O senador Marcelo Crivella (PRB-RJ), bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus, comentou os escândalos de corrupção na Petrobras e criticou a atuação da imprensa, que estaria trabalhando em bases preconceituosas contra os evangélicos no noticiário.
O escândalo desvendado pela Operação Lava-Jato trouxe à tona depósitos feitos por um dos envolvidos no esquema em uma conta bancária de uma filial da Assembleia de Deus Ministério Madureira em Campinas (SP), que supostamente, repassaria os valores ao deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
Para Crivella, a postura da imprensa ao noticiar o fato e as investigações “estigmatiza o Brasil de país essencialmente corrupto, com instituições displicentes, despreparadas, incompetentes e, talvez, coniventes”, e reclama que há exagero na atenção da mídia ao caso: “Para manter a atenção da população, parte da imprensa brasileira eleva o tom, o que lhe faz correr o risco de resvalar para a intolerância, a truculência e as insinuações”, escreve o senador, em artigo publicado pelo jornal Folha de S. Paulo.
No texto, Crivella classifica a imprensa como “máquina de moer reputações” e acusa a mídia de “envolver a igreja Assembleia de Deus na Operação Lava Jato por ter, supostamente, recebido propina”.
O político da Universal se esquece, no entanto, de que os fatos noticiados foram revelados por investigadores, não inventados pelas redações Brasil afora numa conspiração contra os evangélicos. Ao longo do artigo, Crivella diz que a sociedade brasileira assiste, “mais uma vez”, a expressão “de um primitivo sentimento antirreligioso contra evangélicos”.
“Entre as pessoas comprovadamente envolvidas nos crimes, há praticantes das mais diversas religiões, sem que isso – felizmente – tenha sido objeto de interesse. As igrejas que eles frequentam – felizmente – nunca foram objeto de interesse jornalístico”, pontua o senador, antes de fazer referência a Cunha, sugerindo que há perseguição contra o parlamentar, que é membro do Ministério Madureira: “No caso de um personagem evangélico, porém, foram publicados o nome e a fotografia da igreja, assim como a identidade de seus dirigentes. Repórteres fizeram plantão em frente a um local de culto”, critica.
Crivella vai além em seu argumento e destaca que não há provas de que o dinheiro tenha sido repassado a Cunha, e diz que os valores podem ter sido ofertados à igreja pelo lobista Júlio Camargo, operador confesso do petrolão, através de uma de suas empresas. Indiretamente, o senador desacredita a delação premiada de Camargo e seus depoimentos à Justiça.
“A conta dessa igreja recebeu dinheiro de uma empresa investigada no escândalo. Alto lá! A doação é de 2012 e à época ninguém cogitava os escândalos apurados pela Operação Lava Jato. Mas não importa que ninguém soubesse que a oferta poderia ter relação com algum crime. A própria informação, aliás, é inverossímil: por que alguém tentaria ‘lavar’ dinheiro por meio de uma igreja que não contrata consultorias, palestras e serviços afins? Como se daria essa triangulação? As doações foram feitas em 31 de agosto de 2012. Teriam sido usadas para a compra de votos em favor de um deputado. Naquele ano, porém, o deputado não disputou eleição alguma. A igreja não sabia que o doador poderia estar envolvido em negócios escusos nem recebeu recursos em troca de apoio eleitoral”, contextualiza Crivella.
Mais adiante, na conclusão de seu artigo, o senador volta a se queixar da forma como o escândalo vem sendo noticiado pela imprensa em geral: “O último Censo do IBGE, de 2010, mostrou que Assembleia de Deus tinha naquele ano 12 milhões de membros espalhados pelo território brasileiro. São dezenas de milhares de templos e centenas de milhares de pastores, diáconos e obreiros. Não é justo atingi-los, na figura de seus líderes. Nenhum deles sabia nada sobre o preço de navios-sonda coreanos superfaturados encomendados pela Petrobras”, finaliza.