O pastor Felipe Heiderich concedeu uma entrevista ao SBT para falar sobre o período em que permaneceu em liberdade assistida após ser acusado de ter cometido abuso sexual contra o ex-enteado, o filho da cantora e escritora Bianca Toledo.
Na entrevista, Heiderich narrou os momentos de tensão e terror que viveu durante a internação forçada em um manicômio, a chantagem que sofreu da ex-mulher e o período que passou na cadeia, onde ele afirma ter vivido um uma experiência que o fez crer que Deus não o havia desamparado.
No julgamento, a Justiça invalidou os laudos particulares que Bianca Toledo encomendou para provar os supostos estupros cometidos por seu então marido por causa de seu teor parcial, e o Ministério Público produziu um parecer de 57 páginas para defendê-lo.
“Dia 12 de junho de 2016], Dia dos Namorados – que é o aniversário dela também – nós estávamos felizes, na igreja que eu era pastor presidente, fazendo apresentação de crianças, com o meu enteado junto, no meu braço, como sempre. Fazendo a santa ceia no culto, normal. Isso num domingo. Na terça-feira ela chegou [e disse] ‘olha, estou saindo de casa, estou indo para um hotel, porque você é gay, você é um pedófilo, você é um adorador de satanás, um satanista’. E no dia seguinte eu já acordei num hospital, e do hospital eu fui levado para uma clínica psiquiátrica e mantido em cárcere privado, dopado, amarrado e torturado por oito dias”, relembrou Felipe Heiderich, na matéria exibida pelo Fofocalizando.
Na clínica psiquiátrica, o pastor narra que era todas suas tentativas de esclarecer o que estava acontecendo foram ignoradas pelos profissionais que o mantinham drogado: “Fiquei amarrado com pessoas muito doidas, que urinavam nas paredes, jogavam fezes, gritavam a noite inteira, se batiam… e ali, a primeira coisa que eu imaginei, é que eu tinha sido sequestrado. Eu fui sequestrado. E quando vinha alguma pessoa pra tentar falar comigo, ou pra aplicar as drogas, a todo momento eu dizia ‘liga para minha família, eu dou o número’; ‘liga para o meu assessor, vocês vão ver que está acontecendo algum erro, eu não tenho que estar aqui’. E ninguém falava nada”.
“Disseram que eu tentei suicídio no início, e por isso eu fui internado numa clínica psiquiátrica. Você acha que alguém que é suicida, que depois que passou o que eu passei, e teve três anos para tentar se matar, não teria feito?”, questionou o pastor.
Felipe Heiderich conta que, após oito dias mantido dopado na clínica, ele recebeu a visita de Bianca Toledo, acompanhada de um advogado e outro pastor, e recebeu uma oferta: “[Eles estavam] tentando me obrigar a assinar uma anulação do casamento, dizendo que abria mão de todos os bens, que eu me declarava celibatário. Celibatários são os padres, que não têm nenhum apetite sexual, ou não fazem sexo pelo chamado. E abria mão de tudo, e pedia a anulação do casamento justamente por a gente nunca ter feito sexo”, contou.
“Sabe o que eu respondi naquele momento? ‘Cara, que loucura. Eu sou apaixonado por essa mulher. Isso é impossível. A gente quase todo mês ia fazer exames, porque a primeira gravidez dela foi tão problemática que a gente ficava com medo de ela engravidar de novo’. E eles falaram ‘não, ou você aceita isso, ou a gente vai te acusar de estupro de vulnerável’. Eu falei ‘não vai acontecer, porque não vou assinar, não vou abrir mão dessa mulher, não vou abrir mão dessa família, eu vou orar por isso. Eu não sabia que dali, eles iam para uma delegacia e dar parte contra mim”, acrescentou Heiderich.
Com a prisão decretada, Felipe passou sete dias na cadeia, onde foi espancado, mas também diz ter vivido uma experiência inexplicável: “Me espancaram quando eu cheguei lá simplesmente porque eu não sabia o número do artigo que eu estava sendo preso. Eu não fazia ideia. Eu falei ‘acho que é porque me acusaram de estuprar uma criança’. Eles queriam o número do Código Penal. Eu não sabia que era 217. Fui espancado por causa disso”.
“Ali dentro, segunda coisa, foram tentar me filiar a uma facção criminosa. Eu consegui resistir, e fui chamado de neutro lá dentro. Aí o carcereiro me jogou numa cela, com outros presos, e disse ‘fiquem à vontade’. Me jogou nu na cela. ‘Fiquem à vontade, podem estuprar. Quem estuprar a gente não bate’. Sabe o que aconteceu? Isso não dá para explicar humanamente. Os presos dali, um tirou um chinelo e me deu. Um tirou uma blusa e me deu. Um tirou um shorts e me deu. E ficaram em silêncio”, disse.
Para Felipe, a comprovação de sua inocência não muda o fato de que “perdeu”, pois acreditava que Bianca Toledo era a mulher de sua vida. No tempo em que o processo estava correndo em segredo de Justiça, recebeu ameaças de morte: “Temo pela minha vida, sim. Foi colocado muita gente para me matar. Eu recebi muitas ameaças. Eu tentava sair de casa, alguém topava em mim e falava ‘você está de vermelho, é bom que o sangue não vai aparecer’”.
Apesar de tudo isso, o pastor quer apenas sentir o gosto da liberdade novamente: “Eu perdi 25 quilos. Eu perdi tudo. Um grupo de pastores fez um abaixo-assinado pedindo que eu nunca mais pisasse numa igreja. Eu passei a vida inteira ensinando a Bíblia, eu abri uma igreja. E de repente, um grupo de pastores, por causa dela, disseram […] ‘você é uma vergonha para o Evangelho’. […] Quando a chuva parar de cair aqui no Rio de Janeiro, eu quero andar na rua, sem disfarce, com a cabeça erguida. É a coisa que eu mais quero. Porque meu nome tá limpo”.
Confira a íntegra da entrevista: