O Dia de Finados é celebrado pelos católicos no dia 02 de novembro por uma determinação do Vaticano no século XIII.
No entanto, a tradição de reza pelos mortos começou quatro séculos antes, quando o Santo Odilon, abade do mosteiro Beneditino de Cluny, na França, determinou que os monges rezassem por todos os mortos, religiosos ou incrédulos, conhecidos e desconhecidos, de todos os lugares, em todos os tempos.
No Brasil, a tradição do Dia dos Finados foi estabelecida pelos colonizadores portugueses, que replicaram os costumes do Velho Continente, com visitas aos túmulos, decoração com flores e velas.
Na tradição católica, essa prática se justifica por um texto de II Macabeus. Esse livro é considerado apócrifo na tradição protestante, e também na tradição judaica, embora estudiosos reconheçam seu valor no que se refere ao conteúdo histórico.
“Em seguida, fez uma coleta, enviando a Jerusalém cerca de dez mil dracmas, para que se oferecesse um sacrifício pelos pecados: belo e santo modo de agir, decorrente de sua crença na ressurreição, porque, se ele não julgasse que os mortos ressuscitariam, teria sido vão e supérfluo rezar por eles. Mas, se ele acreditava que uma bela recompensa aguarda os que morrem piedosamente, era esse um bom e religioso pensamento; eis por que ele pediu um sacrifício expiatório para que os mortos fossem livres de suas faltas”, diz o texto de II Macabeus 12:43-46, na versão da Bíblia Ave Maria.
O presbítero André Sanchez, professor na Escola Dominical da Igreja Presbiteriana Bela Jerusalém, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, publicou um artigo no blog Esboçando Ideias, abordando o tema do Dia dos Finados.
“Os católicos crêem que os vivos têm a possibilidade de fazer algo pelos mortos, por isso acendem velas, oram por eles e até pedem perdão pelos seus pecados. Essa prática, porém, está definitivamente contrária ao que diz a palavra de Deus”, afirmou Sanchez.
Citando Hebreus 9:27, Sanchez reforça que a Bíblia salienta “que a morte sela todas as oportunidades dadas às pessoas. “’E, assim como aos homens está ordenado morrerem uma só vez, vindo, depois disto, o juízo’ […] Não há como interferir na vida pós-morte. Se logo após a morte vem o juízo, como haveria possibilidade de orar para que alguém já morto fosse perdoado pelas suas faltas?”, questiona.
A TV Diário do Sertão, do Pará, também produziu uma matéria expondo as diferenças de abordagem em relação ao tema entre os católicos e os evangélicos, já que o feriado do Dia dos Finados ocorre poucos dias após a celebração dos 500 anos do movimento de Reforma Protestante.
“Baseado no que a Bíblia diz, nós não temos margens para visitar os nossos entes queridos nos túmulos, apesar de amá-los, de sentir muita saudade. Eu perdi o meu pai há treze anos, e eu tenho muita saudade, mas não tenho mais como falar com ele, no túmulo. Aquilo vai ser um momento de sofrimento”, disse o pastor Sérgio Damasceno, presidente do Conselho dos Pastores Evangélicos de Cajazeiras (PA).
“A Bíblia diz, em Salmos 146:3,4: ‘Não ponha sua confiança em pessoas importantes, nem confie em seres humanos, pois eles são mortais, e não podem ajudar ninguém. Quando eles morrem, voltam para o pó da terra e naquele dia, todos os seus planos, se acabam’. Quem já morreu está inconsciente para esse mundo”, acrescentou.
Discordância
O professor de teologia Emanuel Lemos, no entanto, discorda que a Bíblia proíba visitas e homenagens aos mortos: “Nada de errado existe quando, movidos pelas saudades dos parentes ou pessoas conhecidas falecidas, se faz nesse dia visita aos cemitérios e até mesmo se enfeitam os túmulos de pessoas saudosas e caras para nós. Entretanto, proceder como o faz a maioria, rezando pelos mortos e acendendo velas em favor das almas dos que partiram tal prática não encontra apoio bíblico”, contextualizou.
Para Lemos, João 8:12 reforça a tradição evangélica de não fazer rituais em favor de quem já morreu: “’Falou-lhes, pois, Jesus outra vez, dizendo: Eu sou a luz do mundo; quem me segue não andará em trevas, mas terá a luz da vida’. Conforme essa fé, aquele que está em Cisto, já tem a luz, não necessitando de outra luz”, pontuou, no artigo publicado no Diário de Balsas.
“Por que não acender velas (queimar incenso)? A Bíblia Sagrada traz dezenas de textos em que Deus censura severamente o povo de Israel por essa prática (Jeremias 1:16, Cap. 18:15-17. Cap. 44:16-17, Isaias 65:2-3, II Crônica 34:3-5)”, acrescentou.
Por fim, o teólogo destaca que Jesus falou sobre a situação dos mortos em Lucas 16:19-31, ensinando que “há consciência após a morte; existe sofrimento e existe bem estar; não existe comunicação de mortos com os vivos; e a situação dos mortos não permite mudança”.
“Cada qual ficará no lugar da sua escolha em vida. Os que morrem no Senhor gozarão de felicidade eterna (Ap 14.13) e os que escolheram viver fora do propósito de Deus, que escolheram o caminho largo (Mt 7.13-14) irão para o lugar de tormento consciente de onde jamais poderão sair”, concluiu Lemos.