Fernando Haddad (PT) afirmou, em duas entrevistas recentes, que seu ataque ao bispo Edir Macedo visa combater um projeto religioso de poder da Igreja Universal do Reino de Deus, que segundo ele, visaria o controle do Estado e o estabelecimento da denominação como “igreja oficial” do país.
O candidato petista à presidência da República afirmou que Edir Macedo tem planos de formar uma hegemonia religiosa e que, para isso, resolveu investir em Jair Bolsonaro (PSL) para que o candidato conservador transforme a Igreja Universal do Reino de Deus em religião “oficial” no Brasil.
“Eu serei o presidente de todas as religiões, de todas as crenças. Eu, ao contrário dele, não vou transformar uma única igreja, na igreja oficial do Estado, como ele pretende, um projeto de poder de uma única igreja”, disse Haddad ao jornalista Leonardo Sakamoto, do portal Uol.
Sakamoto – conhecido por suas posições pró-esquerda – questionou Haddad sobre detalhes do suposto plano de Edir Macedo para transformar a Universal em religião oficial do Brasil, e o ex-prefeito paulistano fez referência ao livro Plano de Poder, de Edir Macedo e Carlos Oliveira, lançado em 2008.
“Nós sabemos, já falei isso publicamente, mas você sabe que tem livro escrito sobre um plano de poder de uma única igreja no país que ele abraçou. Do meu ponto de vista, o Estado tem que acolher todas as crenças religiosas. Não pode ter religião oficial no Brasil. Judeus, ateus, muçulmanos, cristãos, matriz afro, todo mundo tem lugar no Brasil, é cidadão brasileiro. E tem que receber a mesma proteção do Estado que qualquer outra pessoa”, acrescentou Haddad.
O mesmo tema foi abordado durante entrevista ao jornalista Bob Fernandes, da TVE Bahia, e Haddad foi questionado novamente sobre o motivo de ter feito um ataque a Edir Macedo em uma declaração à imprensa na última sexta-feira, 12 de outubro, logo após participar de uma missa em São Paulo. E novamente o petista reiterou as acusações.
“Sabe qual é o problema? O problema que eu vejo é uma igreja ter pretensões de governar o país, quando na verdade é o contrário: o Estado tem que abraçar todas as crenças, todas. Judeus, muçulmanos, cristãos, ateus. Todo mundo é cidadão brasileiro. O Estado tem que ser representante de todas essas crenças e protegê-las. É assim que você garante liberdade religiosa”, afirmou.
“Agora, quando uma pessoa escreve um livro chamado Plano de Poder, visando poder de Estado, escolhe um candidato, coloca tudo nesse candidato, ofende a Igreja Católica sempre que tem oportunidade, coloca uma televisão a serviço desse candidato. Um candidato que chamou dom Paulo Evaristo Arns de vagabundo e picareta. Chama correligionários dele que me perseguiram em Brasília chamando a Igreja Católica de ‘igreja gay’, ‘igreja comunista’… Eu penso que nós estamos tangenciando um problema mais sério”, disse.
Bob Fernandes ensaiou uma provocação a Haddad sobre por qual motivo o governo petista, ao longo dos anos, não agiu de forma prática para coibir a locação de horários na TV por igrejas evangélicas das diversas correntes teológicas, sugerindo que a “permissão do Estado” teria gerado a formação “ideológica” que hoje gera oposição ao PT.
Esse tipo de ação, sugerida por Bob Fernandes na entrevista – e também clamada por outros jornalistas especializados na cobertura de TV, como por exemplo, Ricardo Feltrin, do Uol – foi ensaiada pelo PT durante o primeiro governo de Dilma Rousseff. À época, o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo (PT), foi pressionado por lideranças evangélicas e recuou da proposta.
Nesse ponto da entrevista, o candidato recuou, falando sobre suas origens e a história de vida de seu avô, que após ficar viúvo tornou-se um padre ortodoxo libanês que, segundo Haddad, até hoje é celebrado na sua região de origem. E acrescentou: “O Estado tem que garantir as liberdades religiosas de todas as crenças. Nós não podemos tomar partido por uma, em detrimento da outra. Quando eu vejo um candidato à presidência ofender um dos maiores cardeais que São Paulo já teve […] eu começo a me preocupar”.