Um pastor foi preso pela Polícia do Quênia depois que dezenas de corpos foram encontrados enterrados em uma floresta, em covas rasas. A suspeita é que o religioso tenha orientado essas vítimas a um jejum extremo que os levaram a morrer de fome.
As autoridades continuam a recuperar corpos em uma floresta de 800 acres (3,2 milhões de metros quadrados). Até esta terça-feira, a contagem já havia superado 70 vítimas.
O inspetor geral da polícia do Quênia, Japhet Koome, disse que a investigação, até aqui, aponta que muitas das vítimas eram membros da Good News International Church, que está sendo descrita como uma seita.
O líder dessa seita, “pastor” Paul Nthenge Mackenzie, foi preso na cidade de Malindi. O caso levou o presidente do país, o evangélico William Ruto, a comparar a situação como um caso de “terrorismo”.
“Os terroristas usam a religião para promover seus atos hediondos”, disse ele, de acordo com informações do jornal The New York Times.
Mackenzie foi preso em 14 de abril depois que as autoridades resgataram mais de 15 pessoas de sua propriedade, quatro das quais estavam em estado crítico e morreram logo depois. Ele foi indiciado pelo Tribunal de Justiça de Malindi, que determinou sua prisão preventiva por duas semanas, enquanto a investigação é concluída.
“As descobertas recentes ainda estão em andamento”, disse uma funcionária Ministério Público do Quênia, falando sob condição de anonimato. “Portanto, até que a polícia termine e declare que esgotou a terra e declare que não há mais corpos, o assunto não será levado a tribunal”, acrescentou.
Denúncia
Os crimes vieram à tona depois que uma denúncia de moradores da região indicavam que havia pessoas na propriedade de Mackenzie em condição de fome extrema.
“A informação que recebemos é que as pessoas estavam morrendo de fome depois de serem radicalizadas por um certo membro de uma igreja que lhes disse que seu trabalho neste mundo havia terminado e que deveriam morrer e ir ver seu criador”, disse o investigador Charles Kamau.
“O cheiro é insuportável”, disse Hussein Khalid, que dirige uma organização de defesa dos direitos humanos, em entrevista à BBC.
O número de mortos pode ser maior depois, já que a Cruz Vermelha disse que 112 pessoas foram dadas como desaparecidas. A polícia diz que 29 sobreviventes foram vistos até agora, mas aparentemente nem todos querem ser resgatados, sendo que alguns deles demonstram estar plenamente convencidos sobre o que o “pastor” Mackenzie lhes disse sobre o fim do mundo.
Uma das vítimas sobrevivente ao jejum extremo é uma mulher de aproximadamente 20 anos de idade, que recusou ajuda: “Quando tentamos dar-lhe os primeiros socorros e água com glicose, ela não concorda. Ela fecha a boca e nos dá sinal de que não quer ajuda”, disse Khalid.
Outro caso é o de um homem de 40 anos que ainda conseguia falar quando foi abordado: “Ele disse que não precisava de nenhuma salvação e que sabia o que estava fazendo e deveria ser deixado em paz. Ele até nos chamou de inimigos que queriam impedir de ir para o céu”, encerrou Khalid.