A situação dos cristãos na Eritreia é bastante delicada, já que o país de maioria muçulmana persegue de forma intensa e cruel os seguidores de Jesus Cristo, há anos, com muitos sendo presos em contêineres no deserto.
Atualmente, a Missão Portas Abertas – que monitora a situação dos cristãos ao longo dos anos no país – estima que haja entre 600 e 1200 cristãos encarcerados. Há menos de um mês, em 10 de maio, outros dois fiéis foram presos em Asmara, capital da Eritreia.
A violação da liberdade religiosa (um dos direitos humanos internacionalmente reconhecidos) vinha sendo monitorada também pelo órgão especial das Nações Unidas sobre o tema, e a detenção desses dois fiéis foi vista pela entidade como uma “gota d’água”, de acordo com a Portas Abertas.
O relator especial da ONU para os Direitos Humanos na Eritreia apelou ao governo do país para que os presos por questões religiosas fossem libertados “imediata e incondicionalmente”. “Esta última onda de prisões é prova de que não houve mudança na política repressiva do governo em relação à liberdade religiosa no país”, disse Mohamed Abdelsalam Babiker no relatório anual.
Os motivos da detenção dos dois cristãos não foram esclarecidos, mas fontes da entidade missionária indicam que foi uma retaliação estatal porque eles teriam frequentado cultos de igrejas não registradas: “No país, só é permitido ser [membro] da ortodoxa, católica ou luterana. Qualquer outra denominação não tem permissão de existir e ter atividades religiosas”, diz um relatório da Portas Abertas.
Contêineres
As autoridades da Eritreia atuam em diversas frentes contra os cristãos que desobedecem as leis vigentes sobre religião: monitoramento constante, invasões domiciliares e prisões. No âmbito social, a discriminação também é usada para afligir os seguidores de Jesus.
Com frequência a Missão Portas Abertas noticia a prisão de irmãos na Eritreia: “Apenas em março, 40 cristãos foram presos durante invasões nas cidades de Asmara e Assab, no sudeste do país”, recapitulou a entidade.
Sem estatísticas oficiais a respeito dos cristãos detidos por motivos ligados à sua fé, os dados existentes são obtidos através de fontes locais, e não possuem grande precisão, por isso a estimativa é vaga, entre 600 a 1.200 pessoas. Muitos destes presos em contêineres no deserto, sendo submetidos a temperaturas escaldantes.
“Apesar de alguns terem sido libertados nos últimos 12 meses, a situação no país ainda é preocupante e precisa de uma resposta imediata do governo eritreu. Desde 2020, o governo começou a libertar cristãos presos, aumentando as esperanças de que estava relaxando suas políticas repressivas”, disse o comunicado da Portas Abertas.
“Cristãos pentecostais e evangélicos continuam a ser considerados instrumentos de governos estrangeiros”, pontua o texto, a partir do relato de um analista especializado na situação da perseguição religiosa no país.
Muitos cristãos são libertados sob a condicionante de se alistarem ao serviço militar, e terminam por serem mantidos em condições precárias, sem salários para cobrir custos básicos de vida ou sustentar uma família.
“Esse problema é um dos principais motivos que fazem os eritreus fugirem do país. A Portas Abertas continua a apelar à comunidade internacional para exortar o governo da Eritreia a respeitar totalmente a liberdade de religião, e impedir a prisão arbitrária e detenção por tempo indeterminado de centenas de cristãos que nunca se beneficiaram do devido processo legal”, declarou a porta-voz da organização internacional na África Subsaariana.