O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) escreveu um artigo em que se apresenta como um salvador injustiçado, fazendo referência ao Cristo na cruz ao sintetizar suas lamúrias contra o processo que o condenou à cadeia por corrupção e lavagem de dinheiro com a frase “afasta de mim este cale-se”.
A troca de cálice por “cale-se” é uma afirmação de que sua prisão seria uma orquestração política para censurá-lo e tirá-lo da disputa presidencial em outubro, quando os brasileiros elegerão o presidente que comandará o país pelos próximos quatro anos.
“Podem me prender. Podem tentar me calar. Mas eu não vou mudar esta minha fé nos brasileiros, na esperança de milhões em um futuro melhor. E eu tenho certeza de que esta fé em nós mesmos contra o complexo de vira-lata é a solução para a crise que vivemos”, escreveu Lula, no artigo publicado pelo jornal Folha de S. Paulo.
No texto, o ex-presidente reverbera o discurso de que não há provas contra ele – apesar de a sentença do juiz Sérgio Moro conter mais de 200 páginas –; de que o impeachment de Dilma Rousseff (PT) seria uma trama sem provas armada por Michel Temer (MDB).
Também sugere que o cenário econômico brasileiro piorou (embora os números apontem para outra conclusão), e que a concessão a empresas privadas para exploração do pré-sal seria o fim da soberania nacional, dentre outras teses.
Lula tergiversa para fazer parecer que não há legitimidade no processo que o condenou e que as sanções que sofre, como a perda de liberdade e impossibilidade de se candidatar por determinação da Lei da Ficha Limpa, são uma tramoia qualquer para persegui-lo.
“Semana passada, a juíza Carolina Lebbos decidiu que não posso dar entrevistas ou gravar vídeos como pré-candidato do Partido dos Trabalhadores, o maior deste país, que me indicou para ser seu candidato à Presidência. Parece que não bastou me prender. Querem me calar”, queixa-se, como se aspirações políticas estivessem acima das leis que o sentenciaram à prisão, em situação semelhante à de milhões de detentos que também não têm permissão de gravar comerciais e conceder entrevistas.
“Aqueles que não querem que eu fale, o que vocês temem que eu diga? O que está acontecendo hoje com o povo? Não querem que eu discuta soluções para este país? Depois de anos me caluniando, não querem que eu tenha o direito de falar em minha defesa?, questionou Lula.
Ao final, o ex-presidente encerra o artigo selando a imagem de vítima que faz de si mesmo: “Eu posso estar fisicamente em uma cela, mas são os que me condenaram que estão presos à mentira que armaram. Interesses poderosos querem transformar essa situação absurda em um fato político consumado, me impedindo de disputar as eleições”.