O governo dos Estados Unidos cortou uma parte significativa da verba enviada para a ajuda humanitária a refugiados palestinos. A decisão foi divulgada na última terça-feira, 16 de janeiro, como parte de uma estratégia de Donald Trump para forçar a ONU a mudar de postura em relação a Israel.
A verba enviada pelos EUA passava por uma agência da ONU que é responsável pelos programas de ajuda humanitária. O Departamento de Estado justificou a decisão com a declaração de que deseja ver uma “reavaliação fundamental” em relação ao tratamento dispensado ao país aliado, Israel.
Segundo informações da emissora Christian Broadcasting Network (CBN), o Departamento de Estado teria informado à United Nations Relief and Works Agency (UNRWA – no Brasil, conhecida como Agência das Nações Unidas de Assistência aos Refugiados da Palestina) que iriam congelar cerca de US$ 65 milhões de uma parcela que somava no total US$ 125 milhões, e enfatizado ainda que outras doações dos EUA dependerão de grandes mudanças por parte UNRWA.
“Nós gostaríamos de ver algumas mudanças sendo feitas”, disse Heather Nauert, porta-voz do Departamento de Estado, acrescentando que a crítica dos EUA se dá, principalmente, sobre a forma como a agência UNRWA é administrada e financiada. “Isso não tem como objetivo punir ninguém”, salientou Heather.
O valor restante, US$ 60 milhões – foi liberado pela administração Trump para evitar que a agência fique sem nenhuma verba até o final do mês e acabe fechando por falta de recursos, já que o país é o maior doador da UNRWA. O órgão fornece serviços de saúde, educação e outras ações sociais na Cisjordânia, Faixa de Gaza, Jordânia, Síria e Líbano.
Reação
A Organização para Libertação da Palestina (OLP) reagiu com raiva à decisão dos EUA, dizendo que a decisão ameaça “o segmento mais vulnerável do povo palestino e privando os refugiados do direito à educação, saúde, abrigo e uma vida digna”.
“Isto também está criando condições que irão gerar uma maior instabilidade em toda a região e demonstrará que não tem remorso em atacar os inocentes”, criticaram os líderes da OLP em um comunicado.
O secretário-geral da ONU, Antonio Guterres, disse que não estava ciente da decisão, mas advertiu que a UNRWA fornece “serviços vitais”: “Estou muito preocupado e espero fortemente que, no final, se mantenha o financiamento da UNRWA, em que os Estados Unidos têm uma parcela muito importante”, disse.
A decisão também foi comentada pelo embaixador de Israel na ONU, Danny Danon, com um elogio à postura dos EUA. Ele argumentou que a UNRWA usa a ajuda humanitária para apoiar a propaganda contra o Estado judeu e perpetuar a situação dos palestinos, o que seria uma situação em que todos perdem: “É hora desse absurdo terminar e é necessário que os fundos humanitários sejam direcionados para o seu propósito real: o bem-estar dos refugiados”.
Dados de 2016 revelam que os EUA doaram US$ 355 milhões para a UNWRA ao longo daquele ano, e o orçamento de 2018 previa uma doação semelhante, com a primeira parcela sendo enviada agora em janeiro.
Donald Trump já havia dado sinais de que iria adotar uma postura mais agressiva em relação à ONU e aos palestinos, que repudiaram sua decisão de reconhecer Jerusalém como capital israelense. “Nós pagamos aos palestinos centenas de milhões de dólares por ano e não conseguimos nenhuma gratidão ou respeito”, escreveu o presidente no Twitter. “Mas, com os palestinos não querendo mais falar em paz, por que devemos com esses pagamentos maciços no futuro?”, questionou.
Os israelenses acusam a agência da ONU de contribuir para a militância palestina e permitir que suas instalações sejam usadas por eles, além de acusarem os funcionários da UNRWA de serem tendenciosos contra Israel.
A porta-voz do Departamento de Estado dos EUA concluiu seu comunicado afirmando que é preciso haver mais “compartilhamento de fardo”: “Nós não acreditamos que cuidar de outras nações e outras pessoas têm que ser apenas a responsabilidade dos Estados Unidos”, disse Heather Nauert, repercutindo uma queixa do presidente Trump em relação ás organizações multilaterais apadrinhadas pela ONU que funcionam apenas com doações grandiosas dos norte-americanos.