Um levantamento constatou que os parlamentares evangélicos na Câmara dos Deputados costumam mencionar Deus em seus discursos mais que os colegas católicos.
A partir dos dados abertos que a Câmara dos Deputados oferece, todos os discursos feitos em 2019 foram analisados para descobrir quais são as palavras mais utilizadas pelos deputados. O levantamento apontou que apenas o termo “família” é mais usado nos discursos do que “Deus”.
Um evangélico discursando no Plenário menciona Deus a cada 1.322 palavras que profere, enquanto um católico faz a mesma menção a cada 5.525 palavras. Já o termo “família” é citado a cada 930 palavras pelos evangélicos, contra 1.322 no caso dos católicos.
Os dados foram reunidos pelo portal Metrópoles, que avaliou também as citações à Bíblia: uma vez a cada 7,2 mil palavras pelos evangélicos e uma a cada 333 mil pelos católicos. O mesmo acontece com o termo “religião”, que foi pronunciada uma vez a cada 6,9 mil pelo primeiro grupo, contra 59,6 mil pelo segundo.
“Os deputados das igrejas neopentecostais não veem muita diferença entre a atividade política no mundo profano e a vida religiosa em um âmbito mais sagrado. Os católicos já perceberam que essa confusão é bastante perigosa para a própria religião”, comentou o professor de filosofia da Universidade de Brasília, Agnaldo Portugal.
Ele acredita que a atuação distinta dos deputados das duas tradições cristãs se deve, em parte, às particularidades de cada segmento: “A atividade política é desgastante, ela gera insatisfação em algum momento em algum grupo. E insatisfação política com religião muito ligada acaba gerando insatisfação religiosa”, ponderou.
Uma das principais bandeiras em comum entre os dois grupos é a luta contra o aborto. Porém, surpreendentemente, deputados evangélicos mencionaram o termo apenas 16 vezes nos discursos ao longo de 2019, contra nenhuma menção pelos parlamentares católicos com mandato na Câmara dos Deputados.