A mais cara e custosa “novela bíblica” da RecordTV, Gênesis, está sendo criticada por ter pouco a ver com o registro bíblico na fase atual, em que conta a história de Ur dos Caldeus e a origem de Abraão.
A jornalista Aline Ramos, do portal Uol, publicou uma resenha sobre a quarta fase da novela mais ambiciosa já produzida pela RecordTV, e criticou a falta de relação da trama com os fatos bíblicos, considerando-a “longa e cansativa”.
“Com objetivo de contar a história dos pais de Abraão e fazer uma ligação entre uma fase e outra da novela, Gênesis abusou da boa fé de seu público ao estender mais do que deveria a história da cidade de Ur”, argumentou Aline.
Para a jornalista, “o grande problema é que pouca coisa nessa fase é baseada na Bíblia, o que gera frustração em quem espera justamente uma novela bíblica”.
A escassez de detalhes do primeiro livro bíblico é um dos principais fatores que obrigam os autores Camilo Pellegrini, Raphaela Castro e Stephanie Ribeiro a improvisarem.
“O personagem principal da trama, Terá, é apenas citado no livro sagrado, coisa de uma linha. Porém, como ele é pai de Abraão, optou-se por usar a licença poética e criar uma história para conectar os personagens e apresentar um contexto mais rico em detalhes”, contextualizou Aline Ramos.
Em sua crítica, a jornalista pondera que “é sempre um grande desafio adaptar obras literárias para filmes, séries ou novelas”, e pontua que “a dificuldade é ainda maior” quando essa adaptação envolve a Bíblia.
“Além de ser um livro sagrado, a Bíblia não é um livro como outro qualquer. O estilo de texto e narrativa é diferente do que estamos habituados, o que dificulta a adaptação”, reconheceu.
A produção da novela, que se debruçou sobre detalhes, foi o contraponto na resenha: “Os autores de Gênesis estão certos em aproveitar a licença poética para construir a novela, mas é importante ressaltar que nesse caso o recurso não significa um completo desprendimento da história real”.
“Para a fase de Ur dos Caldeus, a novela contou com consultoria de historiadores, antropólogos, teólogos e arqueólogos. Costumes, hierarquia social, vestimentas e arquitetura da sociedade de Ur foram reproduzidos nos mínimos detalhes. Disso não há do que reclamar. A superprodução de Gênesis não está apenas nos efeitos especiais”, elogiou.
O balanço da quarta fase da novela, na visão de Aline Ramos, é negativo, mesmo com as devidas ponderações: “O problema mesmo está na duração dessa fase. O telespectador está acompanhando há mais de um mês uma história que não lembra um capítulo ou sequer um versículo da Bíblia. No momento, os dramas de Gênesis são de uma novela qualquer”.
“Ninguém precisa de Gênesis para assistir histórias de traição, vingança, inveja e assassinato. Ao deixar o público tanto tempo sem uma conexão direta com a Bíblia, a novela perde a sua principal vantagem e qualidade”, avaliou a jornalista.