O ex-presidente Lula (PT) deixou a carceragem da Polícia Federal em Curitiba (PR) na última quarta-feira, 14 de novembro, 222 dias após ser preso pela condenação em segunda instância por crime de corrupção e lavagem de dinheiro. Ele foi levado à 13ª Vara da Justiça Federal para prestar depoimento no julgamento do processo relacionado ao sítio de Atibaia (SP).
Demonstrando irritação, o ex-presidente afirmou que se vê sem alternativas para mudar os rumos do processo: “Eu não sei o que fazer a não ser esperar por Deus ou que esse País tenha Justiça, porque eu sou vítima do maior processo de mentira que esse País já conheceu”, disse o ex-presidente em resposta a um questionamento de seu advogado, Cristiano Zanin. “Eu tô cansado, não sei até onde isso vai”, admitiu.
Lula, como de costume, deu demonstrações de megalomania ao dizer que há uma conspiração sem paralelos contra ele: “Eu sou vítima do maior processo de mentira que esse país já conheceu. Não acredito que tenha na história da humanidade um ser humano que é vítima de perseguição mentirosa desde 2005”.
Ao longo do depoimento, reiterou que se considera inocente e disse não saber que viverá tempo suficiente para que “a verdade venha à tona”. Aos 73 anos, atualmente Lula cumpre sentença de 12 anos e 1 mês de prisão no caso relacionado ao tríplex de Guarujá (SP).
O atual processo investiga a propina das empreiteiras OAS, Odebrecht e Schahin para reformas com custo de de R$ 1,02 milhão no sítio localizado na cidade interiorana do estado de São Paulo. A juíza responsável pelo caso, Gabriela Hardt – que substitiui Sérgio Moro, gozando férias antes de assumir o Ministério da Justiça – demonstrou bastante rigidez durante o depoimento.
A postura de Lula foi criticada pela juíza, logo após o ex-presidente questionar se era “dono do sítio ou não”. Hardt foi bastante dura na resposta: “Isso é o senhor que tem que responder, não eu, e eu não estou sendo interrogada neste momento. Senhor ex-presidente, esse é um interrogatório e se o senhor começar nesse tom comigo a gente vai ter problema. Então vamos começar de novo, eu sou a juíza do caso, eu vou fazer as perguntas que eu preciso para que o caso seja esclarecido, para que eu possa sentenciá-lo, ou algum colega possa sentenciá-lo… Eu não vou responder interrogatório nem questionamentos aqui, está claro?”
A irritação de Lula, no entanto, foi expressada em outros momentos do depoimento. O réu afirmou que o delator da Operação Lava-Jato, Aberto Youssef, era “amigo” de Sérgio Moro desde o caso do Banestado, nos anos 1990. A juíza Gabriela Hardt interveio e negou: “Ele não vai fazer acusações ao meu colega [Sérgio Moro], nunca foi amigo [de Alberto Youssef]. É melhor o senhor parar com isso”, alertou novamente.
Lula, então, recuou: “Às vezes fico nervoso, mas não é pessoalmente com ninguém, tenho respeito pela instituição”, disse, antes de voltar a tentar desacreditar o Ministério Público: “Fico nervoso com as mentiras contadas no Power point [apresentado pelo procurador Deltan Dallagnol]. […] Eu me considero um troféu, eu era um troféu que a Lava-Jato precisava entregar. A ponto que disse ao juiz Moro, lamento dizer que você não terá outra alternativa senão me condenar. Me sinto vítima do processo do tríplex, do sítio, do terreno”.
“O primeiro processo que eu fui vítima foi uma farsa, uma mentira do Ministério Público com um power point. A segunda é outra farsa e eu estou pagando esse preço. Eu vou pagar porque sou um homem que crê em Deus, creio na Justiça e um dia a verdade vai prevalecer”, acrescentou Lula.
Em outro momento tenso, o ex-presidente afirmou que se fosse presidente do PT quando Deltan Dallagnol apresentou o escopo da denúncia à imprensa, estimularia a todos os filiados que processassem o Ministério Público. A juíza voltou a repreendê-lo.
“Eu estou cansando, não sei até onde isso vai e o que vai acontecer. É um processo de mentira atrás de mentira… e tudo começou com o power point, se o power point tivesse sido desmentido no ato em que ele foi feito”, disse Lula. “Eu vou dizer uma coisa para você, procurador, que eu não poderia dizer. Quando eu vi o power point, eu falei para o PT, se eu fosse o presidente do PT, eu pediria para que todos os filiados do PT no Brasil inteiro abrissem processo contra o Ministério Público para ele provar”, afirmou.
Gabriela Hardt, então, interrompeu Lula: “O senhor está intimidando a acusação assim. Por favor, vamos mudar o tom. O senhor está intimidando, instigando. O senhor está intimidando, eu não vou permitir”, afirmou a magistrada.
Lula foi o último acusado a prestar depoimento no processo do sítio. Agora, a Justiça Federal deve abrir o prazo para que acusação e defesa apresentem alegações finais antes que a sentença seja expedida.