Os líderes evangélicos Manoel Ferreira e Robson Rodovalho, que apoiam Dilma Rousseff (PT), criticaram nesta segunda-feira o comando da campanha petista pela lentidão na resposta à onda de boatos na internet que confrontavam a candidata com valores cristãos. Deputado federal (PP-DF) e presidente da igreja Sara Nossa Terra, o bispo Rodovalho disse que teria alertado “durante todo o processo” que mensagens apócrifas atribuíam a Dilma a frase “nem Cristo vai impedir que eu vença a eleição no primeiro turno”, entre outras acusações, mas a resposta do comitê só foi dada na última semana de campanha:
– Avisei que havia essa fragilidade e que precisávamos estancar, mas faltou rapidez.
O presidente da Assembleia de Deus de Madureira, pastor Manoel Ferreira, que participou com Rodovalho de uma reunião na quarta-feira passada no escritório político de Dilma, em Brasília, convocada às pressas para frear a boataria, disse que uma resposta mais rápida poderia ter garantido “os pontinhos que faltaram” para a vitória da petista no primeiro turno. No encontro com duas dezenas de líderes religiosos, incluindo representantes da igreja católica carismática, Dilma reafirmou a sua posição pessoal contrária ao aborto e negou publicamente que tivesse dito a frase sobre Cristo.
– Se tivéssemos apagado o incêndio no primeiro momento, o resultado seria outro – disse Manoel Ferreira.
O pastor preside um dos ramos da maior igreja evangélica pentecostal do Brasil (de acordo com o Censo de 2.000, 8,4 milhões de fiéis), enquanto Rodovalho diz contar com um rebanho de 1 milhão de pessoas na Sara Nossa Terra. Ele disse que a onda de boatos tentou resgatar “a imagem do passado” de Dilma, associando-a de forma terrorista ao desprezo aos valores cristãos. Segundo ele, “todo mundo” na igreja tomou conhecimento dos boatos.
– Foi coisa montada. A internet passou a ser um veículo do submundo da política.
Embora associe o bom desempenho de Marina Silva (PV) a uma série de fatores, o professor Cesar Romero Jacob, autor de estudos sobre a geografia do voto e a filiação religiosa no Brasil, disse que a questão religiosa contribuiu para o sucesso da candidata verde. Entre outras razões, Cesar disse que os pentecostais têm demonstrado, nas últimas eleições, uma tendência a votar em “irmãos” como Marina, que também pertence à Assembleia de Deus. Em pesquisas anteriores, o cientista político detectara essa tendência na eleição presidencial de 2002, quando o evangélico Anthony Garotinho ficou em terceiro lugar, e de Marcelo Crivella, quando disputou a prefeitura carioca em 2004.
– Os mapas de votação de Garotinho e Crivella praticamente se sobrepõem à distribuição geográfica dos pentecostais no Brasil, principalmente nas áreas de fronteira e na periferia pobre das grandes cidades, e no Rio.
Cesar lembrou que o governador eleito Geraldo Alckmin (SP), candidato pelo PSDB a presidente em 2006, também sofreu semelhante onda de boataria, que o classificava como um representante da Opus Dei, entidade católica considerada controversa por suas práticas de auto-flagelação para remissão de pecados.
Fonte: O Globo / Gospel+