O filme que narra a história de vida do fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, bispo Edir Macedo, alcançou o recorde de bilheteria no cinema nacional e, assim como aconteceu na grande mídia brasileira, chamou atenção do principal jornal francês, Le Monde, que o classificou como uma demonstração de poder do segmento evangélico no Brasil.
Nada a Perder foi tema de uma matéria de página inteira na revista M, do jornal francês, produzida pela jornalista Claire Gatinois, correspondente do veículo no Brasil. No texto, a polêmica envolvendo as críticas negativas sobre o filme e o desempenho nas bilheterias ganha espaço.
Gatinois repercute a avaliação feita pelo jornal O Globo de que o filme se assemelha a um vídeo de campanha política, e a afirmação da Folha de S. Paulo de que o longa é parte de um projeto da Igreja Universal para ampliar e aprofundar sua influência na cultura brasileira.
De acordo com a RFI, a matéria de Claire Gatinois para a revista do Le Monde “se interessa principalmente pelo fato de que, ao tentar assistir ao filme nos cinemas, constatou que todas as sessões estavam completas”, com todos os ingressos vendidos.
A jornalista, inclusive, dá um passo além na acusação feita pela grande mídia brasileira e narra o depoimento de um funcionário da bilheteria do cinema que afirmou que todos os ingressos eram comprados por Edir Macedo.
“Um batalhão de pastores, preocupados em iluminar seus rebanhos carentes, teria desembolsado milhares de reais para comprar os ingressos e, em seguidas, distribui-los gratuitamente durante os cultos”, afirma Gatinois, indicando o que seria uma modalidade de lavagem de dinheiro.
Resposta
A matéria do Le Monde abre espaço para o posicionamento da Igreja Universal do Reino de Deus, que reiterou as críticas feitas à imprensa brasileira, acusando os veículos de informação de preconceito.
“Os fiéis se mobilizaram para que o maior número de pessoas fosse ver o filme”, disse a assessoria da Igreja Universal ao jornal francês, acrescentando que o longa fez sucesso por “mostrar a verdadeira história de Edir Macedo”.
Porém, o texto de Claire Gatinois lembra que o bispo fundador da Universal é um personagem controverso, descrito pela a imprensa como um “bilionário acusado de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha, fraudes e evasão fiscal”, enquanto os fiéis da denominação o admiram sem ressalvas.
“Obra de arte para os crentes, fisco para os cinéfilos e máquina de lavar dinheiro sujo para os mais desconfiados”, resume a jornalista. “Mas uma coisa é certa: Nada a Perder ilustra o poder crescente dos cultos evangélicos no Brasil, que passou de 5% de fieis nos anos 1970 para 22% atualmente”, conclui.