Os escândalos de abusos sexuais perpetrados por sacerdotes católicos no Chile ao longo das últimas décadas levaram a um pedido de demissão coletivo por parte dos bispos da Igreja no país.
O pedido de demissão foi apresentado na última sexta-feira, 18 de maio, como resposta à situação. Após a visita recente do papa Francisco ao Chile, os grupos de vítimas de abusos e a imprensa têm pressionado a Igreja Católica a tomar uma posição mais dura em relação aos acusados.
Os crimes denunciados teriam ocorrido nos anos 1990. Agora, todos os 34 bispos da Igreja Católica no Chile colocaram seus cargos à disposição do papa, após uma reunião de três dias com o pontífice no Vaticano. Francisco ainda não se pronunciou se aceitará a renúncia dos sacerdotes.
“Nós colocamos nossa posição na mão do santo padre e cabe a ele decidir livremente sobre cada um de nós”, disse o secretário-geral da Conferência Episcopal do Chile, monsenhor Fernando Ramos, ao ler o comunicado assinado pelos 34 bispos do país.
“Depois de três dias de encontros com o santo padre e muitas horas dedicadas à meditação e à oração, seguindo as suas indicações, desejamos comunicar que, antes de tudo, agradecemos ao papa Francisco pela sua escuta paterna e sua correção fraterna. Mas, sobretudo, queremos pedir perdão pela dor causada às vítimas, ao papa, ao povo de Deus e ao nosso país pelos graves erros e omissões por nós cometidos”, acrescentaram os demissionários.
Antes do pedido de demissão, o papa já havia se posicionado, expressando pesar pelo ocorrido: “À luz destes acontecimentos dolorosos em relação aos abusos – de menores, de poder e de consciência -, aprofundou-se a gravidade dos mesmos, assim como as trágicas consequências para as vítimas. A algumas delas, eu mesmo pedi perdão do fundo do meu coração, ao qual vocês se uniram em uma só vontade e com o firme propósito de reparar os danos causados”, escreveu Francisco.
++ “Fiz parte do problema”, lamentou o papa
A decisão dos bispos foi tomada após uma severa investigação do Vaticano, divulgada parcialmente à imprensa, apontando a “graves erros” cometidos pela cúpula da denominação no Chile no trato das denúncias de abusos sexuais. De acordo com informações das agências internacionais, os bispos são acusados de queimar documentos, ignorar denúncias e negligenciar vítimas.
Juan Carlos Cruz, um dos líderes do grupo de vítimas, comentou o anúncio do pedido de demissão em entrevista à Rádio Cooperativa, afirmando que o desfecho tinha se tornado “absolutamente inédito”.
“Os bispos usam eufemismos para explicar o que aconteceu, mas todos os bispos renunciarem, colocando seus cargos à disposição do papa, é algo que nunca havia ocorrido em uma conferência episcopal”, afirmou, de acordo com informações da BBC.