O poder de marcação se iguala ao desequilíbrio emocional. Os lampejos de visão de jogo aparecem com a mesma frequência das faltas desnecessárias. As principais características de Felipe Melo foram visíveis na partida contra a Holanda e foram determinantes para a derrota por 2 a 1 que eliminou a seleção brasileira da Copa do Mundo da África do Sul, nesta sexta-feira, em confronto pelas quartas de final.
A troca de faltas com Pepe, na partida contra Portugal, foi o alerta. Felipe Melo em algum momento poderia colocar tudo a perder por causa de seu temperamento dentro de campo. Mas excelente passe para o gol de Robinho que abriu o placar contra a Holanda mostrou que o talento que o levou ao futebol europeu poderia prevalecer. No entanto, o que saltou aos olhos, infelizmente, foram os erros que acabaram por ser determinantes na eliminação do Brasil do Mundial.
No segundo tempo, após um cruzamento de Sneijder, Felipe Melo subiu para cortar a bola de cabeça. Mas além de atrapalhar a saída do goleiro Julio César, o volante desviou para dentro do gol, no que foi o empate da Holanda. Também numa bola alçada na área, o camisa 5 do Brasil não acompanhou o 10 laranja, que cabeceou sem marcação.
Mas no momento em que a situação estava complicada, Felipe Melo dificultou ainda mais a vida da seleção ao pisar em Robben após cometer uma falta aos 28 minutos da segunda etapa. Com eliminação do Brasil, aquela que até então era a grata surpresa passou a ser a triste rotina.
Felipe Melo não se desculpa pelos destemperos
Considerado o personagem da derrota por 2 a 1 para a Holanda, nesta sexta-feira, Felipe Melo se despediu da Copa do Mundo com um pedido de desculpas. Mas não pelo cartão vermelho recebido após pisão em Robben, e sim pela eliminação da seleção. Na avaliação do volante, que foi uma das principais apostas de Dunga, o árbitro foi exageradamente severo na punição que o tirou de campo aos 28 minutos do segundo tempo, pouco depois que o Brasil sofreu a virada.
– Peço desculpas ao torcedor pela eliminação. Assumi minha parcela de responsabilidade perante o grupo, mas não entrei para quebrar a perna do Robben, tanto que ele continuou jogando. É diferente de ser expulso por cuspir ou dar um soco na cara de alguém. Acho que, na partida contra Portugal, o Pepe foi mais desleal comigo. Mas talvez se eu tivesse dado umas cambalhotas ele teria levado o vermelho. Hoje o árbitro foi muito rude naquilo que pensou – disse o volante, lembrando a falta sofrida pelo jogador português no confronto pela primeira fase do Mundial.
Felipe Melo ainda analisou o gol contra marcado, que determinou o empate da Holanda e também lamentou a virada adversária, numa cabeçada de Sneijder, que mede 1,70m.
– O Julio Cesar estava atrás de mim, não sei se ele tocou na bola, e eu fui tentar cortar. Foi um balde de água fria, mas o segundo gol foi pior, porque é difícil ver um jogador daquele tamanho cabecear.
O camisa 5 do Brasil mostrou-se abatido na sua primeira grande decepção na curta trajetória na seleção.
– É difícil ver que um grupo como este não conquistou o título. Foi o time mais unido que a seleção já teve. Foram 43 dias focados e com muito comprometimento. É o ano mais difícil da minha carreira, minha primeira derrota na seleção e foi muito dolorida.
Fonte: G1 / Gospel+
Entrevista com Felipe Melo após a derrota do Brasil para a Holanda na Copa
O que essa eliminação significa para você?
É o momento mais difícil na minha vida. O ano mais difícil da minha vida. É a minha primeira derrota na seleção, justamente em uma eliminação. Na Juventus não ganhamos nada. Quero pedir perdão e desculpas para a torcida brasileira porque falhamos, não deu.
Você acha que a derrota é sua culpa, pela expulsão?
