A cientista social Simony dos Anjos, evangélica, é adepta da teologia feminista, uma abordagem das Escrituras que se sustenta pela ótica “progressista” e se vale da acusação às igrejas e da própria Bíblia Sagrada de machismo opressor das mulheres. Em uma entrevista, afirmou que o prazer feminino no sexo é um tabu no meio cristão.
Formada em Ciências Sociais e mestranda em Educação, Simony dos Anjos é filha de pastores e produz artigos em seu blog falando sobre aspectos machistas que enxerga na comunidade evangélica e do que afirma ser repressão ao prazer feminino no sexo.
“Sou cristã desde que me entendo por gente. Meus pais se conheceram na igreja. Venho de uma família convencional no meio protestante: pai, mãe e filhos frequentando a mesma igreja por décadas”, diz Simony, resumindo sua origem familiar e o contexto religioso onde cresceu.
O interesse pelo assunto que hoje a tornou uma militante feminista surgiu cedo: “Ainda adolescente comecei a questionar parte do que via e vivia ali. Por que quase não há pastoras? Por que cobravam namorados de mim e não dos meninos? Por que eu tinha que ser recatada se quisesse me casar com um homem de bem? Aliás, por que falar sobre prazer, quando meu ou de outra mulher, era sempre uma conversa proibida?”, relembra.
O gatilho para a dedicação ao feminismo surgiu no começo da jornada acadêmica, ela conta, em entrevista ao portal Uol: “Na faculdade, fui prestar Ciências Sociais e acabei me aproximando do feminismo. Ele me abriu os olhos. Fui atrás de estudar o que pensam os cristãos progressistas e a chamada Teologia Feminista”.
Sem meias palavras, Simony dos Anjos enxerga que o cristianismo como um todo deu à Bíblia uma interpretação machista que limita o prazer sexual feminino: “Hoje, aos 31 anos, com essa visão questionadora da Bíblia e considerando a influência da religião cristã na formação social do Brasil, não me assusta que por aqui 40% das mulheres admitam dificuldade em chegar a um orgasmo”.
“A interpretação da Bíblia, como estamos acostumados a fazer, tem fundo machista e influencia, sim, e de forma opressora, a sexualidade das mulheres. O nosso prazer é apenas para serviço do homem (como é dito em Gênesis). A nós cabe a submissão, edificar o lar, manter discrição e zelar pelos filhos. Se o assunto é sexo e a vivência plena e sadia dele, então a nós, mulheres, também cabe uma imensa culpa”, reclama.
O sentimento de “culpa” a que Simony dos Anjos se refere seria uma forma de dominação imposta: “Nos mantém ‘em nossos lugares’ desde Eva e Adão. O relato da criação coloca Eva, a mulher fundamental, como pecadora e sexo frágil, incapaz de se controlar e resistir à tentação”, teoriza, antes de acrescentar uma suspeita a respeito da autenticidade do texto bíblico: “É importante dizer: no imaginário cristão, a história foi escrita por um homem, Moisés”.
Questionada pela jornalista Natacha Cortêz se, para Deus, é importante que a sexualidade feminina seja reprimida, a cientista social novamente expressa sua visão que associa o cristianismo ao machismo, omitindo a influência, inegável, da cultura judaica – amplamente diferente da proposta “progressista” – sobre as bases morais da sociedade ocidental clássica.
“Quando a culpa [por buscar prazer] é relacionada à vontade de Deus fica difícil questionar. Mas foi mesmo Ele quem quis esses milhares de anos de submissão feminina que atravessa a história da religião cristã? É mesmo desejo de Deus que tenhamos uma sexualidade reprimida, que só serve para agradar o outro? Nós, mulheres da Igreja, não somos protagonistas de nossas vidas, de nossas escolhas, quem dirá do nosso sexo”, protesta.
“Todos já ouviram falar de Sansão, Moisés, Abraão, Davi, Salomão. Mas alguém já escutou falar de Miriam, Débora, Noemi, Raabe, Joana, Priscila, Dorcas, Loide e Damaris? É importante demais olharamos para personagens femininas do livro sagrado”, sugere.
“Existe um livro na Bíblia chamado ‘Cantares de Salomão’. Nele, a sexualidade da mulher é evidente. Eu mesma o li com olhos menos espiritualizados, de forma erótica, por assim dizer, quando estava para me casar, aos 25. Ler a Bíblia questionando e reconhecer que o prazer feminino é indevidamente subjugado mudou minha perspectiva em relação ao meu corpo e ao meu prazer. Entendi que prazer feminino não deve ser servil, não somos proporcionadoras de prazer, apenas. Temos que nos sentir satisfeitas e completas em relação o nosso corpo e sexualidade”, acrescenta.
Ao final da entrevista, Simony dos Anjos associa a ausência de prazer sexual que ela enxerga nas mulheres cristãs à liberdade, repetindo o discurso secular do “progressismo” e sem fazer ponderações a respeito de possíveis interpretações de que esse discurso seja um incentivo à promiscuidade.
“Prazer é uma fonte de emancipação da vida, dos corpos e dos relacionamentos. Até quando será apenas permitido seu gozo aos homens? Esse é um problema dentro da Igreja, mas ainda de uma sociedade patriarcal inteira”, finaliza.