, não pode, não tem o direito de ser intolerante.
A Constituição Brasileira estabelece o princípio da isonomia quando diz no seu Artigo 5º que todos são iguais perante a lei. Mas, infelizmente, todos os dias nesse país uma violência é cometida ou até mesmo crimes são executados por causa da intolerância.
A intolerância – essa sim – precisa ser desconstruída, neutralizada, desencorajada, num esforço para se esvaziar a crescente cultura da violência que se tem instalado no país.
Essa cultura da violência se traduz na agressão sem fundamentos e doentia, é refletida nos ataques aos indígenas brasileiros e aos nossos irmãos nordestinos, inúmeras vezes vítimas de atos preconceituosos, principalmente pela internet.
Agressões no Brasil também são dirigidas aos negros, aos judeus, aos evangélicos e aos homossexuais.
Infelizmente ainda somos obrigados a assistir tristes cenas como a ocorrida na cidade de São Paulo na data de dois de janeiro deste ano quando um menino etíope de apenas seis anos de idade, uma criança tão pequena, foi retirada de dentro de um restaurante por ser negra e por “parecer” ser morador de rua. O garoto estava só, à mesa, enquanto seus pais se serviam no bufê.
As lágrimas e o pavor estampados no rostinho daquele menino não foram suficientes para fazer os donos do restaurante recuarem e deixá-lo permanecer no recinto. Ao menino foi imposto constrangimento e dor apenas por ter a pele de cor negra.Não dá mais para suportar tanto preconceito.
Precisamos combater a homofobia, bem como precisamos combater a heterofobia, a xenofobia, o racismo, o etnocidio e todas as outras manifestações de intolerância e de discriminações correlatas.
Somos um país plural e é possível que todos aprendamos a conviver bem nesse contexto de múltiplas diversidades, repeitando as diferenças.
Como cidadão brasileiro, paulista, isabelense e arujaense, filho de nordestinos, pastor evangélico, dirigente sindical, pai de Melissa e Renan e avô da Srtª Lívia, sonho com esse país justo socialmente, limpo, ordeiro, próspero e democrático, onde todo o cidadão brasileiro tenha segurança pública de excelência, educação pública de qualidade, saúde pública de referência, moradia, trabalho digno, e acesso ao lazer e a cultura independentemente da cor da pele, da raça, do gênero, da origem, do tipo físico, da fé que professe, da religião que escolheu, da classe social ou da opção sexual.
A construção desse país, Senhor Presidente, Senhoras e Senhores Deputados, passa necessariamente pelo caminho do diálogo.
Fica lançado o desafio, Nobres Pares, a que sejamos nós, homens públicos dessa Nação, quer membros do Poder Legislativo, Executivo ou Judiciário, os agentes ativos dessa construção.
Que sejamos arautos da conciliação e da paz!Que não percamos a condição de mantermos o respeito e a dignidade dos nossos debates, mesmo quando discordamos de posições contrárias às nossas convicções.
Que não abramos mão da nossa oportunidade de construirmos a cada dia, um país e um mundo melhor!Era o que eu tinha a dizer.
Que Deus abençoe o Brasil!
Roberto de Lucena – PV SP
Fonte: Gospel+