Não tenho que receber toda a culpa. É um grupo. Equipe é coletivo. Tenho minha parcela de culpa como cada um aqui tem. Eu peço desculpas não pela minha entrada, mas porque falhamos. Assim como todos os brasileiros, eu queria ser campeão mundial.
A expulsão foi correta?
Uma expulsão quando está perdendo o jogo é sempre complicado. O peso é muito difícil. Não agredi, não dei soco. Foi uma jogada que o juiz interpretou que era para vermelho. Eu acho que ele exagerou. Se o Robben não tivesse feito tanta cena, não teria acontecido nada.
Você tem medo de ficar conhecido como o vilão da eliminação?
Jamais pensei nisso [em ser apontado como vilão]. Não passa pela minha cabeça. Todo mundo que entende de futebol sabe tudo o que eu fiz pela seleção brasileira. Foi uma falta que o juiz interpretou. Não dei soco, não cuspi. Tive que pisar para tirar a bola e juiz interpretou que era para vermelho. Peço desculpas porque o Brasil perdeu, pelo nosso fracasso, não pela expulsão.
Você não está chorando. Por que?
Não tenho mais o que chorar, estou destruído por dentro. Já falei com minha família, é difícil ouvir um filho chorando, uma esposa chorando. Difícil é sair na frente do placar, te dá um animo diferente. Eu estava pensando na semifinal.
Fonte: UOL / Gospel+
Técnico Dunga fala em entrevista sobre Felipe Melo
Queria que você avaliasse a expulsão do Felipe Melo. O quanto isso prejudicou a Seleção Brasileira. O lance já havia ocorrido e ele foi lá e pisou no holandês, né? Numa atitude desnecessária e que, na minha visão pelo menos, prejudicou a Seleção Brasileira. Que naquele momento ia jogar com dez num momento decisivo de Copa, o que é complicado para qualquer seleção…
Dunga: Jogar com um jogador a menos em uma Copa do Mundo, com jogadores de qualidade da outra parte, sempre dificulta mais, né? Mas desde o início do jogo e no intervalo nós comentamos que o juiz estava sendo bastante pressionado. E algumas faltas que não eram ele estava marcando. Eu tive que trocar o Michel (Bastos) porque havia levado o cartão amarelo em um lance que nem falta foi. Não é desculpa. Mas é uma coisa que acontece e nós gostaríamos que não acontecesse. E que fosse diferente. Mas só quem estava lá dentro de campo pode ter uma noção melhor.
Dunga, queria que você avaliasse como foi a parcela de culpa do Felipe Melo. E gostaria de pedir uma análise sua também sobre o desempenho do Gilberto Silva. E gostaria de saber sobre o futuro de sua carreira, e você já pensou.
Dunga: O desempenho do Gilberto Silva está aí. Se você pegar as estatísticas da Fifa, ele sempre foi um dos jogadores mais regulares até o momento. Como comandante, acho que a culpa é de todos nós. Lógico que eu a maior parte. Mas seria injusto eu falar alguma coisa do Felipe, porque quando nós ganhamos, ganhamos todo mundo. Não foi a primeira vez que um jogador foi expulso dentro de uma Copa do Mundo, ou em uma partida. Então a responsabilidade é de todos. Quanto ao meu futuro, já se sabe bem quando eu cheguei na Seleção que eram quatro anos que eu ia ficar.
O Brasil perdendo por 2 a 1, o Felipe Melo é expulso, você fez a opção do Nilmar no lugar do Luís Fabiano e encerrou por aí as substituições. Não havia opção, no seu entender, de fazer uma terceira substituição capaz de modificar, ou tentar modificar, a situação do Brasil?
Dunga: Com um a menos fica difícil… Tentei colocar um jogador de mais velocidade, para se juntar com o Kaká e o Robinho, que eram (também) de velocidade. Já que o Daniel teve que fechar mais pelo meio e ficar perto do Gilberto Silva. E às vezes você trocar faltando cinco ou dez minutos não é algo que possa resolver muita coisa. Até jogador entrar na partida, entrar na dinâmica da partida, se leva mais tempo.
Fonte: Terra / Gospel+