Assumidamente conservador como parlamentar, o pastor Marco Feliciano (PSC-SP) falou sobre a participação da igreja na política e suas pretensões enquanto deputado-federal numa entrevista concedida à revista Exibir Gospel.
Feliciano, que anteriormente era contrário ao envolvimento da igreja com a política, explicou que se candidatou “para desfazer um erro” cometido por ele, quando pregava contra a participação de cristãos nessa área: “Vi nascer a PLC 122, que é a Lei da Homofobia, um absurdo que até hoje apavora os pastores e padres do Brasil. Faltaram homens determinados a bloquear estas ameaças e me senti culpado por isso. Então, como nunca é tarde pra se arrepender de algo errado, eu resolvi me candidatar e provar a todos que é possível ser um político e continuar comprometido com a retidão e cheio do Espírito Santo”, relatou.
Dentro de sua ambição política, o pastor afirmou que tem como meta “reconquistar o respeito e a credibilidade do parlamento brasileiro e implantar, pela fé e com muito trabalho, o governo do justo na nossa nação tupiniquim”. O parlamentar e líder religioso acredita que a força do eleitorado evangélico poderá levar um político cristão ao cargo mais alto da República: “Poderemos num futuro próximo eleger um presidente evangélico”, afirma.
O motivador de sua candidatura e maior alvo de combate, o projeto de lei que criminaliza a homofobia é em seu ponto de vista, uma forma de censura dissimulada: “O PLC 122 é um engodo e dentro dele existe um sem número de ataques diretos ao direito de expressão, de liberdade religiosa e à fé cristã”, e cita a maior de suas preocupações sobre o assunto: “Um dos artigos da Lei da Homofobia diz que qualquer publicação tida como preconceituosa à prática homoafetiva deve ser censurada. Bom, o que faremos com a Bíblia?”, questiona o pastor.
Marco Feliciano acredita que se os parlamentares da Frente Evangélica se comprometessem de fato com a luta contra o PLC 122, provavelmente a questão estaria encerrada: “Se todos os membros da bancada focassem apenas no combate aos males que atingem a família, acredito que seríamos imbatíveis. Mas infelizmente existem outros interesses políticos e há ainda aqueles que usam a plataforma evangélica apenas para serem eleitos e depois nem votam conosco”, critica.
Dentre “os males” citados por Feliciano, está a questão da legalização do aborto. O deputado bate forte no partido da presidente Dilma Rousseff, do qual seu partido é aliado, em relação a esse assunto: “Isso[legalização do aborto] vem do Partido dos Trabalhadores (PT), o partido que governa esse país há tantos anos. Basta entrar no site do PT para conferir. Qualquer um pode entrar ali e confirmar que no plano de governo deles a descriminalização do aborto é apresentada como meta a ser alcançada! E isso é defendido sob a mentira de que o aborto é uma questão de saúde pública. Querem nos transformar em infanticidas!”.
Confira abaixo a íntegra da entrevista concedida pelo pastor Marco Feliciano à revista Exibir Gospel:
Como foi sua infância em Orlândia?
Eu sou filho de José Antonio Novo e Lucia Maria Feliciano. Tive uma infância humilde e desde pequeno precisei trabalhar como vendedor de picolé para ajudar em casa. Eu lembro muito bem que no meu aniversário de sete anos fui presenteado pelo meu pai com uma caixa de engraxate. Ele disse que o trabalho ajudaria na formação do meu caráter.
Quando teve início sua jornada espiritual?
Eu me converti aos 13 anos. Antes já havia sido coroinha. O desejo no coração de conhecer mais a Deus me levou a buscar profundamente o conhecimento do Senhor. Por isso sou formado no curso de teologia da Faculdade Teológica de Ciências Humanas e Sociais (FAETEL), e pós-graduado no Seminary Hosanna and Bible School, onde obtive meu Mestrado em Teologia com honras.
E como veio o chamado pastoral?
Foi quando entrei pela primeira vez numa Assembleia de Deus, ainda no interior de São Paulo. Ao ouvir o pregador, meu coração disparou e naquele momento eu sabia que seria um pastor. Hoje sou pastor presidente da Assembleia de Deus Catedral do Avivamento, sediada em Orlândia, denominação que já conta com seis templos. Tem sido uma bê nção! Milhares de vidas foram tocadas através dos sermões que preguei em mais de 60 países do mundo, em todos os continentes, e em mais de 1.600 cidades no Brasil.
