O mais novo escândalo envolvendo a Igreja Católica indica que a liderança da denominação no estado da Pensilvânia (EUA) agia de forma prática para abafar os casos em que sacerdotes eram acusados de abusos sexuais.
A Justiça norte-americana revelou que os representantes da Igreja Católica eram orientados a manter as acusações em sigilo usando táticas como o uso de termos relativos, perguntas inconvenientes às vítimas e, acima de tudo, manter os casos em um “arquivo secreto” que jamais chegasse à Polícia.
“É como um manual para esconder a verdade”, pontuou o grande júri, cuja investigação identificou mais de mil vítimas de abuso sexual em seis dioceses católicas na Pensilvânia ao longo dos últimos 70 anos.
O relatório sobre a investigação foi divulgado na última terça-feira, 14 de agosto. Segundo informações do jornal O Globo, no Poder Judiciário norte-americano, o “grande júri” é um organismo que decide se uma investigação criminal deve ser transformada em processo judicial, com a acusação formal dos acusados.
O Centro Nacional de Análise de Crimes Violentos do FBI designou agentes para uma revisão das evidências coletadas pelo júri, e foram identificadas práticas que se repetiram de maneira regular nas seis dioceses investigadas, com o propósito de encobrir denúncias de abuso.
“Apesar de cada distrito da Igreja ter suas idiossincrasias, o padrão era praticamente o mesmo […] O principal não era ajudar as crianças, mas evitar o ‘escândalo’. Essa não é a nossa palavra, mas a deles. Aparece repetidamente nos documentos que recuperamos”, indicou o relatório.
Confira a descrição do grande júri a respeito dos métodos da Igreja Católica para encobrir o abuso e proteger os padres na Pensilvânia:
Primeiro, certifique-se de usar eufemismos em vez de palavras reais para descrever as agressões sexuais nos documentos da diocese. Nunca diga “estupro”; diga “contato inadequado” ou “problemas de limite”.
Segundo, não conduza investigações genuínas com pessoal devidamente treinado. Em vez disso, designe membros do clero para fazer perguntas inadequadas e depois faça julgamentos sobre a credibilidade dos colegas com quem vivem e trabalham.
Terceiro, para uma aparência de integridade, envie padres para “avaliação” nos centros de tratamento psiquiátrico administrados pela Igreja. Permita que esses especialistas “diagnostiquem” se o padre era um pedófilo, baseado em grande parte nos “autorrelatos” do padre, e independentemente de o padre ter realmente se engajado em contato sexual com uma criança.
Em quarto lugar, quando um padre precisa ser removido, não diga o motivo. Diga aos seus paroquianos que ele está de “licença médica” ou que sofre de “esgotamento nervoso”. Ou não diga nada.
Quinto, mesmo que um padre esteja estuprando crianças, continue fornecendo-lhe moradia e pagando suas demais despesas, embora ele possa estar usando esses recursos para cometer mais agressões sexuais.
Em sexto lugar, se a conduta de um predador se tornar conhecida da comunidade, não o remova do sacerdócio para garantir que não haja mais crianças vitimadas. Em vez disso, transfira-o para um novo local onde ninguém saiba que ele é um abusador de crianças.
Finalmente e acima de tudo, não diga à polícia. O abuso sexual de crianças é e tem sido, em todos os momentos relevantes, um crime. Mas não trate dessa maneira; lide com isso como uma questão pessoal, que deve ser resolvida “dentro de casa”.