Um filme de animação voltado ao público infantil e produzido por um muçulmano pode estar chegando ao Brasil em breve para contar a origem do islamismo e, ao mesmo tempo, fazer apologia ao discurso de combate aos “infiéis”, termo usado na religião para se referir a cristãos, judeus e qualquer um que não siga as doutrinas de Maomé.
O filme Bilal: A New Breed of Hero é uma produção árabe, feita por uma empresa sediada em Dubai chamada Barajoun. O roteirista é Ayman Jamal, fundador da empresa e empreendedor do ramo, além de muçulmano.
A história contada pelo longa-metragem de animação é baseada em fatos reais e conta a trajetória de um jovem etíope chamado Bilal Ibn Rabah, que foi feito escravo e depois de comprado por um braço-direito de Maomé, se tornou um dos primeiros seguidores do líder islâmico.
A produção contou com uma grande estrutura, tendo uma equipe de 250 animadores e toda produzida no Oriente Médio, onde fez grande sucesso de público. Agora, a partir de um acordo comercial, o filme será lançado nos Estados Unidos e também em Portugal, onde receberá o título Bilal: A Lenda.
De acordo com informações do portal Variety, Ayman Jamal incluiu um discurso anticapitalista no roteiro através das cenas que mostram o comércio de escravos 1.400 anos atrás. O proselitismo religioso pró-islâmico também está presente, com a religião sendo descrita como a mais “inclusiva” de todas por reunir negros e escravos junto a árabes.
Apresentando o islamismo como a única fé “libertadora”, o filme avança sobre fatos históricos, mostrando Bial nas batalhas de Maomé para dominar Meca e Medina, cidades hoje consideradas sagradas para a religião.
“Prestamos muita atenção aos detalhes. Contratamos 11 pesquisadores, incluindo alguns com doutorado, para nos ajudar a escrever a história desse personagem, usando 17 fontes históricas diferentes”, contextualizou Jamal.
“Desenhamos cada um com base nessas descrições e o que sabemos sobre as tribos da época. Foram cerca de seis meses para projetar cada personagem. Queríamos mostrar a vida dos personagens exatamente como foram descritas em textos históricos, não usando a nossa imaginação”, acrescentou o roteirista e produtor.
Durante a divulgação do filme – lançado em 2015 nos países muçulmanos – Jamal afirmou que Bilal tem a pretensão de inspirar jovens a buscarem um ideal de vida, contando a história do escravo que queria ser um grande guerreiro e alcançou isso seguindo Maomé.
O trailer do filme mostra cenas de batalhas e a representação tem um tom de violência considerado alto para os padrões ocidentais, mas consideradas normais nos países muçulmanos, onde as crianças são treinadas desde cedo para a batalha contra os “infiéis”.
Com tudo isso, porém, Jamal afirmou que está bastante esperançoso que seu filme faça sucesso no Ocidente e que tem planos de usar todo o lucro em novos longa-metragens com a mesma abordagem, mostrando o islamismo “sob uma luz positiva”.