O filho adotivo de Flordelis que assumiu ter feito os disparos contra Anderson do Carmo, Lucas Cézar dos Santos, disse à Polícia Civil em um depoimento prestado em 17 de dezembro do ano passado, que a carta que ele apresentou isentando seu irmão, Flávio dos Santos Rodrigues, de culpa no crime, foi redigida por sua mãe.
A morte do pastor Anderson do Carmo completou um ano na última terça-feira, 16 de junho, e a viúva, deputada Flordelis (PSD-RJ), realizou um culto em memória do marido.
Paralelamente, um vazamento de informações sobre o inquérito aumentam as suspeitas de seu envolvimento no crime como mandante.
O jornal Extra obteve um vídeo com um trecho do depoimento prestado por Lucas, em que ele afirma que Flordelis teria escrito a carta e enviado para ele através da mulher de um preso, na semana anterior à reconstituição do crime, em setembro de 2019.
No presídio Bandeira Stampa, no Complexo de Gericinó, zona oeste do Rio de Janeiro, ele declarou ter copiado o texto e afirmou que reconheceu a letra de Flordelis na carta original, indicando inclusive que estaria assinado pela mãe.
“A carta veio pra mim na mão. Só copiei a carta. Foi minha mãe que mandou pra mim a carta da rua”, garantiu Lucas no depoimento prestado à delegada Barbara Lomba, à época titular da Delegacia de Homicídio de Niterói, São Gonçalo e Itaboraí (DHNSGI). Depois que ele teria copiado o texto, a carta foi exibida por Flordelis no Fantástico, da TV Globo.
Na ocasião, a deputada federal disse que a correspondência teria chegado às suas mãos através da mulher de um preso. Já Lucas, no depoimento, disse que assumiu a responsabilidade pela morte do pastor Anderson do Carmo porque estaria farto de ver seu irmão, Flávio, “choramingando”.
“Todo dia era um chororô no meu ouvido. Mas no dia da audiência, eu ia chegar e mostrar a carta com a assinatura dela [Flordelis] pro juiz”, disse Lucas, alegando que tinha intenção de revelar a fraude. Entretanto, ele admitiu que aceitou fazer a carta em troca de ajuda de Flávio, quando ele deixasse a cadeia, e que após o acordo, “botaram um novo advogado”, numa referência a Marcelo Pires.
Como garantia de que pudesse denunciar a fraude, Lucas relatou que havia guardado a carta original, mas Flávio teria rasgado o papel após ele copiá-lo. Ele também contou que seu irmão o incentivou dizendo que a carta com a nova versão do crime ajudaria a “quebrar a reconstituição”.
Nessa carta, agora atribuída por Lucas a Flordelis, ele acusava outros dois irmãos — Wagner Andrade Pimenta, o Misael, e Alexander Felipe Matos Mendes, o Luan — de envolvimento na morte do pastor Anderson, e que ambos haviam oferecido vantagens para “dar um susto” no pai adotivo.
Para atender ao pedido, Lucas dizia no texto que contratou um terceiro: “O moleque já sabia o que ia fazer, mas deu ruim”, escreveu. Até aquele momento, Misael e Luan não tinham sido citados por qualquer outra testemunha como suspeitos.
Na primeira fase das investigações, a Polícia Civil concluiu que Flávio foi o responsável por atirar ao menos seis vezes contra a vítima na garagem da casa da família, em Pendotiba, Niterói. Ele próprio confessou o crime à DHNSGI. Já Lucas, de acordo com as investigações, ajudou o irmão a comprar a arma usada no crime.