Por que o senhor decidiu ingressar na política?
Para desfazer um erro que cometi no passado: preguei contra a igreja se envolver com política. E, nesse ínterim, vi nascer a PLC 122, que é a Lei da Homofobia, um absurdo que até hoje apavora os pastores e padres do Brasil. Faltaram homens determinados a bloquear estas ameaças e me senti culpado por isso. Então, como nunca é tarde pra se arrepender de algo errado, eu resolvi me candidatar e provar a todos que é possível ser um político e continuar comprometido com a retidão e cheio do Espírito Santo.
Quais são as lutas que o senhor trava na Câmara Federal?
Como evangélico, estou sempre envolvido no enfrentamento do ativismo pró-gay, pró-aborto e pró-descriminalização das drogas, entre outros.
Por que o senhor é contra a criminalização da homofobia?
Sou contra qualquer tipo de crime, crueldade e preconceito contra quem quer que seja, todavia é uma falácia dizer que o Brasil é um país homofóbico. Fiz um estudo que mostra que dos 50 mil assassinatos no Brasil em 2010, 270 foram tidos por crimes de homofobia. Mas 70% destes eram crimes passionais, provocados por parceiros gays. Na verdade, querem usar essa ‘cortina de fumaça’ para esconder o verdadeiro intuito deste projeto, que é desestruturar a família em sua base.
Não houve exagero na reação dos evangélicos à Lei da Homofobia? Ela realmente é uma forma de censura?
Não há exagero algum! O PLC 122 é um engodo e dentro dele existe um sem número de ataques diretos ao direito de expressão, de liberdade religiosa e à fé cristã. Um dos artigos da Lei da Homofobia diz que qualquer publicação tida como preconceituosa à prática homoafetiva deve ser censurada. Bom, o que faremos com a Bíblia? Além disso, imagine se ela for aprovada: se duas pessoas do mesmo sexo entraram numa igreja e pedirem o casamento, o sacerdote terá de celebrar a cerimônia; caso se negue, irá para prisão como crime inafiançável. Há muitas outras aberrações. Eu quero enfatizar que os homossexuais não são o problema. O ativismo gay é o problema.
Muitos especialistas diferenciam o casamento religioso da união civil. Há um entendimento de que, no caso da união civil, não cabe ao Estado negar esse direito com base em princípios religiosos. O senhor discorda?
De fato, há uma diferença. Não há como negar que no caso de pessoas que criam um patrimônio juntas, na morte de uma, a outra merece ficar com a herança. Porém, o que eu vejo é uma porta aberta para que outros intentos sejam conquistados. Se dermos a mão, vão querer o pé, e se dermos o pé…
O senhor e outros deputados estão em constante luta contra o lobby LGBT. É possível fazer isso sem cair no puro preconceito?
De nossa parte, sim. Mas da parte de lá… Os ativistas gays seguem uma agenda mundial e são doutrinados pelo fascismo, uma doutrina cujo maior ensinamento é: ‘transforme seu inimigo em um monstro’. O fascismo diz: apelide o seu inimigo com uma palavra preconceituosa, como homofóbico, porque uma mentira dita muitas vezes, e com ênfase, torna-se uma verdade. Sofremos isso, mas não nos intimidamos. Nosso país é conservador!
Na Câmara Federal, o senhor denuncia uma “conspiração global” que pretende desestabilizar a família. O que é essa conspiração?
O mundo globalizado nos transformou em uma grande aldeia. O Brasil segue a Organização das Nações Unidas (ONU), que é progressista e obriga os países a caminharem de acordo com suas expectativas. É de conhecimento de quem estuda política que os recursos naturais estão se extinguindo, e, para preservá-los, há o pensamento obscuro que diz ser necessário brecar o crescimento populacional. E de que forma? Com leis a favor do aborto e do casamento entre pessoas do mesmo sexo…
A descriminalização do aborto sempre aparece na pauta do Congresso de forma disfarçada. Qual é a fonte dessas tentativas camufladas de liberar o aborto no Brasil?
Isso vem do Partido dos Trabalhadores (PT), o partido que governa esse país há tantos anos. Basta entrar no site do PT para conferir. Qualquer um pode entrar ali e confirmar que no plano de governo deles a descriminalização do aborto é apresentada como meta a ser alcançada! E isso é defendido sob a mentira de que o aborto é uma questão de saúde pública. Querem nos transformar em infanticidas!
