A postura de adotar uma linha de menos ostentação durante seu pontificado colocou o papa Francisco no centro de uma polêmica na Itália, e gerou declarações no mínimo curiosas por parte de historiadores.
O escritor e historiador Vittorio Messori criticou a postura de Francisco ao dizer que a Igreja Católica não é pobre e nem deve se portar como tal, pois “Jesus não era um morto de fome”.
Na entrevista ao jornal Il Fatto Quotidiano, Messori fez analogias bastante polêmicas para explicar sua visão sobre o ministério de Jesus: “Ele vestia Armani, as suas vestes eram raras e luxuosas para a época. Ele tinha um tesoureiro que o traiu e, portanto, também um tesouro”, afirmou.
Um colega de Messori, o professor Roberto Rusconi, pondera sobre a questão: “Certamente, Jesus não era um pedinte e talvez José também não. O sentido da sua mensagem e da sua vida, não por acaso sintetizado por Francisco de Assis, está no não possuir, pois a posse gera poder”.
Rusconi vai mais a fundo ao dizer que o problema da Igreja Católica não está nas riquezas que possui, e sim, na forma como a utiliza: “De um certo ponto de vista, nunca existiu uma Igreja pobre, enquanto que a Igreja sempre teve – como instituição – o problema de como gerir os bens que possuía, que geravam riqueza e principalmente poder. Entre os seguidores de Francisco de Assis, que haviam partido com a rejeição de toda forma de propriedade e, portanto, de poder, e que depois foram se enchendo de esmolas e bens, abriu-se a discussão sobre a possibilidade de um usus pauper. Em outras palavras, pode ser extremamente anti-histórico usar a categoria de pobreza fora do contexto. O problema da Igreja consiste nos bens que geram a riqueza e não são utilizados para os pobres”, contextualizou.
O professor conclui seu raciocínio criticando as declarações de Messori: “[O papa] escolheu o nome de Francisco. A sua insistência sobre a pobreza e os pobres deve ser remetida a essa chave: quem são os pobres e que uso se pode fazer dos bens da Igreja para os que precisam. Se a Igreja de Roma deve se livrar das riquezas, isso não se faz em um dia. Se quisermos nos colocar no plano das piadas, é fácil demais. Na cruz, Jesus não estava vestido com Armani, e o sepulcro não havia sido projetado por Renzo Piano [arquiteto italiano renomado]”.
Por Tiago Chagas, para o Gospel+