A troca de farpas entre o pastor Silas Malafaia e Eduardo Bolsonaro envolveu também a influência decisiva sobre a campanha eleitoral à presidência do ano passado, após outra declaração polêmica feita pelo filho do presidente Jair Bolsonaro na mídia brasileira.
Segundo Eduardo Bolsonaro, o escritor e pensador independente, Olavo de Carvalho, que ganhou fama no Brasil entre a militância política de direita ao publicar vídeos criticando a esquerda no país, seria “uma das pessoas mais importantes da história do Brasil”.
“Olavo de Carvalho é uma inspiração, e sem ele Jair Bolsonaro não existiria”, disse Eduardo, aparentemente referindo-se à ascensão do seu pai e a consequente vitória nas eleições do ano passado, segundo informações do jornal Folha de São Paulo
A declaração, no entanto, despertou a crítica do pastor Malafaia, que classificou tal insinuação como “simplesmente ridícula”, por desprezar todo o contexto político e cultural vivenciado pelo Brasil nos últimos anos, o qual inclui o forte protagonismo dos evangélicos não apenas na política, mas na sociedade dentro e fora do Brasil.
“O QUE O PRESIDENTE BOLSONARO FALOU DIVERSAS VEZES: Se 80% dos evangélicos me apoiarem eu vou ser eleito presidente. Foi o que aconteceu. Vem agora seu filho, aprendiz de político, dizer q Olavo de Carvalho é o maior responsável pela vitória do pai. SIMPLESMENTE RIDÍCULO!”, disparou Malafaia, com trechos em caixa alta.
Dirigindo-se a Eduardo, Malafaia continuou: “Eu fui um dos principais apoiadores do seu pai na campanha. Continuo apoiando e peço a Deus que ele faça um grande governo em prol do povo brasileiro. Você como político tem muito que aprender. Para começar aprenda a respeitar aliados e deixe de bajular guru”.
A crítica de Malafaia é compartilhada de forma ainda mais contundente pelo blogueiro, ativista e escritor Julio Severo, considerado um dos conservadores pioneiros no combate ao movimento homossexual e à esquerda política no Brasil, razão pela qual precisou sair do país para evitar consequências da perseguição que vinha sofrendo.
Julio, que é evangélico, é um crítico ferrenho da aproximação exacerbada de Jair Bolsonaro com Olavo de Carvalho. Para o blogueiro, o filósofo e “guru”, como o define a mídia, representa uma ameaça à estabilidade do governo.
A razão disso seria porque Olavo teria seu pensamento formulado a partir das influências do filósofo francês René Guénon, considerado um místico/ocultista, defensor da “unidade transcendente das religiões”, e por tal filosofia ser compartilhada pelo ex-estrategista político da Casa Branca, Steve Bannon.
Bannon e Carvalho se reuniram duas vezes este ano e ambos se encontraram com Jair Bolsonaro e sua comitiva no último domingo, recebendo ambos amplo destaque da mídia nacional.
Para Julio, a aproximação com Bannon também é fruto da influência do guru brasileiro sobre o governo, algo que, segundo a Folha de São Paulo, foi visto de forma negativa até pela Casa Branca.
“Integrantes do governo americano afirmam não entender a obsessão de aliados de Bolsonaro por Bannon, que, segundo eles, não tem mais influência no governo e é detestado por Trump”, informa o jornal.
Em 2017 Bannon se envolveu na investigação de uma suposta influência dos russos no resultado das eleições americanas, onde ele teria chamado um dos filhos de Trump de “traidor”, por ter, supostamente, conseguido informações prejudiciais à campanha de Hillary Clinton.
Por causa disso, então, o estrategista político foi demitido da função. Contudo, ele negou todas as acusações, surgindo dai o atrito com o governo.
Demérito dos evangélicos
Em um artigo publicado em 25 de janeiro desse ano, Julio Severo já havia destacado à aproximação da família Bolsonaro com Olavo de Carvalho, sugerindo haver um certo demérito em relação ao imenso apoio dado pelos evangélicos.
O blogueiro, que escreve em vários idiomas e já criticou diversas vezes Olavo de Carvalho por negar a inquisição, explicou que a vitória de Jair Bolsonaro como resultado da onda conservadora evangélica foi reconhecida até pela mídia internacional, mas que isso não estava sendo observado pelos Bolsonaros.
“Segundo a imprensa americana, brasileira e israelense, sua vitória [de Bolsonaro] foi especialmente graças aos evangélicos — um fenômeno que também aconteceu na eleição de Trump”, diz Julio em seu blog.
“Mas Bolsonaro está hipnotizado. Ele e seus filhos propagandeiam Carvalho como vital para sua eleição, como só os adeptos de uma seita estranha poderiam fazer, embora alguns adeptos de Carvalho tenham admitido publicamente que a atual onda conservadora no Brasil é evangélica”, afirma.
O jornalista Rodrigo Constantino também fez uma observação quanto ao aparente desprezo dos Bolsonaros sobre o contexto político e protagonismo dos evangélicos, de forma decisiva, para a vitória nas eleições presidenciais.
“Essa narrativa [que exalta o ‘guru’ Olavo], interessante para o olavismo, ignora diversos fatores relevantes para a eleição de Bolsonaro, como o antipetismo, a Lava Jato e a força evangélica contra o ‘progressismo’ exacerbado da esquerda. Foi essa a mensagem que Malafaia divulgou nas redes”, escreveu o jornalista na Gazeta do Povo.
“Eduardo, de fato, se excedeu”
Quem também comentou o olavismo de Eduardo Bolsonaro foi o pastor e deputado federal Marco Feliciano, outro nome de peso que figura entre os maiores apoiadores políticos de Jair Bolsonaro.
“Eduardo Bolsonaro, por não ser evangélico, talvez desconheça que somos 40% da população brasileira e apoiamos, com voto, maciçamente seu pai”, disse Feliciano o Antagonista.
O pastor reconheceu que o “guru” teve sua parcela de contribuição, mas não sobre os evangélicos, e que a união dos cristãos foi, na verdade, a grande responsável pela vitória do governo atual.
“Olavo, por sua vez, foi, sim, um dos maiores influenciadores dos não evangélicos. A soma dos dois grupos pavimentou o caminho da vitória de Bolsonaro”, destaca. “Eduardo, de fato, se excedeu em sua fala, mas não o fez por mal. Ele tem sofrido represália da ala militar. Este governo precisa dar certo: é só o que queremos”.