Como o senhor avalia declarações do líder da Igreja Universal, bispo Edir Macedo, em favor do aborto?
Embora eu respeite a trajetória religiosa e o histórico pessoal do bispo Edir Macedo, as declarações dele sobre esse assunto foram irresponsáveis e negligentes.
Nos EUA muitos conservadores se convenceram da ineficiência da “guerra às drogas” e hoje defendem a legalização delas. Até o pastor ultraconservador Pat Robertson declarou ser favorável à legalização da maconha. Qual é sua posição sobre o tema?
Jogar a tolha nos torna covardes. Legalizar a maconha ou qualquer outro tipo de droga é assinar um atestado de mediocridade. O que precisamos é de iniciativas de prevenção, políticas públicas que façam os brasileiros entenderem que vivemos uma epidemia! Quando enxergarmos as drogas como uma epidemia talvez acordemos.
O que seria, então, a solução ideal para a questão das drogas?
É preciso endurecer ainda mais nosso código penal em cima dos narcotraficantes, e não legitimá-los. Não há outra alternativa. Porque legalizar seria como deixar nossos filhos saltarem de um avião sem paraquedas. Você consegue imaginar um pai saindo no portão de sua casa e dando de cara com um marmanjo fumando maconha na frente de seus filhos? Consegue imaginar alguém cheirando uma carreira de cocaína na frente da sua casa, e isto de forma legalizada? É inaceitável!
O deputado Audifax Barcelos apresentou projeto de lei para que apenas as igrejas que tiverem transparência em suas contas tenham isenção fiscal. O senhor concorda?
Eu concordo em gênero, número e grau! Tenho recebido denúncias de denominações que são usadas para lavagem de dinheiro. Se houvesse uma prestação de contas mais apurada, como diz a proposta do nobre deputado Audifax, denúncias como essas sequer existiriam.
O senhor defende a obrigatoriedade do ensino religioso. Não é uma interferência do Estado numa área da vida da criança que cabe apenas a família?
Que família? Esta do século 21 na qual o pai e mãe trabalham em excesso, e a baba eletrônica, que é a TV, doutrina seus filhos? Esta família destruída? Esta família desestruturada na qual cada um fica em um cômodo da casa, com seus eletrônicos nas mãos, todos viciados em Facebook, Twitter, MSN? Não é ingerência, é prevenção! As crianças que são criadas num ambiente de respeito ao divino e ao sagrado escapam das drogas, da prostituição, e tornam-se seres humanos melhores. Isso é fato.
Como avalia a atuação da Frente Parlamentar Evangélica?
Poderíamos ser mais eficazes. Se todos os membros da bancada focassem apenas no combate aos males que atingem a família, acredito que seríamos imbatíveis. Mas infelizmente existem outros interesses políticos e há ainda aqueles que usam a plataforma evangélica apenas para serem eleitos e depois nem votam conosco.
Quais são suas principais vitórias políticas até agora?
Em dois anos de mandato, eu fui um dos articuladores que conseguiram desestabilizar o famoso ‘kit gay’. E também participei do esforço para que toda tentativa de legalizar o aborto fosse bloqueada. Além disso, a Lei Geral da Copa teve nossa interferência direta contra a venda de bebidas em estádios. Eu tenho conseguido, nas comissões em que atuo, blindar a família e a igreja contra projetos perniciosos. E olha que são muitos! Somente os ativistas gays têm cerca de 180 projetos que os beneficiam tramitando nas comissões permanentes da Câmara dos Deputados.
Quais são seus principais desafios políticos para o futuro?
A minha meta é a de reconquistar o respeito e a credibilidade do parlamento brasileiro e implantar, pela fé e com muito trabalho, o governo do justo na nossa nação tupiniquim. Poderemos num futuro próximo eleger um presidente evangélico.
Mas muitos evangélicos estão angustiados diante de tantas notícias sobre corrupção e impunidade em Brasília. O que o senhor tem a dizer a eles?
Que é ruim essa politicagem, e temos consciência disto. Mas estamos trabalhando para desconstruir essa imagem de que os políticos são bandidos. Quero dizer a eles que um novo grupo de políticos está se levantando. São pessoas do bem, que trabalham de fato, e eu faço parte deste grupo que busca as iniciativas populares, a transparência, a lei da ficha limpa. São passos na caminhada para transformar nossos políticos, e eu acredito que podemos mudar. Acreditem também!
Por Tiago Chagas, para o Gospel+